O fabuloso destino de Ivkovic

Kavorka Mais 10/29/2020
Tovar FC

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O fabuloso destino de Ivkovic

Benjamin Franklin é o pai da nação norte-americana. É ainda o inventor do pára-
-raios. Das lentes bifocais. Do corpo de bombeiros nos EUA. Do aquecedor a
lenha. E da mudança da hora, no Inverno e no Verão. É ele o primeiro a evocar a possibilidade de aproveitar um período maior de sol, para poupar energia e
fê-lo num discurso intitulado “Um projecto económico”, divulgado no “Jornal
de Paris” em 1784. O objectivo é sempre o mesmo: economizar energia, na altura, carvão. A ideia só vai para a frente após a Primeira Guerra Mundial, finalizada
em 1918 e, até hoje, o mundo adianta o relógio no primeiro fim-de-semana de
Março e atrasa-o no último de Outubro.

Benjamin Franklin já morreu há anos e anos, mais de 200, e não foi a tempo de ver a sua cara estampada na nota de 100 dólares dos EUA, em 1914. E também não sabe que a sua nota já foi alvo da aposta mais famosa no futebol a envolver jogadores. Há 31 anos, Diego Maradona, o maior baixinho de sempre (Pelé, nem
vale a pena discutir!), entra no balneário do Sporting para entregar 100 dólares ao guarda-redes jugoslavo Tomislav Ivkovic, após este ter defendido uma grande penalidade no San Paolo, em Nápoles, na segunda mão da primeira
eliminatória da Taça UEFA 1989-90. Porque uma aposta é uma aposta. E o prometido é devido.

Suplente em Alvalade na primeira mão, com o número 16, Diego só usa o 10 no
jogo decisivo, na sua casa espiritual como costuma chamar ao Estádio San Paolo. É lá que o Sporting é eliminado nos penáltis pelo Nápoles (0:0 no final
dos 120’ + 4-3 no desempate). E o 10 vai parar às mãos de Tomo Ivkovic de forma pouco usual. “A ideia de desafiar o Maradona só me surgiu quando ele me apareceu à frente para marcar o quinto e último penálti da série. Se fosse golo, o Nápoles passava a eliminatória. Aproximei-me e disse-lhe que ele não ia marcar. Ficou a olhar para mim, incrédulo, e foi aí que apostei 100 dólares para o desmoralizar ainda mais. Foi o primeiro número que saiu da minha boca. Disse 100 mas podia ter dito cinco ou 200. Ele estava visivelmente cansado, mas aceitou de pronto e continuou a olhar para mim. A verdade é que o desconcentrei. Quando o Maradona partiu para a bola, tive o feeling de que iria atirar para o meu lado esquerdo e defendi.”

E depois? “Na altura, não lhe falei dos 100 dólares. Não seria correcto. Apenas
lhe pedi a sua camisola 10. No final do jogo, ele foi ao balneário do Sporting com
o 10 e os 100 dólares [qualquer coisa como 16 mil escudos naquele tempo].
Atrás dele, um batalhão de jornalistas, muitos microfones e as luzes fortíssimas
dos holofotes dos cameramen da TV.”

Nove meses mais tarde, em pleno Mundial-90, Ivkovic voltou a defender um penálti de Maradona, agora durante o desempate entre Jugoslávia e Argentina para os quartos-de-final. Desta vez sem aposta. Se houvesse, lá ia o Benjamin Franklin de um lado para o outro. Assim ficou no bolso de Maradona – ele
não cometeu o erro de repetir a graça. Ivkovic, esse, ainda hoje está desolado.
“Como é possível defender dois penáltis dele e ser eliminado nos dois jogos? Se
me contassem, não acreditava.” Tranquilo, Tomo, se o Franklin soubesse, também não.

One Comment
  1. João

    Parabéns. Agora sei que não gostas, mas ontem fiz um rolo de carne com recheio de farinheira, que apesar de lhe faltar um bocadinho de sal, estava uma delícia. Grande abraço

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