Paulo Campos, o Gentile do SLB
Há datas inesquecíveis no universo português. Como o 27 Maio. Em 1987, o Porto é campeão europeu. Em 1982, o Benfica joga com o campeão mundial.
O Benfica faz uma das épocas mais tristes dos últimos tempos. Em Novembro, leva 4:1 do Bayern em Munique e é afastado na segunda eliminatória da Taça dos Campeões. No mês seguinte, perde a Supertaça portuguesa para o FCP (4:1). Em
Abril, é afastado da Taça de Portugal em Braga (2:1). Em Maio, vê o rival Sporting sagrar-se campeão português. Mesmo assim, sem qualquer título, o Benfica é a referência.
Por isso mesmo, é convidado pela federação argentina (AFA) para ir a Buenos Aires testar a Argentina de Menotti, Passarella, Ardiles e Maradona, a caminho de Alicante (Espanha), onde iria defender o título de campeã mundial, estatuto alcançado quatro anos antes, em 1978. Ok, é verdade que o Benfica não é a primeira escolha. Nem a segunda. Só a sexta. A Argentina ouve “nãos” de Irlanda, Paraguai, Suíça, Barcelona e Real Madrid. Quando chega a hora do Benfica, as negociações correm bem. Julio Grondona, o presidente da AFA, não está lá muito disposto a pagar 10 mil contos ao Benfica, só que a insistência do seleccionador
Menotti é muita.
Muy bien, o Benfica viaja num dia, joga no outro e regressa a Portugal no seguinte. No Monumental, casa do River Plate, a Argentina ganha 1:0, golo de
Kempes aos 50’, num remate a 25 metros da baliza à guarda de Bento. À sua frente. José Luís, Humberto Coelho, Bastos Lopes e Veloso; Carlos Manuel, Paulo Campos, Shéu e Chalana; Nené e Jorge Gomes.
Carlos Manuel lembra-se de outros pormenores. “Esse jogo foi no fim da era Baroti [treinador húngaro do Benfica, entre 1980 e 1982] e ele meteu o José
Luís, habitual médio, a lateral-direito, mais o Paulo Campos, um avançado brasileiro contratado ao Portimonense a marcar o Maradona. E deu-lhe tanto… Coitado do Maradona”, ri-se Carlos Manuel.
Na verdade, Paulo Campo vê o único cartão amarelo do jogo e Maradona sai ligeiramente lesionado. Tanto assim é que Josep Lluis Núñez está admirado. “O Maradona não se viu. Foi perseguido até nos pontapés de baliza. É natural que tenha saído lesionado”, queixa-se o presidente do Barcelona, em Buenos Aires a negociar a transferência do Diez com o Boca
Juniors. Que se faz por 1,4 milhões de contos, menos de uma semana depois do jogo com o Benfica.
Paulo Campos, esse marcador implacável, assina pelo Farense, da 2.ª divisão. Por menos de 1,4 milhões. Vidas.
