Great Scott #315: Único jogador a ganhar a Taça do Rei por três equipas?
Schuster
Um cromo sem igual. Eis Bernd Schuster, um jogador de futebol bem diferente o habitual. Gosta de tocar piano, evita bebidas alcóolicas e quem lhe gere a carreira é a esposa, Gaby de seu nome.
Ao longo da sua vida desportiva, Schuster faz uso da sua determinação/teimosia. Como, por exemplo, no Euro-80, em Itália, onde é o único jogador da RFA acompanhado pela mulher. No quarto, queremos dizer. Ou seja, Gaby é o único elemento feminino no hotel. Mais à frente, já campeão europeu em 1980, Schuster desmarca-se do jogo internacional vs Albânia para assistir ao nascimento do filho David, o terceiro de quatro do casal.
Mais à frente, diz de sua justiça sobre um ícone do tamanho de Breitner. ‘Não tenho paciência para ouvir Breitner dentro do campo nem para andar atrás da bola enquanto ele a vê passar’. Dito assim mesmo, com todas as letras, sem papas na língua. Em 1984, aos 24 anos de idade, a RFA é eliminada do Europeu ainda na fase de grupos. A culpa é de um golo do espanhol Maceda nos descontos – e outro do suplente Nené à Roménia. Sai Jupp Derwaal, entra Franz Beckenbauer. Todos os alemães esperam pelo regresso de Schuster. O que faz Bernd? Escreve uma coluna no Der Spiegel a dizer não à selecção de forma definitiva. Assim se perde um activo de indiscutível valor.
Nos clubes, Schuster é capaz de tudo e mais alguma coisa, sobretudo no Barcelona, onde passa o tempo a chamar bêbado ao treinador Udo Lattek e é o herói de uma greve inusitada relacionada com o sequestro ao goleador Quini. Tanto o Barcelona como a Liga espanhola querem passar um pano por cima do assunto e só lhes interessa o dinheiro dos bilhetes e das transmissões televisivas dos jogos. Schuster recusa-se a jogar enquanto Quini não for libertado. Os jogadores dos outros clubes apoiam-no incondicionalmente e é preciso aparecer uma gravação de Quini a dar luz verde para Schuster retomar a actividade – duas semanas depois, Quini seria libertado.
No Real Madrid, joga duas épocas e é bicampeão espanhol. No Atlético, é companheiro de Futre. Diz o português. ‘Ele falava pouco. Quando o fazia, todos o escutavam. A liderança é um acto simples e Schuster executava-o como um mestre.’ Pois é, Bernd joga nos três grandes de Espanha. E ganha Taças do Rei pelos três.
Começa a aventura no Barça, com hat-trick (1981 vs Sporting Gijón, 1983 vs Real Madrid e 1988 vs Real Sociedad). Assina pelo Real Madrid e levanta a quarta Taça em 1989 (vs Valladolid). E veste a camisola do Atlético para ganhar mais duas vezes, e seguidas (1991 vs Maiorca, 1992 vs Real Madrid, em pleno Bernabéu). Em seis conquistas, um golo – precisamente na última Taça, de livre directo. O dérbi acaba 2:0 e o segundo é de Futre, num remate ao ângulo superior de Buyo, ainda na primeira parte. No final, todo ele é satisfação. ‘Ganhei uma taça pelo Barcelona no Bernabéu, ganhei uma taça pelo Real Madrid no Vicente Calderón e agora ganhei uma taça pelo Atlético ao Real no Bernabéu.’ Que tal a final?, perguntam-lhe. ‘Mal jogada.’ Sempre fiel ao seu guião.