Great Scott #130: Qual é a última selecção a jogar de a 1 a 11 em Mundiais?

Great Scott Mais 10/05/2020
Tovar FC

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Great Scott #130: Qual é a última selecção a jogar de a 1 a 11 em Mundiais?

Holanda 2014

É fascinante, o mundo dos números nas camisolas. É um território vasto, quase infinito para explorar. Há imensas nuances, curiosidades e excentricidades. Sobretudo quando tanto a UEFA como a FIFA abrem as comportas. Aí é o vale-tudo, desde Baía vestir o 99 no Porto ou Zamorano o 1+8 no Inter. A partir de meados dos anos 90, o futebol de 1 a 11 como o conhecemos deixa de existir. Pura e simplesmente.

Só que a Holanda, a boa e velha Holanda, dá-nos uma alegria. Um toque de regresso ao passado, no Mundial brasileiro em 2014 – curiosamente, o outro Mundial no Brasil fora o último de 1 a 11; a partir de 1954, a numeração tem de ser obrigatoriamente entregue à FIFA mediante um prazo.

Rebobinemos a cassete: a Holanda chega ao Rio de Janeiro às cinco da manhã do dia 6 de Junho, instalam-se no hotel Caesar Park em Ipanema às sete-e-pouco e avançam para a praia ainda antes do almoço. A rotina repete-se diariamente, a Holanda gosta da areia e do mar. É costume vê-los (a eles, jogadores) a banhos. Ou a bater bola com raquetas (aqui, frescobol). Ou a dar toques com uma bola de futebol (embaixadinhas). Ou a apanhar sol. Ou a ir às compras em Ipanema, às lojas da Nike, Louis Vuitton etc. etc. Ou a visitar o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar. Ou a aparecer em favelas em acções de caridade social. Como qualquer comum mortal.

A Holanda é a campeã mundial da descontracção, da boa vida. Enquanto as restantes 31 selecções se fecham em copas nos centros de treinos, a Holanda dá um espectáculo animado na orla carioca. Quando os jogadores saem do hotel para as actividades extracurriculares têm de driblar os adeptos. Ou não? Nada disso, os holandeses param, distribuem autógrafos e posam para fotografias. Durante uns bons 20 minutos. Não há quem perca a cabeça por isso, seja qual for o jogador, do terceiro guarda-redes a Robben. Este até se mete com o pessoal e atira água aos jornalistas.

A agitação é engraçada, curiosa para quem não está habituado. Aqueles mais velhos e experientes, dizem-nos que a Holanda é assim desde o Mundial-74 na RFA. “O sistema de segurança é muito rígido por conta do atentado terrorista nos Jogos Olímpicos-72”, conta-nos o jornalista brasileiro João Carlos. “Há tanques de guerra nos aeroportos, há soldados com cães nas portas dos hotéis, há muros altíssimos nas concentrações. Todos são assim, menos a Holanda: portas abertas para familiares, adeptos e jornalistas. O ambiente era igual ao futebol: sem marcação individual nem frescuras, era jogo limpo, bonito. Por isso é que ainda hoje os brasileiros admiram os holandeses.”

E é mesmo verdade, a quantidade de adeptos brasileiros vestidos de laranja à porta do Caesar Park é incontável. Dos mais novos aos mais graúdos, tipo quarentões, todos eles fazem hora para ganhar uns segundos de atenção dos seus ídolos. Van Persie é o mais requisitado, seguido por Robben, Sneijder e Kuyt, depois Kluivert. Como? Kluivert é o treinador de avançados e ninguém o esquece como autor do 1:1 a Taffarel na ½ final do França-98. Mal ele mete um pé fora do hotel, é uma euforia generalizada. É um caso à parte, a Holanda.

Faltam três dias para o jogo dos quartos-de-final com a Costa Rica e a agitação é imensa no hotel. Van Persie sai do elevador com Robben e saem do hotel na maior das calmas, com um largo sorriso estampado nos rostos. Avançam em direcção à praia, olham para a esquerda e atravessam, sorriem e acenam para quem os chama lá ao longe, olham para a direita e atravessam, mais sorrisos e acenos para outros adeptos. Entram na areia a falar alegremente e passeiam-se durante largos minutos.

Eis a Holanda de Van Gaal, o mais sisudo dos seleccionadores no Brasil-2014 – a par de Fernando Santos e Paulo Bento, claro está. Só que o bom e velho Van Gaal é um homem do passado e brinda-nos com uma surpresa do além. No jogo de abertura da fase de grupos, com a campeã mundial Espanha, a Holanda apresenta-se em Salvador de 1 a 11. Meeeesmo.

1 Cillessen

2 Vlaar

3 De Vrij

4 Indi

5 Blind

6 De Jong

7 Janmaat

8 De Guzmán

9 Van Persie

10 Sneijder

11 Robben

É um achincalho. Futebol total, 5:1. Cinco dias depois, a Holanda faz o segundo jogo, vs Austrália, em Porto Alegre. Outra vitória (3:1) e apuramento garantido para a fase seguinte. Van Gaal repete o onze. Um por um. Que delícia. Preste bem a atenção, é a última vez.

1 Cillessen

2 Vlaar

3 De Vrij

4 Indi

5 Blind

6 De Jong

7 Janmaat

8 De Guzmán

9 Van Persie

10 Sneijder

11 Robben

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