Ajax 8:2 Feyenoord, e agora?

Kali Ma Mais 09/18/2020
Tovar FC

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Ajax 8:2 Feyenoord, e agora?

Cruijff. O nome impõe admiração, cultiva paixão, ultrapassa fronteiras. É intemporal. Da cabeça de Johan saem as ideias mais mirabolantes, jamais vistas. Dos seus pés as jogadas mais inverosímeis. É a revolução do futebol em marcha. Primeiro no Ajax, depois na selecção holandesa. O estilo apanha-nos desprevenidos a todos. Até aos holandeses. É um tipo de magia, construída com base na ordem e no progresso de onze cabeludos ao longo de 90 minutos. Ou 120, como naquele 3:0 ao Benfica após prolongamento, para a Taça dos Campeões.

O estilo é libertador. Pensa por ti, executa para o bem da equipa. O futebol reinventa-se. Culpa de Cruijff, o mais talentoso executante de um futebol puro, descontraído, ousado. Em 1983, já com 36 anos, Johan é rei e senhor do Ajax. Líder do balneário por direito próprio, junta com alguma naturalidade o campeonato e a Taça da Holanda. Dobradinha. Nesse Verão, o Ajax vira-lhe as costas. Nem uma proposta nem uma conversa. Nada de nada. Cruijff sente o desprezo. Se fosse outro qualquer, acusaria o golpe. Como Johan é Cruijff, o maior, há que olhar em frente. Aparece o Feyenoord.

Ponto prévio: o Feyenoord é o primeiro clube holandês a sagrar-se campeão europeu (1970) e mundial (1970). Só que agora, em 1983, está longe dos holofotes da fama e até é ultrapassado pelos emblemas da ilustre classe média, como o PSV, vencedor da Taça UEFA 1978 e o AZ ’67 Alkmaar, finalista da Taça UEFA 1981, perdida para o Ipswich de Bobby Robson. O Feyenoord nada risca no futebol holandês. Até chegar Cruijff para se juntar a um plantel com nomes jovens como o fulgurante Gullit e o guarda-redes Hiele, ambos campeões europeus de selecções em 1988.

Voltemos a 1983, o ano em que o Feyenoord começa por ganhar cinco dos seis primeiros jogos da 1.ª divisão. À 7.ª jornada, jogo grande em Amesterdão. Sai a sorte grande ao Ajax, vencedor por categórico 8:2 com direito a hat-trick de Van Basten. Cá fora, Cruijff é um cidadão tranquilo. ‘Não perdemos nada de especial, foi só um jogo.’ Picam-lhe, claro. E ele responde à letra. ‘Ainda vamos ser campeões’. À falta de gargalhadas sonoras, porque uma instituição é uma instituição, há risos interiores. Tanto dos jornalistas como dos adeptos do Ajax. Que, a propósito, insultam os do Feyenoord e vice-versa, ao ponto de obrigar a polícia a intervir com energia.

Feitas as contas, golo a golo, esse jogo no dia 18 Setembro é assim

1:0 Jesper Olsen (5’)

2:0 Van Basten (14’)

3:0 Boeve (23’)

3:1 Houtman (27’)

3:2 Duut (33’)

4:2 Molenaar (61’)

5:2 R. Koeman (64’ p)

6:2 Van Basten (75’)

7:2 Jesper Olsen (84’)

8:2 Van Basten (87’)

Siga a marinha. Na semana seguinte, o Feyenoord recompõe-se com 2:0 vs Go Ahead Eagles. Bis de Gullit, um portento de músculo e técnica. Na véspera, o Ajax joga fora vs Haarlem. Ao intervalo, 0:3. Golos de Ophof, Rijkaard e Koeman. No fim, 3:3. Böckling, Verschoor e Böckling garantem o extraordinário empate entre os minutos 74 e 84. O Ajax acumula mais erros nas duas jornadas seguintes e permite a ultrapassagem do Feyenoord, que acumularia uma série de 12 vitórias nos 15 jogos seguintes. Até ao 1:0 em Groningen.

A derrota é a 19 Fevereiro, só quatro dias depois de um jogo desempate para os 1/8 final da Taça da Holanda, no qual o Feyenoord afasta o Ajax após prolongamento por 2:1. Marca Houtman, empata Van Basten, decide Houtman aos 98’, de penálti. Sim, o Houtman do Sporting daí a uns anos. No Feyenoord de Cruijff, é um jogador diferente, titular na selecção holandesa e com capacidade para fazer a diferença em lances de bola parada, sejam penáltis ou livres directos.

Animado com a qualificação para os ¼ final da Taça, o Feyenoord perde em Groningen. Disso se aproveita o Ajax para reduzir a diferença para um ponto. Na jornada seguinte,  Feyenoord vs Ajax no De Kuip. Acotovelam-se 58 mil pessoas para assistir a uma jornada histórica. Aos 12 minutos, Cruijff faz o 1:0. Aos 14’, Gullit amplia. Acaba 4:1. Contra todas as previsões, o Feyenoord é campeão a duas jornadas do fim, com o inevitável Cruijff a abrir o caminho para (mais) uma goleada, 5:0 em Tilburg vs Willem II. Com o embalo, o Feyenoord apura-se quatro dias mais tarde para a final da Taça com bis de Gullit e 4:1 em Haarlem. Na final realizada no De Kuip, o suplente Houtman entra aos 69’ e desata o nó aos 72’ vs Fortuna Sittard (1:0). É a dobradinha. A segunda seguida para Cruijff. Agora sim, Cruijff sai em beleza.

Contas feitas do Feyenoord na 1.ª divisão 1983-84

Top 5 de minutos

3016 Wijnstekers

2970 Hiele

2916 Gullit

2821 Cruijff

2808 Hoekstra

Top 5 de golos

21 Houtman

19 Hoekstra

15 Gullit

11 Cruijff

8 Jeliazkov

Numa homenagem a Cruijff, os 14 resultados mais non-sense em 1983-84

Go Ahead Eagles 4:6 Willem II

Ajax 7:2 Helmond

Utrecht 7:4 Excelsior

Roda 7:3 Zwolle

Utrecht 6:2 Zwolle

Utrecht 6:4 Helmond

Utrecht 1:7 AZ Alkmaar

Feyenoord 7:2 Haarlem

Excelsior 7:4 Utrecht

Sparta 8:1 Drechsteden

Groningen 6:2 AZ Alkmaar

PSV 7:1 Go Ahead Eagles

Helmond 2:6 Zwolle

Ajax 7:2 Drechsteden

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