Great Scott #350: Armando Marques acerta em quantos pratos para a medalha de prata nos JO-76?
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O amor é assim, tem destas coisas. Armando Marques nasce em Algés, é mais um homem comum português. Faz-se gerente comercial e tem duas oficinas de recauchutagem a seu cargo. De repente, conhece Maria Fernanda e a vida transforma-se como por magia. Primeiro, o namoro. Depois, a apresentação aos pais. Sai-lhe a sorte grande. Em dose dupla e no duplo sentido.
O sogro lança-lhe o tema, Armando aceita o repto. E faz-se atirador. Começa por representar o Abrantes. Seguem-se Sporting, Soeiros, Malveira e Clube Português de Tiro a Chumbo. Sempre que pode, atira-se para Monsanto e pratica até mais não. Por gosto, até porque a rapaziada do stand é divertida. A competição, essa, só chega mais tarde e aí é o fungagá da bicharada. Armando Marques é simplesmente o maior: oito vezes campeão nacional em fosso olímpico, duas em skeet, três em percurso de caça, duas em fosso universal, sete em trap olímpico, duas em tiro de voo e três no concurso de atirador completo. Saiam da sua frente é o que é. O homem acerta em tudo. Bem, quase tudo. O seu recorde é 197 tiros certeiros em 200 pratos, corre o ano de 1973. Na altura, já disputara dois Jogos Olímpicos, em 1968 (Tóquio) e 1972 (Munique). Só é notícia de primeira página em 1976, no dia 21 de Julho. Meio escondido entre a delegação portuguesa rumo a Montreal (Canadá), o nosso atirador faz o seu papel com uma dignidade imaculada e apura-se para o desempate de 25 pratos. Armando acerta em todos, o italiano falha dois. Ao todo, o gerente comercial soma 189 pratos partidos. Segura a medalha de prata e festeja ao lado da mulher, que o acompanha para todo o lado. Em Portugal, com todo um Oceano Atlântico pelo meio, os sogros rejubilam. Pela rádio, numa primeira instância. E os dois filhos de Armando? Armados. Ao pingarelho. “Escreva aí que também gosto de motonáutica e campismo”, diz o mais velho, Miguel Luís. O outro, Bruno Manuel, está só contente por passar para a quarta classe.