Ronaldo, 200 internacionalizações
Sábado, 24 Fevereiro 2001.
Em Florença, os altifalantes anunciam o 10 do Brescia e é o delírio – Roberto Baggio. Depois anunciam o 10 da Fiorentina e até a barraca abana – Rui Costa. Acaba 2:2, com bis de Baggio. Pelo meio, um golo de Nuno Gomes.
Sábado, 24 Fevereiro 2001.
Na Corunha, há dois golos portugueses na primeira parte do Deportivo vs Madrid. Primeiro é Hélder na própria baliza, de cabeça. Depois é Figo, de penálti. Ao intervalo, 0:2. Na segunda parte, Djalminha e Tristán fixam o 2:2.
Sábado, 24 Fevereiro 2001.
Em Lisboa, o único jogo antecipado da 1.ª divisão. No José Alvalade, o campeão Sporting recebe o Gil Vicente de Luís Campos. Os golos só aparecem a partir dos 72 minutos, através de César Prates, Acosta, André e JVP. Feitas as contas, 3:1.
Sábado, 24 Fevereiro 2001.
Em Torres Novas, há jogo entre Portugal e África do Sul. É um torneio sub15. Na apresentação das equipas, o nosso 9 chama-se Cristiano Ronaldo. Das mil e poucas pessoas presentes no estádio, todas aplaudem. Por patriotismo, claro. Poucos ainda sabem quem é ele, em estreia pela selecção nacional.
O onze português apresenta Cristophe (Sporting) na baliza, Steven Rodrigues (Boavista), Filipe Duarte (Benfica), André Carvalho (Rio Ave) e Pedro Araújo (Sporting) na defesa, Hugo Monteiro (Boavista), Fernando Alexandre (Benfica) e Costinha (Vitória FC) no meio-campo, Diogo Andrade (Belenenses), Ronaldo (Sporting) e Ricardo Costa (Porto) no ataque. Curiosidade maiúscula: só Ronaldo chega aos AA. De Portugal, queremos dizer – Filipe Duarte representa Macau e até marca o golo da vitória vs Sri Lanka (1:0) na qualificação para o Mundial-2022.
Adiante. Ronaldo é a figura mais destacada do grupo. Agora, claro. Na altura é só mais um, embora seja uma figura do alto para quem o conheça de ginjeira. Como o seleccionador Carlos Dinis. ‘Já ia aos juniores e era evidente que poderia guindar-se a um patamar elevado. Havia potencial para chegar longe no futebol mundial.’ Diz o director federativo Carlos Godinho de sua justiça. “Era um magricela quando apareceu aqui, mas cresceu depressa e saltou dos sub-17 para os sub-20 no mesmo ano.”
A ideia é partilhada por Fernando Alexandre. “Quase um trinca-espinhas. Agora é um touro. Nesse tempo, o mais entroncado era o Diogo Andrade. Ao nosso lado, parecia o Robocop. Talvez por isso me recorde do golo dele [de Diogo Andrade, aos 20 minutos], num contra-ataque rápido que o deixou sozinho à frente do guarda-redes. Do 2-0, não me lembro nada.” O 2-0 é de Ronaldo, aos 40 minutos. Um golo na estreia, típico.
Reforçamos a ideia, 24 Fevereiro 2001. Dois anos e meio depois, em Agosto 2003, Ronaldo estreia-se na selecção principal, lançado por Luiz Felipe Scolari. O salto é vertiginoso. Entre esses dois jogos, Ronaldo faz-se internacional nos sub17, sub20 e sub21. Ganha o Torneio de Toulon, em Maio 2003. Na final, 3-1 vs Itália com golos de João Paiva (2) e Danny. O onze de Rui Caçador engloba Bruno Vale; Miguel Garcia, Zé Castro, Pedro Ribeiro e Vítor Rodrigues; Raul Meireles, Faria, Davide e Ronaldo; Lourenço e Hugo Almeida. O torneio começa precisamente com um golo de Ronaldo, vs Inglaterra.
Prepare-se, a partir daqui o seu caminho é uma maravilha inaudita em matéria de golos em fases finais. Em 2004, Scolari convoca-o para os 23 do Europeu. É o número 17 e começa no banco. Ainda salta a tempo de participar no jogo de abertura, com a Grécia, no Dragão. Além de ser o autor do penálti sobre Seitaridis no 2:0 de Basinas, é ele quem fixa o 2:1, de cabeça, após canto de Figo. Marcaria ainda à Holanda, na meia-final, outra vez de cabeça, a canto de Deco. O rapaz acha-se incombustível e interrompe as férias para ir aos Jogos Olímpicos. Ala para a Grécia (olha olha), o berço dos Jogos Olímpicos.
Lá, Portugal é eliminado na primeira fase, num grupo acessível com Iraque, Marrocos e Costa Rica. Contabilizamos duas derrotas por 4-2 e uma só vitória, com golo de Ronaldo (2:1 a Marrocos). No Mundial-2006, Cristiano pede ao capitão Figo para marcar o penálti do 2:0 ao Irão. A bola entra e o 17 aponta para o céu, em jeito de homenagem ao seu pai. O regabofe continua no Euro-2008, já com o 7 nas costas com a retirada de Figo, com golo à Rep Checa de Petr Cech, a quem já havia marcado no mês anterior, para a final da Liga dos Campeões (United vs Chelsea).
No Mundial-2010, o 6:0 à Coreia do Norte é dele, num misto de sorte (ressalto) e génio (malabarismo). No Euro-2012, bis à Holanda (2:1) no apuramento para os ¼ final e golo à Rep Checa (1:0). Seis fases finais. No Mundial-2014, um golo vs Gana (2:1) na inglória despedida ao Brasil, ainda na fase de grupos. No Euro-2016, a glória em todo o seu esplendor. Falha um penálti vs Áustria (0:0), marca dois golos à Hungria (3:3) e eleva-se mais alto que todos para o 1:0 vs Gales, na ½ final.
A Taça das Confederações-2017 também faz parte do seu passaporte, com golos vs Rússia e Nova Zelândia. Segue-se o Mundial-2018: hat-trick à Espanha e golo de cabeça vs Marrocos. Passa um ano e Portugal ganha a Liga das Nações, no Dragão. Se a final vs Holanda é resolvida por Gonçalo Guedes, a ½ vs Suíça é um fartote só visto: Ronaldo, Ronaldo e Ronaldo. Hat-trick, mais um.
E aí vão 11 fases finais seguidas a marcar. Seguir-se-á o Euro-2021, a Liga das Nações-2021 e o Mundial-2022. Até lá, Ronaldo fixa-se hoje em mais um recorde, o do primeiro português a chegar às 200 internacionalizações, todos os escalões incluídos. Para trás, cada vez mais longe da concorrência, Figo (187), Simão (158), Nuno Gomes (143) e Quaresma (139), só para fechar o top 5.