Great Scott #123: Qual o jogo organizado por ocasião da primeira visita da rainha Isabel II a Lisboa?
Belenenses vs Newcastle
Isabel II é coroada Rainha de Inglaterra em 1952 e um dos primeiros chefes de Estado a visitá-la é o português Craveiro Lopes, em 1955. Dois anos depois, retribui essa gentileza e embarca no Royal Yatch Britannia rumo ao porto de Lisboa. De 18 a 23 de Fevereiro, Isabel II distribui sorrisos em Lisboa, Porto, Nazaré, Alcobaça e Batalha. Ao seu lado, António Oliveira Salazar aproveita para aliviar a pressão internacional, especialmente nas Nações Unidas, onde a política colonial portuguesa é colocada em causa frequentemente.
No segundo dia de visita, Isabel II visita o bairro do Restelo e, claro está, o estádio. Nessa noite, a partir das 22 horas, o Belenenses joga com o Newcastle, equipa inglesa de enorme gabarito e vencedora de três Taças de Inglaterra na década 50. Convidamo-lo a ver os preços para a jornada nocturna: 35 escudos no camarote, 40 na central, 25 nas laterais, 17,50 na cabeceira sul, 12,50 na cabeceira norte mais entre 10 e 6 para os sócios. Nas bancadas, o som do inglês mistura-se facilmente com o português e nem a leve chuva afasta os interessados desta jornada luso-inglesa.
No relvado, há magia. O extremo Bobby Mitchell abre o livro e dá espectáculo. Os jornalistas portugueses deliciam-se. Ora leiam lá este pedaço de crónica de Luís Alves, no “Diário de Lisboa”. “O homem aparentemente desinteressado e negligente deu um verdadeiro recital no Restelo. Aqueles pés de Mitchell tinham magia e era tão perfeito que até fintava com os calções. A escala de dribles e fintas foi corrida de alto a baixo e os centros pareciam medidos a compasso.” Quem sofre com este génio? Rosendo, o lateral-direito. Ninguém lhe cai em cima, nem pode. Voltamos ao “Diário de Lisboa”. “Rosendo tem até razão para se considerar muito feliz pois estes 90 minutos de lição de Mitchell devem ter-lhe dado mais ensinamentos que muitos treinos.”
E o resultado? Dois-um para o Belenenses. Contra a corrente do jogo, Tito faz o 1-0. Logo depois, penálti inexistente para o Belenenses, convertido por Pellejero. Na segunda parte, outro penálti inventado pelo árbitro primeiro caseiro-depois-anti-caseiro a resultar no 2-1 de Mitchell. Esse mesmo, o tal.