Great Scott #135: Qual é a equipa escocesa com mais títulos europeus?
Aberdeen
Celtic? Rangers? Baaaaaaahhhhhh.
Ullevi, Gotemburgo, 11 Maio 1983. A Suécia é um país habituado a grandes cometimentos. Antes (1958), coroa o rei Pelé no Mundial. Depois (1992), coroa a Dinamarca no Europeu. Pelo meio, o primeiro título internacional de Alex Ferguson.
Vencedor da Taça da Escócia com um espantoso 4:1 vs Rangers, o Aberdeen sela o apuramento para a Taça das Taças por mérito próprio. Começa na pré-eliminatória, como o Braga, e só acaba na Suécia. Elimina Sion (11:1 no geral), Dínamo Tirana (1:0), Lech Poznan (3:0), Bayern (3:2) e Waterschei (5:2). Na final, o favorito Real Madrid com nove espanhóis (entre eles, o lateral-esquerdo José Antonio Camacho), um alemão (Stielike) e um holandês (Metgod). No banco, Alfredo di Stéfano. Esse mesmo, o único a sagrar-se campeão argentino pelos dois grandes (Boca 1969, River 1981) e já vencedor de uma Taça das Taças (Valencia 1980).
O Aberdeen é uma equipa de classe média escocesa, sem expressão na Europa, com um onze de escoceses e um semidesconhecido no banco. Chama-se Alex Ferguson, com 41 anos de idade, menos 11 que Di Stéfano. Já campeão escocês pelo Aberdeen em 1980, Alex sabe muito bem o que quer. É ele quem trata de escolher o hotel no meio da floresta, longe do mundo – inclusive WAG’s, acrónimo ainda por inventar sobre esposas e namorada (wifes and girlfriends). Diz o capitão Willie Miller. ‘Estávamos proibidos de falar com as nossas companheiras. A mulher de Dougie Bell, por exemplo, estava grávida. Se ela entrasse em trabalho de parto, telefonaria primeiro ao Fergie do que ao marido’.
Para Gotemburgo, o Aberdeen leva um convidado especial: Jock Stein, vencedor da Taça dos Campeões pelo Celtic em 1967 (Jamor) e o então seleccionador da Escócia. É Stein quem dá a táctica a Alex. ‘Ele disse-me para ir ao balneário do Real Madrid e cumprimentar o Di Stéfano para fazê-lo sentir-se especial.’ Ferguson ouve com atenção e faz tudo à risca. Alex entra no cantinho do Real Madrid e Di Stéfano recebe-o com surpresa. Há até uma fotografia famosa com o escocês risonho e o argentino com o sobrolho franzido.
Quando o jogo começa, num campo empapado pelas chuvas dos últimos dois dias, o Aberdeen atira-se para a frente. Strachan arrisca um pontapé de bicicleta no limite da grande área e a bola é desviada pela trave. Aos 7’, o miúdo Black (19 anos) abre o marcador na sequência de um canto. O Madrid reage de imediato e ganha um penálti, a castigar falta de Leighton sobre Santillana, após atraso de Miller em que a bola acaba por ficar presa numa poça de lama. O capitão Juanito chega-se à frente e empata 1:1.
O Aberdeen arregaça ainda mais as mangas e parte para o ataque. A recompensa pela audácia chega no prolongamento no enésimo ataque. Aos 112 minutos, o suplente Hewitt cabeceia e torna inútil a estirada do até então irrepreensível portero Agustín. Quando se apita pela última vez, os jogadores do Aberdeen abraçam-se como nunca. A aventura continua, sete meses depois. Agora é a supertaça europeia, vs Hamburgo. Na RFA, 0:0. Na Escócia, 2:0. Dois golos na segunda parte, um do central Simpson e outro do avançado McGhee, garantem o título. O segundo europeu do Aberdeen, o único de um clube escocês na dita competição. Já agora, outra nuance em relação à concorrência interna: o Aberdeen conquista o último título europeu para a Escócia, após o tal da Taça dos Campeões 1967 para o Celtic (2:1 vs Inter) e o da Taça das Taças 1972 para o Rangers (3:2 vs Dínamo Moscovo). Obra do Aberdeen de Alex Ferguson.