Great Scott #413: Quem é o primeiro não-europeu a ganhar o Tour?

Great Scott Mais 11/04/2021
Tovar FC

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Great Scott #413: Quem é o primeiro não-europeu a ganhar o Tour?

Greg LeMond

Ano mágico, 1986. Duas semanas depois do slalom de Maradona no México, o Tour dá os primeiros passos. É a 73.ª edição dividida por 23 etapas e televisionada para 72 países. A expectativa é grande, enorme para ver se Bernard Hinault alcança a inédita sexta vitória no ano da sua despedida. O povo da casa suspira por ele, a sua equipa vai dar o tudo por tudo para o ajudar – a Hinault, recém-promovido à Legião de Honra pelo presidente François Mitterand.

Na lógica do ‘primeiro milho é para os pardais’, Hinault só aparece em cena na 12.ª etapa e é tão categórico nos Pirinéus que dá cinco minutos e 25 segundos de avanço sobre o segundo classificado, um norte-americano chamado Greg LeMond, seu companheiro na La Vie Claire. E agora, quem ousa riscar Hinault da lista de vencedores?

Quem? O próprio LeMond. No dia seguinte, ainda nos Pirinéus, o jovem de 25 anos ganha 4 minutos e 45 segundos ao bretão. No outro dia, ganha mais seis. A coisa fica por aí até à 20.ª etapa. LeMond parte a loiça nos Alpes e consegue um avanço considerável de 2 minutos e 47 segundos. Hinault responde, menos de 24 horas. No Alpe d’Huez, a subida lendária onde mora o busto de Joaquim Agostinho, o francês acelera e LeMond persegue-o. O resultado é um final apeteótico em que os dois cortam a meta ao mesmo tempo. O dia seguinte é o de descanso e agora só o contrarrelógio em Saint-Étienne é que pode virar a agulha. Ou não.

Hinault ganha essa etapa, LeMond só perde 25 segundos e ainda tem 2’18’’ de vantagem. Até final, dilata o avanço para 3’10’’. No dia da consagração, em pleno Campos Elíseos, o abraço de Hinault a LeMond é o de um vencido convicto da superioridade alheia. Pela primeira vez em 73 edição, um não europeu ganha o Tour. Para a equipa La Vie Claire, há mais dois elementos no top 10: o (outro) norte-americano Andre Hampsten em 4.º e o suíço Niki Rüttiman em 7.º. A quase duas horas do camisola amarela, o nosso representante Acácio da Silva em 82.º lugar – em nítido contraste com o 7.º no Giro no mês anterior.

No ano seguinte, LeMond é a ausência de vulto no Tour por culpa de uma caçada com amigos no seu rancho Murietta (EUA). É verdade, uma descarga de chumbo provoca-lhe ferimentos graves no pulmão direito, diafragma, fígado, intestinos e num dos rins. Durante dias, pedala entre a vida e a morte. Aguenta-se, estoicamente. E só consegue voltar em Fevereiro 1988, ainda a tempo de ganhar mais dois Tours, em 1989 e 1990.

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