Que cena: os Queen com o King
Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon eram ingleses mas em
momento algum se interessaram por futebol – e destes quatro, só Mercury
teve um passado desportivo, como campeão nacional júnior de ténis de mesa.
Eles era mais música. E da boa. Os Queen.
A digressão pela Argentina será sempre recordada como um hit na história da música moderna argentina. Não pelo mecanismo de endeusamento fanático,
mas pelo nível musical, tecnológico e artístico, eles que tiveram a ousadia de
entrar no país como personae non grata e do presidente da Junta Militar da
Argentina e dar cinco concertos em três cidades (Buenos Aires, Rosario e Mar del
Plata) para milhões de pessoas, entre 28 Fevereiro e 12 Março 1981.
Para o tour na América do Sul (depois da Argentina, ainda há Brasil, mas só
em São Paulo, porque a prefeitura do Rio de Janeiro recusa ceder o Maracanã
para um concerto), os Queen levaram um staff de 45 pessoas, entre músicos, técnicos, ajudantes, seguranças e managers. A estes somam-se os freelances, os contratados em cada um dos lugares da actuação para armar e desarmar o palco.
Queen é uma máquina oleada que funciona com devastadora perfeição em palco. Cada efeito luminoso traduz-se nas mudanças rítmicas de cada música, o
que excita visualmente os espectadores.
A roupa épica dos anos 70 é trocada por um estilo misto dos 50 com new wave.
Dos três concertos em Buenos Aires, o último deles é no estádio do Velez Sarsfield e é aí que se cruzam dois mundos: o da música e o do desporto. Dois génios: Queens vs. Maradona. Ou melhor, Queen e Maradona. Houve troca de camisolas (eis um momento histórico, Maradona vestido à inglesa), fotografias e até cantaram juntos o “Another One Bites The Dust”. Com o microfone na mão, Diego solta ‘quero agradecer ao Freddie e aos Queen este momento, fizeram-me muito feliz’.
E então, Friends Will Be Friends? Nada disso. No ano seguinte, em 1982, começa a guerra das Malvinas, entre os dois países, e Maradona nunca mais respeitou os ingleses – nem a rainha. Ao ponto de lhes ter marcado dois golos no Mundial-86: um ilegal, com a mão de Deus, o outro legítimo, na jogada do século XX, em que finta cinco ingleses. Hoddle, Reid, Sansom, Butcher, Fenwick e Shilton comem relva (e poeira). Esses não lhe conseguiram tocar. E os outros é que não percebiam de futebol, tssss tssss.
Eis a ordem das músicas no tal concerto a 8 Março 1981
- Intro [Freddie aparece com uma t-shirt do Super-Homem]
- We Will Rock You (fast)
- Let Me Entertain You
- Play The Game
- Somebody To Love
- Mustapha
- Death On Two Legs
- Killer Queen
- I’m In Love With My Car
- Get Down Make Love
- Need Your Loving Tonight
- Save Me
- Now I’m Here
- Dragon Attack
- Now I’m Here (reprise)
- Fat Bottomed Girls
- Love Of My Life
- Keep Yourself Alive
- Instrumental Inferno
- Flash’s Theme
- The Hero
- Crazy Little Thing Called Love
- Bohemian Rhapsody
- Tie Your Mother Down
- Another One Bites The Dust [Maradona canta e encanta]
- Sheer Heart Attack [Freddie aparece equipado à Argentina, n.º 10]
- We Will Rock You
- We Are The Champions
- God Save The Queen