Great Scott #219: Qual o resultado do estreante Helenio Herrera na 1.ª divisão portuguesa?
Benfica 0:1 Belenenses
De Helenio Herrera sabe-se tudo menos o dia em que nasceu (10 ou 13 Abril), e o ano (1910 ou 1916). O resto é História. Assim mesmo, com H maiúsculo. Ao todo,36 anos de carreira gloriosa, com 17 títulos espalhados por quatro clubes (Atlético Madrid, Barcelona, Inter e Roma), incluindo duas Taças dos Campeões, duas Taças Intercontinentais e duas Taças das Cidades com Feira (futura Taça UEFA e futura Liga Europa).
Além de ter feito História como o primeiro treinador de sempre à frente de três selecções: França, Espanha e Itália, é uma História sem paralelo (daí o epítetomago que o torna mundialmente famoso), que começou em França (Puteaux-1942, como jogador-treinador), prosseguiu em Espanha (onde acabou, no Barcelona-1971), Itália e até Portugal. Sim, em Portugal. Corria o ano de 1957 quando o Belenenses o contratou.
Como? Bem, é preciso realçar que na altura HH ainda “só” tinha sido bicampeão espanhol pelo Atlético Madrid, em 1950 e 1951. Em Maio 1957, Herrera treinava o Sevilha e, a uma jornada do fim do campeonato espanhol, estava em segundo lugar, atrás do Real Madrid de Di Stéfano, recém-tricampeão europeu. Insatisfeito com a falta de protagonismo em prol do arqui-rival de Madrid, o Barcelona contacta Helenio Herrera, por sua vez insatisfeito no Sevilha – ele, aliás, tentara sair em 1954 mas foi demovido por Sánchez Pizjuán, presidente do clube, a troco de um contrato melhorado por três épocas.
Com a morte de Pizjuán e o contacto dos catalães, HH assina pelo Barcelona. E isso, a uma jornada do fim do campeonato, foi o fim da picada. Ramón de Carranza, o novo presidente do Sevilha,mete uma queixa da FIFA por incumprimento contratual eHerrera é suspenso do clube (nem viaja com a equipa para o jogo da última jornada, precisamente com o Barcelona, no Les Corts, o estádio que antecedeu ao Camp Nou) e até de Espanha. A solução é sair de Espanha. O Milan ataca-o, só que Herrera deixa-se seduzir pelo Belenenses dos irmãos Vicente e Matateu. Lisboa, aí vai ele.
No Restelo, começa a trabalhar no dia 28 de Outubro e estreia- -se a ganhar 1-0 na Luz, ao Benfica, a 3 de Novembro – logo ao Benfica que não perdia em casa há 40 jogos, desde 31 de Outubro de 1954 (0-1 com o Braga). O seu trabalho no Restelo foi breve, com alguns altos (9-3 ao Braga, 7-0 ao intervalo, com seis golos de Matateu) e baixos (cinco jogos sem vitória) e acabou em Abril, com o quarto lugar no campeonato e a eliminação na Taça de Portugal logo à primeira. Pelo meio, ainda foi cronista do jornal “A Bola”. E o mago estava absolutamente espantado com o futebol português, em entrevista ao jornal catalão “El Mundo Deportivo”.
“É incrível que Lisboa tenha mais clubes grandes na 1.a divisão [Benfica, Sporting e Belenenses] que Madrid [Real e Atlético] ou Paris [Racing] e que, mesmo assim, disponha de um maior número de estádios de óptima qualidade e com um relvado excelente. Por isso, as pessoas vêm ver os jogos e batem recordes de assistência, semana sim, semana sim. Só falta criar uma Escola Nacional de Treinadores e que os clubes contratem estrelas internacionais para Portugal ombrear com os outros países.”
A 6 Abril 1958, debaixo do rumor de dar comprimidos aos jogadores do Belenenses, HH fez as malas e voltou a Espanha. O Barcelona pagou os 5 milhões de pesetas ao Sevilha para levantar a suspensão de cinco anos da FIFA e Herrera ainda treinou os catalães, com os quais levantou a Taça das Cidades com Feira, a 1 Maio 1958.