NBA em alemão
Todos nós coleccionamos grandiosos momentos desportivos. Os velhos do Restelo falam de um golo de Matateu ao Sporting na final da Taça. Os sportinguistas, dos 5:0 ao United. Os portistas, do calcanhar de Madjer em Viena. Os benfiquistas, dos 5:3 ao Real. Os portugueses em geral, da chapada de luva branca do Éder. Os habitantes do planeta terra, do slalom de Maradona à Inglaterra. Todos sabemos onde estávamos, com quem estávamos, o que vestíamos, o que levávamos calçado, o que comíamos neste ou naquele instante. E se transportássemos esses momentos para outro desporto, como o basquetebol? Quem se lembra da final da NBA-98? Ya, essa mesmo, entre Bulls e Jazz. Da hora de almoço à do jantar, três jogos do Mundial de futebol. Ei-los, Argentina 1:0 Japão, Jugoslávia 1:0 Irão e Croácia 3:1 Jamaica. Seis golos, zero emoção. Resta-me a madrugada para salvar o dia. E assim é, sexto jogo da final da NBA. Torço por Jordan. Nem é Bulls, é Jordan. A minha adoração por ele está ao nível da de Van Basten. Ainda não há SportTV, pois não? Vejo o jogo na ZDF ou DSF. Os comentadores alemães, deliciosos. Um deles vai ao delírio com a presença de DiCaprio no rés-do-chão do pavilhão Delta Center. Relata o momento como se fosse um cesto fora de horas. ‘Oooooooooooh, Leonardooooooo’. O grito do Ipiranga assusta-me / acorda-me a meio do terceiro período. Até lá, uma série de zzzzzzzzzz. Nem dou conta da música dos Jazz. Já desperto, largo o sofá da sala e passo o tempo em pé, de um lado para o outro, preocupado com o mundo. Tu queres ver qu’isto ainda vai à negra? A 17 segundos do fim, Jordan resolve à Jordan: rouba a bola a Malone, avança até ao garrafão, trava de repente, senta Russell, pára no ar, lança e dois pontos. Bem assim, tchafff – a bola entra direitinha no cesto e faz aquele barulho inconfundível, mesmo para quem está mais para lá do que para cá, às quatro e tanto da manhã. O som da glória. Da perfeição. É o meu momento desportivo-televisivo mais grandioso.