Great Scott #429: Primeiro jogador português a ser operado ao menisco?
Armando Ferreira
Homem de méritos mil, Armando Ferreira é mais um jogador perdido no esquecimento do futebol português. Aos 16 anos, já é titular da equipa de honra do Barreirense e, aos 19, assina pelo Sporting, onde completa 11 épocas de intenso fulgor. Nesse período, faz parte de dois famosíssimos quintetos de ataque. O primeiro formado por Mourão, Soeiro, Peyroteo, Pireza e Cruz. O segundo por Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano, também conhecido como Cinco Violinos.
Na verdade, Armando Ferreira é o sexto violino pela regularidade com quem ocupa o lugar de Jesus Correia, ora por lesão, ora por compromissos no hóquei (ya, Jesus Correia é craque do alto com os patins e ganha seis Mundiais mais seis Europeus, assim como quem não quer a coisa). Aliás, Armando Ferreira chega a ser internacional português como extremo-direito numa época de ausência de Jesus Correia, lançado por Cândido de Oliveira, com quem iria trabalhar como adjunto no Sporting no final dos anos 40. Adiante.
Armando Ferreira, nascido e criado no Barreiro (mais um do viveiro) em 1919, marca 90 golos em 237 jogos pelo Sporting, onde pendura as chuteiras aos 30 anos de idade. Pelo meio, dois momentos imperdíveis e ambos aos 23 anos de idade. Um está relacionado com a conclusão do curso de engenheiro técnico civil — que lhe garante uma vida mais estável como funcionário superior na Companhia de Gás e Electricidade. O outro tem a ver com uma grave lesão contraído num jogo da 1.ª divisão vs Belenenses.
Diz Armando Ferreira. ‘O Manuel Marques, um homem massagista fora de série, diagnosticou de imediato: é menisco. Só que as radiografias não acusavam nada. Era então preciso uma injecção de ar para abrir os tecidos e só se conseguia detectar o mal com uma artropneumografia, que, naquele tempo, ainda não havia cá em Portugal. Como gostava de jogar à bola, mesmo com dor, andei assim uns dois anos. Até que o Sporting foi jogar a Madrid com o Atlético Aviación [hoje Atlético Madrid] e, em conversa com o lendário guarda-redes Ricardo Zamora a dar-lhe conta das dores que me atormentavam, ele disse-me logo o mesmo que o Manuel Marques: é menisco.’
E agora? ‘O Zamora aconselhou-me ir a Barcelona para ser operado pelo doutor Moragas. Foi o que fiz em 1945 e, depois disso, ainda voltei a ser internacional português’. No início dos anos 50, Armando Ferreira dedica-se ao banco e é o responsável pela subida do Barreirense à 1.ª divisão em 1951. Dez anos depois, ei-lo como seleccionador português.
A seu cargo, seis jogos com uma só vitória, precisamente na estreia, vs Luxemburgo (6:0 no Jamor). De resto, um empate (vs Inglaterra) e quatro derrotas (Argentina, Brasil, Brasil mais Bélgica). É ele o homem que lança figuras do nosso contentamento, como o trio José Carlos, Cruz e Simões, só para citar Magriços.