Great Scott #409: Quem é o português precursor de Cantona na arte de pontapear um adepto?

Great Scott Mais 10/29/2021
Tovar FC

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Great Scott #409: Quem é o português precursor de Cantona na arte de pontapear um adepto?

Jorge Silva

E se, a meio de um jogo, um adepto passasse o tempo a insultá-lo? Cantona nem pensa duas vezes e aplica-lhe um golpe de kung-fu. Está armado um 31. O francês é suspenso e, só depois, julgado.

No dia da sentença, a 1 Abril 1995, Éric desculpa-se à federação perante um comité de observadores. E aí começa a paródia. Parece mentira, e acontece mesmo. «Pensei, oh meu Deus» – recorda David Davies – «tenho de me preparar para o fogo-de-artifício, porque na última vez que ele [Cantona] foi a uma reunião destas, em França, deu um murro num dos executivos. Portanto, tudo era possível. Menos aquilo que ele disse num perfeito inglês, dito da forma mais calma que se possa imaginar: “Quero pedir desculpa ao presidente da comissão”, começa Éric.

“Quero pedir desculpa ao Manchester United, a Maurice Watkins [director do clube] e a Alex Ferguson. Também quero pedir desculpa aos meus companheiros e à federação. E ainda à prostituta que dividiu a minha cama ontem à noite.” Será que eu tinha ouvido bem? Pelo menos, dois executivos ouviram porque tossiram e depois engoliram em seco. Não deu para acreditar.»

Mais tarde, na conferência de imprensa, Cantona dirige-se aos jornalistas em pouco mais de 18 segundos, enquanto bebe um copo de água. «Quando as gaivotas [jornalistas] seguem a traineira [jogadores], é porque pensam que as sardinhas [frases controversas] vão ser atiradas ao mar [ao público em geral].» Não é Albert Camus, nem Jean-Paul Sartre. É Cantona. Éric Cantona.

O homem é expulso a meio do jogo em Selhurst Park e, a caminho do balneário, agride um adepto do Crystal Palace. Ahhh, grande coisa. Na década anterior, em Sacavém, o jovem Jorge Silva atira-se aos adeptos com uma g’anda pinta. Como é que é? Nem mais nem menos, Jorge Manuel Correia Oliveira Silva, 18 anos, chamado aos juniores pelo novo treinador belenense Fernando Mendes, sucessor de Mourinho Félix.

Estamos a 27 Fevereiro 1983, um domingo, dia de Sacavenense-Belenenses para a 18.ª jornada da 2.ª divisão, zona sul. É a primeira época do Belenenses no inferno da 2.ª. Seis treinadores. Sim, lê bem: s-e-i-s. Com tanta matéria-prima no banco, o Belenenses desce à 2ª divisão, juntamente com União de Leiria e Académico de Viseu. É a primeira despromoção de sempre do clube. A primeira época 1982-83 não lhe corre de feição e só acaba em quarto lugar, a 15 pontos do Farense.

No jogo entre eles (Belenenses e Farense), a 31 Dezembro 1982, o árbitro Raúl Ribeiro mostra qualquer coisa como 14 cartões amarelos e quatro vermelhos. Acaba nove para nove, decide um golo de Djão aos 61 minutos. É a última vitória de Mourinho. Três empates e uma derrota depois, o Belenenses muda de treinador e anuncia Fernando Mendes. Na estreia, derrota estrondosa vs Odivelas no Restelo por 3:1. No segundo jogo, o tal em Sacavém, a teimosia do 0:0 vai até ao fim.

À passagem da meia-hora, um sururu xxl dita as expulsões do belenense Djão e do sacavenense Pacheco. Meio alterado, Jorge Silva entra em picardias várias nos minutos seguintes e vê um cartão amarelo, razão pela qual Fernando Mendes o substitui por Carlos Alberto antes do intervalo, aos 43′. De cabeça quente pelas trocas de empurrões e pelo ambiente hostil dos adeptos da casa, Jorge Silva sai pela linha de fundo e, a caminho dos balneários, aplica um golpe de kung-fu num magote de pessoas. Mais um sururu. Sem consequências para Jorge Silva.

Acredite, o miúdo é convocado para a jornada seguinte e entra aos 65 minutos num outro 0:0, este vs Barreirense, com Neno à baliza em grande estilo. Da FPF nem um aviso nem uma multa, nada de nada. Já Djão apanha três jogos pelo cartão vermelho directo e só regressa no dia 20 Março, vs Elvas (um golo, 7:0 no Restelo).

Jorge Silva, o nosso Cantona, acaba a carreira em 1996 ao serviço do Juventude Évora, na 3.ª divisão. Antes, completa dez épocas no Belenenses, metade das quais na 1.ª divisão. Faz um ano em Leiria, cinco no Amora e um no Olivais e Moscavide. Ao todo, 22 golos (e um golpe de kung-fu) em 257 jogos oficiais entre 1.ª, Honra, 2.ª B e 3.ª.

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