Great Scott #319: Único a marcar quatro golos e a perder um jogo do Mundial?

Great Scott Mais 06/25/2021
Tovar FC

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Great Scott #319: Único a marcar quatro golos e a perder um jogo do Mundial?

Willimowski

Um, dois, três, quatro. Quatro golos num só jogo é um póquer. Quem o marca deve sentir-se o mais feliz do mundo. Quer dizer, quatro golos é obra. Num Mundial, então, uh la la la. Há selecções sem quatro golos num Mundial inteiro. Veja-se Portugal no México-86, por exemplo – só Carlos Manuel e Diamantino acertam na baliza em 270 minutos de bola.

Ernst Otto Prandella nasce em Kattowitz, então Alemanha, agora Polónia. É filho de um casal alemão e o pai, soldado do império alemão, morre na 1.ª Guerra. A mãe toma conta do rapaz até conhecer um senhor polaco, por quem se enamora. O seu apelido é Willimowski e adopta legalmente o bom do Ernest.

Com seis dedos no pé direito, Willimowski começa por jogar como interior esquerdo. E brilha no Ruch Chorzow, com três títulos de campeão e 112 golos em 86 jogos – num belo dia, marca 10 vs Union Touring Lodz (12:1). Daí para a selecção polaca é um passo lógico, com estreia aos 17 anos e 332 dias, em 1934. Quatro anos depois, o único Mundial da sua carreira.

Como o futebol polaco ainda é amador, a selecção só se concentra a uma semana do jogo vs Brasil, em Toulouse. Em Toulouse? Essa é boa. Como o tempo é quente por lá, a Polónia escreve à FIFA a pedir a deslocação da eliminatória para outra cidade francesa em que a temperatura não prejudique a Polónia e beneficie o Brasil. A FIFA recebe o pedido e escolhe Estrasburgo, com o sim do Brasil.

Muito bem, Estrasburgo, dia 5 Junho 1938. O árbitro sueco Eklind apita para o início às 17 horas em ponto. O estádio está cheio, 15 mil pessoas. Há muitos emigrantes polacos nas bancadas e também há muitos franceses a puxar pelo Brasil, uma selecção exótica e com toque de bola.

Léonidas abre o caminho aos 18 minutos, a Polónia empata de penálti. A jogada, circense, de acordo com a imprensa mundial, é de Willimowski. Passa por um brasileiro. Dois. Três. É rasteirado pelo guarda-redes Batatais. Na marca dos 11 metros, Scherfke marca o primeiro golo da Polónia em Mundiais. Até ao intervalo, mais dois golos brasileiros, cortesia Romeu e Perácio.

Na segunda parte, a chuva dá sinal de si e a Polónia aproveita para voltar a chegar ao empate com dois golos de Willimowski em seis minutos. Ambos os lances em jogadas individuais, de génio. Mais parece um brasileiro. Então, 3:3. A chuva amaina, o Brasil anima-se. Perácio faz o 4:3, Willimowski empata de novo nos últimos instantes.

Vamos para prolongamento. Leónidas marca um, dois golos. Completa o hat-trick, está 6:4. Willimowski reduz aos 118’, é o póquer. O primeiro de sempre num Mundial – Eusébio também assinaria um, em 1966 vs Coreia do Norte. Nos últimos instantes, a Polónia está à beira do 6:6 com uma bola à barra através de Nyc.

Nada feito, Willimowski sai do Mundial com honra e sem glória. Nunca mais um jogador marca quatro e é eliminado. É algo nunca visto, jamais repetido. Com o arranque da 2.ª Guerra Mundial e a anexação da Polónia por parte do III Reich, a vida de Willimowski dá um pinote e veste a camisola da Alemanha. Em oito internacionalizações, 13 golos. Joga no Kaiserslautern até 1955, sempre a marcar golos atrás de golos. A sua maior mágoa é a exclusão do Mundial-54 por opção do seleccionador Sepp Herberger.

Outros póqueres no Mundial

1950    Ademir (Brasil 7:1 Suécia)

1954    Kocsis (Hungria 8:3 RFA)

1958    Fontaine (França 6:3 RFA)

1966    Eusébio (Portugal 5:3 Coreia do Norte)

1986    Butragueño (Espanha 5:1 Dinamarca)

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