Great Scott #362: Primeiro ciclista vestido de amarelo da primeira à última etapa da Volta a Portugal?

Great Scott Mais 08/25/2021
Tovar FC

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Great Scott #362: Primeiro ciclista vestido de amarelo da primeira à última etapa da Volta a Portugal?

Alves Barbosa

Figueira da Foz é uma terra abençoada. Desportivamente falando. E escrevendo. Um exemplo? Ticha Penicheiro, campeã de basquetebol norte-americano em 2005, pelas Sacramento Monarchs. Outro exemplo? Rui Cordeiro, autor do único ensaio português no jogo com a Nova Zelândia no Mundial de râguebi em 2007. Chega? Mais? José Bento Pessoa, primeiro grande ciclista português, recordista mundial dos 500 metros em 1897, ano em que consagra campeão português de velocidade e ainda campeão espanhol de estrada.

Só mais um, só mais um. Pede o público. E nós, também. Quem vem lá? O primeiro português a ganhar a Volta a Portugal por três vezes (1951, 1956, 1958), o primeiro português a vestir a camisola amarela da primeira à última etapa (1951), o mais jovem vencedor da Volta a Portugal (19 anos), o primeiro português a acabar o Tour nos dez primeiros classificados da geral (1956), o primeiro português a ganhar uma etapa da Vuelta em Madrid (1961), o maior vencedor de etapas na história da Volta (34). Chi-ça, quem vem lá mesmo? António Alves Barbosa, também conhecido por Tó. Um génio das duas rodas, capaz das maiores proezas velocidopédicas, tanto cá dentro como lá fora, muito antes de outros craques como Joaquim Agostinho.

Nascido na Figueira da Foz a 24 Dezembro 1931, Alves Barbosa faz-se à estrada desde cedo e abraça a carreira de ciclismo com inegável entusiasmo. Daí que seja campeão nacional de juniores em 1950. No ano seguinte, com apenas 19 anos de idade, dá um baile à concorrência na Volta a Portugal. Ganha a primeira etapa, no Estádio do Lima (Porto), veste a amarela e nunca mais a larga nas 15 etapas seguintes. De fio a pavio, sem espinhas. É uma proeza inaudita e só repetida por Joaquim Agostinho em 1971. Pormenor delicioso: um jovem rouba a bicicleta vencedora de Alves Barbosa e foge até Matosinhos, onde a vende na rua a um valor irrisório. Como a bicicleta é moderna, a malta espanta-se com o preço pedido e avisa a polícia. Capturado o larápio, a bicicleta é devolvida a quem de direito. Que só a voltará a usar na Volta em 1955.

Quatro anos de hiato, então? Alves Barbosa cumpre serviço militar em 1952 e, depois, a Volta só regressa ao nosso convívio em 1955, por falta de meios financeiros da organização (o jornal Norte Desportivo). É a chamada Volta da vergonha, porque o camisola amarela Alves Barbosa é atacado por populares nos Carvalhos (Porto), no decorrer da última etapa. Só a intervenção policial impede males maiores. Cheio de escoriações no corpo todo, montado numa outra bicicleta (a sua fora completamente destruída), Alves Barbosa corta sozinho a meta, infinitos minutos depois do pelotão e escoltado por seis polícias montados nas suas motos. Ribeiro da Silva (Académico) sobe ao lugar mais alto do pódio.

Em 1956, Alves Barbosa exibe-se num plano estratosférico. Em Julho, acaba o Tour em 10.º lugar como ciclista independente da equipa Luxembourg/Mixte e, em Agosto, ganha 10 etapas em 23 dias da Volta a Portugal. Óbvio, arrebata a camisola amarela. Além dos sete minutos de avanço para o vice Ribeiro da Silva, embolsa 50 contos de prémio. O tri é consumado dois anos depois, em 1958, vestido de amarelo desde a segunda etapa até à 28.ª. Uauuuuu. “O maior perigo estava em Sousa Cardoso [FC Porto], mas portei-me bem e tanto controlei os ataques dele como os do Sporting, que queria ultrapassar na geral a minha equipa [Sangalhos].” Sem mais vitórias em Portugal, faz-se herói em Espanha como vencedor na 9.ª etapa da Vuelta, entre Albacete e Madrid. O pelotão segue impávido e sereno, sempre atento aos cinco fugitivos. Entre dois espanhóis, um francês e um belga, Alves Barbosa é o mais decidido. À entrada da capital, o português roda a uma velocidade vertiginosa de 50 km/h. A 70 metros da meta, Barbosa destaca-se dos demais e levanta o braço em sinal de vitória. É aclamado. “É uma vitória para todos os portugueses”. O discurso é quase sempre o mesmo, de vitória. Seja em Portugal, Espanha ou até Brasil, onde é bicampeão da corrida 9 Julho, o maior circuito da América do Sul.

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