#22 Portugal 1995

Mais Spider Pig 04/24/2021
Tovar FC

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#22 Portugal 1995

Começamos pela lista dos 18 convocados por António Oliveira

Benfica Neno, Paulo Madeira, Nelo

Porto Secretário, Jorge Costa, Folha

Sporting Nélson, Oceano, Sá Pinto

Boavista Alfredo, Rui Bento

Marítimo Vado, Paulo Alves

Estrela Calado

Salgueiros Tulipa

Braga Barros

Tirsense Caetano

Vitória SC Pedro Barbosa

É o quê, isto? Canadá, Toronto, -13 graus centígrados, estádio coberto, piso sintético, fiscais-de-linha femininas. E o que faz a selecção portuguesa nesse lado do mundo? A resposta certa vale 200 mil contos, o valor recebido pela federação para participar no Torneio Skydome a meio da desportiva 1994-95, em Janeiro.

A ideia de aproveitar a paragem do campeonato nacional para dar um pulinho ao Canadá e fazer dois jogos numa competição sem interesse gera muita polémica e faz correr muita tinta nos jornais, com o Sporting a assumir o papel principal da discórdia, relativamente à convocatória dos seus três jogadores (o lateral-direito Nélson, o médio/capitão Oceano e o avançado Sá Pinto) no que entendem ser uma provocação do seleccionador António Oliveira, que, justiça lhe seja feita, também chama três benfiquistas e outros três portistas.

Ora, Neno, Paulo Madeira e Nelo jogam vs Canadá e só o guarda-redes fica de fora vs Dinamarca, enquanto Secretário, Jorge Costa e Folha foram sempre titulares. Do trio sportinguista, Sá Pinto é a único a entrar em acção. Os outros dois viajam com pequenas lesões, entretanto tratadas no Canadá, nem tocam na chicha, o que não impede o Sporting de enviar faxes e fazer telefonemas à delegação portuguesa a pedir um tratamento especial para a dupla em questão. Sporting, esse, que até é a única equipa portuguesa invicta no campeonato (13 vitórias e cinco empates) e nem isso lhe garante a liderança, entregue ao FC Porto (15-2-1), na primeira época em que a vitória vale três pontos.

Só com um sportinguista em campo, embora os outros dois quisessem jogar, conforme se lê nas páginas de jornais da época, Portugal faz história e conquistou um troféu pela primeira no escalão sénior. Quem o levanta é Nelo, o número 10 do Benfica e capitão dessa selecção alternativa à geração de ouro (Baía, Figo e JVP ainda em Portugal; Couto, Paulo Sousa, Rui Costa e Futre já no estrangeiro). Com um empate vs anfitrião Canadá e uma vitória vs Dinamarca (que, a exemplo de Portugal, só convocou jogadores do seu campeonato, prescindindo de todos os heróis campeões europeus em 1992), a selecção nacional dá o ar da sua graça, graças sobretudo à classe de Pedro Barbosa, autor das assistências para os golos de Folha e Paulo Alves.

Os 13 mil (ruidosos) emigrantes portugueses em Toronto vibram com o feito inédito de Portugal e também fazem parte da festa nacional num torneio em que o Marítimo é a equipa mais bem representada, com quatro jogadores – dois portugueses (Vado e Paulo Alves) e dois canadianos (Fernando Aguiar e Alex). Mas deles nem se ouve um pio sobre poupança de esforço.

Eis os dois jogos:

Canadá 1:1 A jogar num campo sintético, Portugal entra bem e domina amplamente. Folha faz o 1:0 e ainda atira à trave aos 19 minutos. O Canadá, que estreia um tal Fernando Aguiar, agiganta-se com o passar do tempo e empatam perto do fim por Alex, a aproveitar um erro de Neno, a meio de um cruzamento. O onze inclui Neno; Rui Bento; Secretário, Jorge Costa, Paulo Madeira e Nelo; Vado e Pedro Barbosa; Caetano, Sá Pinto e Folha. Jogam ainda Calado, Paulo Alves, Tulipa e Barroso

Dinamarca 1:0 Paulo Alves é o herói português, em cima da hora. Numa jogada iniciada por Jorge Costa e prosseguida por Pedro Barbosa, o avançado maritimista conclui com um pontapé acrobático a fazer levantar os 25 mil espectadores. O onze reúne Alfredo; Rui Bento; Secretário, Jorge Costa, Paulo Madeira e Nelo (cap); Vado, Calado e Pedro Barbosa; Paulo Alves e Folha. Jogam ainda Sá Pinto, Tulipa e Caetano (FCP).

O seleccionador é António Oliveira. Ouçamo-lo ao vivo e a cores.

O que dizer da Taça Skydome ganha por Portugal em 1995.

Ninguém fala disso. Nunca se tinha ganho absolutamente nada e ganhámos à Dinamarca, campeã europeia em título. Um-zero. Lembro-me perfeitamente do último lance do jogo [Oliveira levanta-se da cadeira, afasta-se da mesa e curva-se todo, com os braços para baixo, inertes]. O Barbosa estava sem fôlego, completamente de rastos. [Oliveira endireita-se e cá vai disto] Vale a pena dizer que o torneio jogou-se no Skydome, um dos estádios mais bonitos e modernos que vi. A pala abria e fechava-se de acordo com a temperatura do ar. Como estávamos em Janeiro, havia neve até dizer chega e jogámos fechados. [Oliveira retoma a posição anterior, curvado até mais não] O Barbosa está podre de cansaço e eu levanto-me do banco para o incentivar. Ahahah. Insultei-o tanto: ‘morre no teu poste, meu g’anda’. Ele começa a correr, vai à linha e cruza para a área, onde aparece o Paulo Alves para fazer o golo da vitória à Dinamarca e também o do torneio.

Imagino a festa.

Você não imagina é o antes.

Então?

Tínhamos sido tão enxovalhados mas tão enxoavalhados pelos emigrantes que aquele golo libertou-nos e acabou por transmitir finalmente sintonia entre os dois lados.

Emigrantes?

Sim.

Porquê?

Não levámos a equipa principal.

Pois, o torneio foi em Janeiro, a meio da época desportiva.

E explicar isso aos portugueses? Não estavam os craques, os gajos que eles adoram. Digo-lhe, nunca vi tanta gente exaltada como aí. Garanto. Nunca entrei tanto em pânico. Julguei ‘vão matar-nos’. Porque a fúria era visível, através dos insultos. A carga verbal era enorme. Pergunte a qualquer um dos jogadores desse torneio, eles confirmam. Palavras de honra.

E com o golo do Paulo Alves?

Aí foi uma festa. Passámos a deuses, num abrir e fechar de olhos.

Que equipa era essa?

Fui buscar o Caetanozito a Santo Tirso. O Calado ao Estrela, o Vado e o Paulo Alves ao Marítimo, o Tulipa ao Salgueiros, o Barroso ao Braga. Era uma selecção de segundo plano, uma selecção B, vá.

Ninguém dos grandes?

Dos que jogavam lá fora, estilo Baía, Figo, Couto, Rui Costa, Paulo Sousa e tal, nem um. Só chamámos jogadores a actuar em Portugal.

E dos três grandes?

Assim de repente, lembro-me do bicho, o Jorge Costa

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