Dito e Eder: de bragar aos céus
Bélgica-Islândia, de qualificação para o Mundial-58. Jogo de sentido único (8-3).
Ou quase. Com 6-1 aos 44 minutos, os belgas beneficiam de um penálti. Rik
Coppens toma balanço, corre e, em vez de rematar para a baliza à guarda de
Björgvin Hermannsson, passa para o lado, onde surge André Piters. A acção
colhe toda a gente de surpresa. Piters recebe a bola e devolve-a a Coppens, que
marca o 7-1.
O estádio rejubila, claro. É uma ideia inovadora. É a primeira vez que há o
penálti de dois toques, celebrizado por Cruijff e Jesper Olsen no Ajax em 1982.
Mais tarde, em 1983-84, Portugal adopta o estilo. Dito e Cardoso tentam a sorte no dérbi minhoto, a 21 Abril 1984, mas o árbitro portuense José Guedes anula o lance, que dera golo. À natural azia dos bracarenses responde o guarda-redes vimaranense Silvino com alívio. Seja como for, o Braga está na vanguarda do futebol português e dá seguimento ao trabalho desenvolvido.
Qual trabalho desenvolvido? Ah pois é… Um ano antes deste penálti a dois
toques, o Braga é de bradar aos céus. A culpa é de Dito (mais uma vez). Estamos a 23 Fevereiro 1983, uma quarta-feira, e a selecção assina uma das suas
repentinas e improvisadas proezas ao bater a RFA, então campeã europeia e
vice mundial. É um desfile de estrelas, com Schumacher, Kaltz, Briegel, os irmãos
Förster, Matthäus, Littbarski, Völler e Rummenigge.
Nós jogamos sem o Benfica. Ou quase. O empenho em chegar à final da Taça
UEFA é tal que a equipa de Eriksson só se faz representar pelo capitão, Bento.
Daí que o seleccionador Otto Glória dê oportunidade aos outros. Como o trio de
bracarenses Cardoso, Dito e Paris. Um na esquerda, o outro a 6 e o último no
banco de suplentes – só entraria aos 73 minutos. Por essa altura já há 1-0. Golo
de Dito. Magnífico, aliás. O remate é tão espectacular que Schumacher nem a vê
passar. É o primeiro golo do Braga na selecção nacional desde sempre.
Para quando o segundo? Passam-se uns dias, umas semanas, uns meses, uns anos
e aterramos a 16 Junho 2015, em Genebra. O adversário é a Itália, sempre
temível, invicta com Portugal desde 1976. Há 39 anos, portanto. Eles são a Itália,
seja lá quem jogue, nós somos Portugal sem Ronaldo. O empenho em partir de
férias é tal que o capitão sai de cena após o hat-trick na Arménia (3-2), no sábado.
O seleccionador Fernando Santos dá então oportunidade a Éder no lugar de
avançado e o homem resolve o jogo, a passe de Quaresma. É dele o 1-0. E o
segundo golo do Braga na selecção.