Careca. ‘E se Maradona jogasse com o pé direito e treinasse todos os dias?’
Há coisas que não lembram ao diabo, um brasileiro a dizer que Maradona é melhor que Pelé. Quem fala assim deveria estar careca de saber que isso é
controverso. E então? O homem nem pestaneja. Careca celebra 60 anos há duas semanas, Maradona faz hoje. Companheiros de luta no Nápoles, quando o sul de Itália é só paisagem. Em termos sociais, políticos e futebolísticos.
Se nos dois primeiros itens, os anos passam e a moda mantém-se, no capítulo do futebol há uma ligeira alteração. Careca e Maradona sagram-se bicampeões italianos em 1987 e 1990, ganham a Taça de Itália 1987 mais a Taça UEFA 1989. Nápoles liberta-se da supremacia do Norte (Milan, Inter, Juventus) e nunca mais é o mesmo.
Boa tarde. O Careca já entrou no clube dos cinquentenários. Agora é Maradona.
Há 30 anos, Maradona era o futebol. Hoje, Maradona ainda é o futebol. E daqui a 30 anos, Maradona continuará a ser o futebol.
Mas e Pelé?
Um fenómeno como Maradona. Outro mito.
Mas a pergunta é: quem é melhor?
Bem, vejamos uma coisa. Pelé era mais completo. Jogava com os dois pés, era
fortíssimo de cabeça. E sempre que foi à baliza, nunca sofreu
golos.
E Maradona?
Digamos que se ele só sabia jogar com o pé esquerdo e só treinava duas vezes
por semana e estava ao nível do Pelé, o que pensar e dizer se ele tivesse um
pé direito como o esquerdo e treinasse diariamente?
…
Além disso, Diego proporcionou aos adeptos mais emoções e alegria. Se o futebol
é divertimento, espectáculo, alegria, direi que Maradona é melhor que Pelé.
E jogaram juntos no Nápoles.
Sim, entre 1986 e 1990. Eu estava no São Paulo quando me disseram que o meu
passe estava a ser negociado para Espanha. Eu disse que não, que queria ir para
o Nápoles. Mas não era fácil jogar com ele. Qualquer passe dele saía na perfeição. Então eu não podia errar, fazer feio, bater na canela.
Qual a melhor qualidade de Maradona?
A humildade. Diego é bom, generoso, com um sentido de amizade extraordinário.
E os seus casos de droga e atropelos aos jornalistas?
Quem sou eu para criticar alguém? Ele afundou-se, sim, mas já renasceu. É como
um gato: tem sete vidas.