Great Scott #456: Primeiro suplente de uma equipa portuguesa a marcar na UEFA?
Custódio Pinto
Há suplentes de ouro. Quem não se lembra da dupla lançada por Alex Ferguson vs Bayern na final da Liga dos Campeões 1999? Entram Sheringham mais Solskjaer e ambos marcam os golos da improvável reviravolta em Camp Nou. Por cá, o primeiro suplente a dar um ar da sua graça é Custódio João Pinto.
Nascido no Montijo em 1942, a sua figura vinga no FC Porto na primeira era de José Maria Pedroto. Como joga na posição de Coluna, raramente tem a oportunidade de vestir a camisola da selecção portuguesa. Diz Simões, outro benfiquista. ‘Foi indiscutivelmente um bom jogador de futebol. Belíssimos pés, daqueles pezinhos de lã, com um grande jogo aéreo. Não era alto, mas tinha uma impulsão e um ‘timing’ extraordinários. Marcou belos golos de cabeça. Esteve comigo no Mundial’66, mas jogava na posição do Coluna e era complicado tirar-lhe o lugar. Foi um azar ter pertencido à ‘geração do Benfica’. Se me pedissem para fazer uma lista dos 20 melhores portugueses dos anos 60, não hesitava em colocar o nome do Custódio, mas teve azar em ter pertencido à ‘geração do Benfica’. Um pouco à imagem do que se passou com Rogério Pipi, que era o único jogador do Benfica a dar luta, no bom sentido, claro está, aos Cinco Violinos.’
Também Artur Jorge, companheiro de Custódio Pinto no FC Porto durante a época 1964-65, diz de sua justiça em tom elogioso. ‘Quando cheguei ao FC Porto, tinha 18 anos e ele 23. Jogava muito bem de cabeça e repare que até nem era muito alto. Nem sei se teria 1,70. Por outro lado, marcava muitos golos de livre. Era inteligente e tecnicamente evoluído. Nessa altura, os jogadores do Benfica viviam, por assim dizer, na selecção e não havia espaço para os outros. Mesmo assim, ainda foi internacional por 13 vezes. Quando chegou ao FC Porto (1961-62), as pessoas não o conheciam bem e foi ganhando fama através dos tempos.” Isso mesmo. Quando começa, é só Pinto nas fichas dos jornais desportivos. No final da carreira, já é Custódio Pinto.
Ao todo, faz nove épocas no FC Porto e chega a capitão de equipa. Pelo meio, é del o primeiro golo de um português suplentes em provas europeias. Acontece a 18 Setembro 1968, em Gales, vs Cardiff, da 2.ª divisão inglesa. A equipa da casa, semi-finalista da época anterior na Taça das Taças, ganha terreno com facilidade à conta dos golos de Toshack (esse mesmo) e Bird.
E agora Porto? Saca Pedroto o trunfo e Custódio Pinto troca as vazas com dois golos em sete minutos. Na segunda mão, 15 dias depois, nas Antas, o Porto ganha 2:1 (Pavão, Toshack, Custódio Pinto) e qualifica-se para a segunda eliminatória da Taça das Taças 1968-69.
A dois minutos do fim, o árbitro francês Helliés apita penálti para o Cardiff. Chamado a bater, Toshack falha. Ou melhor, Américo defende. O guarda-redes vira herói e é ruidosamente aplaudido pelos adeptos. Já Toshack abandona o relvado em lágrimas.