Três Maradonas em Granada

Kavorka Mais 10/29/2020
Tovar FC

author:

Três Maradonas em Granada

Steve Martin, Chevy Chase e Martin Short. Quem? Os Três Amigos. Em 1986, John Landis realiza uma comédia bem sucedida e há quem o imite. Como em Espanha. Estamos em 1987 e o Granada, da 2.ª divisão, dá o golpe de mercado com a contratação de Lalo Maradona, o irmão do melhor do mundo. Sem demoras, Lalo chega, vê e vence (5:1 ao Deportivo) com um golo pelo meio.

A sua contratação traz um presente de borla: o compromisso dos três irmãos Maradona com a camisola do Granada, num acto insólito. A organização do jogo demora mais que o esperado porque o calendário é apertado. Às tantas lá se decide por um domingo de selecções, em Novembro, dia 15. O rival escolhido é o Malmö. Pela viagem e pela participação no evento, o vice-campeão sueco com um tal Schwarz no onze embolsa 4 milhões de pesetas. A cidade pára, a Andaluzia também. Por Lalo? Errrr. Por Hugo? Errrrr. Por Diego, isso sim. Um dos melhores jogadores de sempre, e o mais controverso. Entra na história com os dois golos à Inglaterra no Mundial-86, o primeiro com a mão, o outro em slalom desde o meio-campo.

A sua chegada é apoteótica, via Riade, onde se deslocara com a mulher Claudia e a pequena Dalma para um período de férias. “Vou cumprir um sonho antigo, o de jogar com os meus irmãos. Que iniciativa maravilhosa, considero-a um ensaio para o futuro. Onde quero que seja a próxima vez? Sei lá… Agora estou em Granada, e muito bem. A próxima aventura dos irmãos até pode ser no deserto, tanto me faz.”

Com Diego, recém-coroado campeão mundial em 1986 na Cidade do México, a equipa do Granada entra em campo mais apoiada que nunca. As bancadas estão cheias, a iniciativa é uma vitória do Granada. O encaixe financeiro é de 20 milhões de pesetas, das quais 4 milhões para o Malmö e outros 4 milhões para a TV3 por transmitir o jogo em diferido em conjunto com o Canale 5 de Silvio Berlusconi.

No banco, o treinador Joaquín Peiró anda preocupado. “Vou dizer o quê a Maradona? É um génio que sabe o que fazer a qualquer momento. Vou mas é ficar quieto no meu canto.” Os três irmãos em campo fazem-se notar pelos números: Lalo é o 9, Diego o 10, Hugo o 11. Começa então o espectáculo. Lalo marca o 1:1, Diego o 2:2 num soberbo livre directo. O 3:2 do Granada é obra de Manolo aos 83 minutos.

A emoção é tanta que há desacatos graves nas bancadas no Los Cármenes. Diego pede calma e depois fala aos jornalistas a caminho dos balneários. “Eu e o Hugo somos mais fortes fisicamente, mas Lalo é tecnicamente o mais prodigioso. Pinta-nos a cara sempre que jogamos lá em casa.” Diego, um artista dentro e fora dos relvados, está visto. Nessa época de 1987/88, o Granada desce à 2.ª divisão B e Lalo é dispensado. Ainda joga no Peru (Deportivo), sem honra nem glória. Um pouco à imagem do irmão mais novo Hugo, com uma impressionante capacidade de enganar meio mundo só através do apelido: Argentinos Juniors, Ascoli (Itália), Rayo Vallecano (Espanha), Rapid Viena (Áustria), Progresso (Uruguai) e Consadole Sapporo (Japão).

Só se salva o mais velho, e de que maneira.

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *