Great Scott #469: Quem é conhecido como ‘novo Cruijff’ e joga em Portugal?
Blanker
Desinibido, rápido, tecnicista e forte. Tonnie Blanker é (mais) um jovem prodígio nas escolas do Ajax, alcunhado de ‘novo Cruijff’. O seu futuro é prometedor, todos o invejam. Três semanas depois de completar 15 anos de idade, Blanker conduz o seu ciclomotor e vai contra uma árvore. O embate é violento, as proporções do acidente são catastróficas e os médicos antecipam-lhe o final da carreira.
Blanker ouve ‘loud and clear’ o diagnóstico e dá a si mesmo seis meses para estar de volta aos relvados. Nem os pais acreditam, só mesmo Tonnie. Seis meses depois, ei-lo em jogo. Primeiro pelos juniores B do Ajax, um ano depois pelos A. O treinador do seniores é Leo Beenhakker, naturalmente impressionado com a fome de bola do rapaz. Vai daí, chama-o para a primeira equipa no Verão 1979. O resultado é positivo, embora a química de Blanker com alguns jogadores seja inexistente.
O problema é Lerby, Soren Lerby, o médio dinamarquês das meias descaídas. Os desentendimentos são cada vez mais frequentes e Blanker admite sem rodeios, à boa maneira holandesa: ‘Às vezes, apetece-me esmurrar aquele ruivo.’ Em campo, os dois até marcam uma época. Na Taça dos Campeões 1979-80, o Ajax vai longe e só é eliminado pelo futuro campeão Nottingham Forest na ½ final. Marcam-se 31 golos, 17 dos quais pertencem à dupla. Lerby assina 10, Blanker 7. Desses sete, quatro ao HJK Helsínquia (8:1) e três ao Omonia Nicósia (10:0), ambos em Amesterdão.
O problema (repetimo-nos) é o campeonato holandês. Blanker só marca nove golos e é uma desilusão xxl. O Ajax quer mais e pisca o olho a outro jovem da formação, Kieft de seu nome. Sem lugar no onze, e com a impossibilidade de assinar por outro clube holandês, Blanker aventura-se no estrangeiro e escolhe Portugal, mais precisamente o Vitória SC, num negócio intermediado por Valter Ferreira, já então um olheiro ao serviço do presidente Pimenta Machado.
Diz Blanker de sua justiça. ‘Sinceramente, já tinha atirado a toalha para o chão, já me sentia cansado do futebol. A pressão diária, a alcunha do novo Cruijff, tudo isso trouxe-me uma pressão acrescida e indesejável. Só queria sair dali, não desejava mais jogar à bola. Até que apareceu um português a propor-me uma mudança de ares. Fui, sem saber de nada dessa realidade. Quando cheguei aqui (Guimarães), gostei do ambiente e da maneira descontraída de pensar o futebol. Por isso, voltei a sentir o amor pelo futebol.’
Em Guimarães, o talento de Blanker é reconhecido uma e outra vez. Embora tenha assinado por duas épocas, só faz uma antes de rumar para Espanha, onde reencontraria Leo Beenhakker no Saragoça. Seja como for, Blanker faz oito golos (tal como o companheiro Ferreira da Costa) em 28 jogos da 1.ª divisão. O seu apetite goleador inclui Espinho, Braga (bis), Belenenses, novamente Espinho, Amora (bis) e ainda Académico, em Coimbra (2:1).
Como curiosidade, Blanker aparece em Guimarães acompanhado pela sua irmã, também ela uma predestinada para a bola. Joga pelo Coelima numa época em que o Boavista domina o campeonato nacional feminino.