Nota 10 para um dia à Hitchcock

Mais Stop The Press 10/13/2020
Tovar FC

author:

Nota 10 para um dia à Hitchcock

Sábado, 14 Maio 1994. O Depor treme desde o minuto zero. Aliás, treme há quatro semanas. Na jornada 35, empata 0:0 em Lérida. Uma semana depois, outro 0:0, agora em casa vs Rayo Vallecano. Disso se aproveita o Barcelona, de olho no tetracampeonato. A uma jornada do fim, o Depor afasta o zero e ganha 2:0 em Logroñés. Já o Barcelona vence o clássico em pleno Santiago Bernabéu, 1:0 de Amor aos 77 minutos. Tudo adiado para a última.

Sábado, 14 Maio 1994. Com um ponto de avanço, o Depor (vs Valencia no Riazor) só tem de imitar o resultado do Barcelona (vs Sevilha em Camp Nou). Ao intervalo, o Depor até goza de dois pontos de avanço, porque o Sevilha surpreende com o 2:1, obra de Simeone e Suker. Na segunda parte, Stoitchkov, Romário, Laudrup e Bakero fabricam o 5:2 final. Acaba o jogo e tudo à espera do resultado na Corunha. Ainda 0:0 por lá. Em cima dos 90′, penálti para o Depor. Sem o especialista Donato, entretanto substituído por Alfredo, a bola viaja para os braços do central sérvio Djukic. Poderia ter sido Bebeto, só que as pernas tremem-lhe. As de Djukic também. Nessa tarde, a própria mulher do jogador dissera-lhe isto, só isto. ‘Se surgir a ocasião, nem te passe pela cabeça marcar um pénalti’. Ceca sabe mais disto que todos nós juntos.

Sábado, 14 Maio 1994. Djukic parte para a bola e atira com o pé direito a meia altura, meio frouxo. González adivinha o lado e defende. Acto contínuo, aponta as mãos para o céu e reata o jogo com um lançamento para o contra-ataque. Mar de lágrimas no Riazor, explosão de alegria em Barcelona. Que final épico, nem Hitchcock inventaria um guião assim. Coincidência das coincidências, Djukic sagrar-se-ia campeão espanhol em 2002. Pelo Valencia.

Sábado, 14 Maio 1994. A Liga espanhola é do best. Sem dúvida. E a portuguesa também. Quase ao mesmo tempo dessa pelicula, o Estádio José Alvalade convive com a experiência inaudita de um dérbi com nove golos. Ao segundo classificado Sporting só lhe interessa a vitória para ultrapassar o Benfica, líder com um ponto de avanço. O início é prometedor, 1:0 de Cadete. Segue-se o empate de JVP num extraordinário pontapé fora da área. Figo faz o 2:1 de cabeça, na cara de Neno. Faltam 10 minutos para o intervalo, alguém acredita numa reviravolta. Só JVP mesmo. Pim pam pum, hat-trick. O 2:2 é uma jogada primorosa pela direita em que entorta os rins a Vujacic, o 2:3 é um livre de estratégia em que tudo sai perfeito.

Sábado, 14 Maio 1994. A segunda parte é gloriosa para o Benfica. Mais três golos, nenhum deles de JVP, substituído aos 78 minutos por Rui Águas e cumprimentado pelo treinador adversário Carlos Queiroz. O Sporting fecha a loja aos 80′, por Balakov, de penálti. Acaba 3:6. O Benfica vai ser campeão, o Sporting vai acabar em terceiro, ultrapassado in extremis pelo Porto de Robson.

Domingo, 15 Maio 1994. O jornal A Bola faz uma vénia a JVP, primeiro jogador de sempre a levar nota máxima, 10. No canto superior direito da primeira página, o filme hitchcockiano do tetra do Barcelona.

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *