Great Scott #421: Quem é o árbitro do dérbi Zamalek vs Al Ahly que acaba aos cinco minutos de jogo?
Marc Batta
E esta, hein? Marc Batta, nascido e criado em Marselha, faz-se árbitro da 1.ª divisão francesa em 1989 e sobe à elite europeia no ano seguinte (Polónia 4:0 EAU, em Marselha). Na retina, duas finais: a da Taça de França 1994 (Auxerre 3:0 Montpellier) e da Taça UEFA 1997, primeira mão (Schalke 1:0 Inter).
Uns meses depois, Batta é nomeado para o Alemanha vs Portugal de qualificação para o Mundial-98. O nosso guarda-redes é Silvino, do Salgueiros. Está dado o mote para um noite sui generis. Aos 9 minutos, Figo dribla Ziege no meio-campo e Nowotny à entrada da área antes de desmarcar JVP. Solto, o número 8 domina e atira por cima da baliza à guarda de Köpke. É a única situação de perigo de Portugal. Até ao intervalo, só dá Alemanha. Sem grande ímpeto, tão-só um lance aqui e ali de Klinsmann e Bierhoff a importunar Silvino.
Na segunda parte, Portugal adianta-se no terreno e manieta a Alemanha. Joga-se mais a meio-campo, os guarda-redes desaparecem de cena. Aos 70 minutos, JVP ganha uma bola de cabeça no seu meio-campo e entrega para Figo, cujo passe é de imediato para Barbosa, descaído para a esquerda. O homem segura, recua e tabela com Figo. Apertado pelo suplente Babbel, o número 9 domina com o pé esquerdo e atira com o direito, cruzado, rasteiro. Köpke estica-se, em vão. Está feito o 1:0 em Berlim, onde se regista um silêncio ensurdecedor. A câmara filma Vogts, o seleccionador manda avançar como quem diz ‘ainda há muito jogo’.
Minuto 73, Portugal é rei e senhor do jogo. Artur Jorge vai mexer na equipa, Sérgio Conceição está na linha lateral à espera de uma saída de bola para entrar. Ataque conduzido pela direita por Figo. Depois Rui Costa. A seguir JVP. De novo Rui Costa. O primeiro toque é assim-assim, Köpke sai dos postes e afasta o perigo. Substituição, entra Sérgio Conceição e sai Rui Costa. Ou…? O 10 vai a passo e Paulo Sousa cumprimenta-o. Batta impacienta-se e mostra-lhe o cartão amarelo. Rui Costa nem quer acreditar e vê o vermelho. A cara de Conceição é um poema. Portugal reduzido a dez. Sai então JVP para entrar Conceição.
Aos 80′, jogada pela esquerda da Alemanha e remate forte do suplente Kirsten à entrada da área para o 1:1. Game over. Portugal está quase quase quase fora do Mundial-98. É preciso ganhar à Irlanda do Norte (check, 1:0) e esperar pela derrota da Ucrânia na Arménia (nem pensar, 0:2 por Shevchenko e Maksymov). Acabemos em terceiro lugar, a três pontos da invicta Alemanha e a um da Ucrânia.
E Batta? Esse apura-se para o Mundial, bien sûr. E apita dois jogos, um da fase de grupos (Roménia 2:1 Inglaterra), outro dos oitavos-de-final (Brasil 4:1 Chile). No ano seguinte, é chamado para o dérbi do Cairo entre Zamalek e Al Ahly. Tudo bem até aqui, a federação egípcia tem por hábito chamar árbitros europeus para evitar problemas de maior. Nem sempre leva o barco a bom porto. Veja-se bem o caso de Batta e da sua psicose pelo cartão vermelho.
Com 50 mil fervorosos adeptos nas bancadas, o dérbi dura um, dois, três, quatro, cinco minutos. Aymane Aziz, do Zamalek, entra por trás sobre o conceituado Ibrahim Hassan, irmão de Hossam Hassan. É daqueles jogadas à África minha. Batta apita falta, vai ao bolso e saca o vermelho. Beeeeeem, que barraca. O Zamalek enfurece-se em peso. Os adeptos manifestam-se ruidosamente e ameaça invadir o relvado. Os jogadores, esses, abandonam o campo e fecham-se no balneário.
O ambiente está desgovernado, Batta nem sabe onde se meter. O Zamalek recusa-se mesmo reentrar em campo e a federação egípcia aplica vitória administrativa ao Al Ahly por 3:0. Confirmada a derrota, os jogadores do Zamalek regressam ao relvado, dirigem-se à bancada dos seus adeptos para lhes agradecer o apoio e, através de linguagem gestual do ‘show me the money’, sugerir a parcialidade de Batta.
