Great Scott #432: Quem é o suplente com mais golos em Mundiais?
Milla
Um suplente com golo é mais de meio caminho andado para a tranquilidade de um treinador. Na história dos Mundiais, há quatro suplentes com golo em finais entre Naninga (Holanda 1978), Altobelli (Itália 1982), Völler (RFA 1986) e Götze (Alemanha 2014).
Se afunilarmos para a selecção portuguesa, há cinco suplentes com golo entre Diamantino (1986), Rui Costa (2002), Nuno Gomes (2006), Liedson (2010) e Varela (2014). Contas feitas, só não há golos portugueses via-banco no último Mundial, em 2018.
Se respondermos à pergunta de cima, o herói é o camaronês Roger Milla. No Mundial-82, zero golos. No de 1990, quatro (bis vs Roménia na fase de grupos, bis vs Colômbia nos 1/8 final). No de 1994, um (vs Rússia). Ao todo, cinco. Milla marca cinco golos como suplente. Em segundo lugar, só com três, Kiss (Hungria 1982) e ainda Cuevas (Paraguai 2002, 2006).
De volta à Milla, o homem é fera. Conta ele. ‘Em 1990 já estava como que reformado. Jogava no JS Saint-Pierroise, nas ilhas Reunião. Naquela altura, África só qualificava duas selecções e fomos nós mais Egipto. Julgava-me fora, não esperava nada, nem em sonhos. Até que me ligou Paul Biya [presidente dos Camarões, ainda hoje a desempenhar a função, iniciada em 1982]. Ele é um grande amigo de infância, dos tais tempos dos jogos de futebol na rua e na escola. E pediu-me para voltar à selecção, assim sem mais nem menos. Depois do sim ao meu presidente, falei com o seleccionador que era um soviético chamado Valeri Nepomnyashchi. A táctica era entrar na segunda parte, porque a pedalada já não era muita. E assim foi.’
‘Entrei com a Argentina para defender o 1:0, numa altura em que já estávamos a jogar com dez [expulsão de Kana Biyik aos 61’, antes do golo do irmão Omam Biyik] mas parecíamos 20. Segue-se a Roménia. Com 0:0 aos 60 minutos, entro e marco dois golos. Só depois é que a Roménia reduz. Para fechar a fase de grupos, apanhámos 4:0 da URSS. Aí até entrei na primeira parte, já havia 2:0. Só depois é que aparece a Colômbia. Entro com 0:0 no início da segunda parte. O nó do empate só é desatado no prolongamento, com dois golos ao Higuita, um dos quais roubo-lhe a bola. Quem me ensinou esse truque foi o próprio Valderrama, quando ainda jogávamos no Montpellier, através de um vídeo.’
Passam-se quatro anos, de Itália para EUA. Ao intervalo do Rússia vs Camarões, entra Milla por M’Fede. Sai Camarões, bola longa para um extremo como se fosse râguebi e é lançamento lateral. A Rússia não articula dois passes seguidos e a bola é dos Camarões de novo. Às tantas, Milla ganha um ressalto, entra na área e, mesmo acossado por Khlestov, atira a contar à saída de Cherchesov. É só o 3-1 mas Camarões vibra como se fosse o golo mais importante do século. Só o é para Milla, a partir daí o mais veterano goleador em Mundiais. No lugar de quem? Gunnar Gren, um sueco do Mundial-58 com 37 anos e 236 dias. ‘Sou um sortudo’, desabafa Milla, ‘mas procurei muito este momento. Recordo aos mais desatentos que me foi mal anulado um golo no Mundial-82 ao Peru e, desde então, trabalho imenso para esquecer esse mal entendido que nos fez ficar de fora da segunda fase.’