Great Scott #496: Única equipa a eliminar os rivais de Milão na mesma época da UEFA?
Espanyol
Parente pobre de Barcelona, com duas finais europeias perdidas nos penáltis, o Espanyol comete a proeza de afastar Milan e Inter em eliminatórias seguidas na Taça UEFA 1987-88. A façanha começa um ano antes, através de uma Liga espanhola atípica com três liguilhas ao fim das habituais 34 jornadas.
O grupo A é para definir o campeão entre os seis primeiros da fase regular, o B serve de apuramento de um clube para a Taça da Liga e o C é para evitar a descida à 2.ª. Ao todo, cada equipa soma 44 jogos. O Espanyol assume um protagonismo inusitado e acaba em terceiro lugar, só com uma derrota em casa (vs Real Madrid, já na liguilha) e o segundo melhor ataque, à frente do Barcelona.
Na base do bom desempenho, o Espanyol conta com a irreverência de um jovem treinador chamado Javier Clemente, então com 36 anos de idade, altamente valorizado pela conquista das duas Ligas seguidas ao serviço do Athletic Bilbao em 1983 e 1984.
O seu futebol é aguerrido, duro na defesa e eficaz no ataque. Demitido em Janeiro 1986 por sentar o ídolo Sarabia no banco, Clemente aceita o convite do Espanyol e maquilha o plantel catalão com três reforços de luxo: o lateral-direito Urquiaga, ex–Athletic, o médio Zubillaga, bicampeão pela Real Sociedad, e ainda o avançado Losada, da formação do Real Madrid.
Se a estes acrescentarmos nomes incontornáveis como o guarda-redes N´Kono, o lateral-esquerdo Soler, o extremo-direito Valverde, o maestro Lauridsen (o outro estrangeiro) e ainda o goleador Pichi Alonso.
Na primeira eliminatória da Taça UEFA, o Espanyol encontra o Borussia M’Gladbach e despacha o clube alemão com duas vitórias. Primeiro na RFA, 1:0. Depois em Barcelona, 4:1.
Na ronda seguinte, aparece o Milan de Sacchi, já com Gullit e Van Basten. O momento até nem é o ideal, porque o Espanyol acumula cinco derrotas em casa e situa-se num modesto 11.º lugar. Em campo neutro (Lecce), por punição da UEFA, o Milan é surpreendido pelo futebol afoito do Espanyol. Aos 41’, Zubillaga tabela com Pichi Alonso e engana Galli.
No recomeço, Zuñiga aventura-se pela esquerda e cruza para trás, onde surge Pichi Alonso a passar por Maldini antes de fixar o 0:2. Na segunda mão, Gallart volta a anular Gullit e o Milan é uma sombra de si próprio. Acaba 0:0 no Sarriá, o Espanyol segue em frente e quis o destino
O quê? O destino prega uma partida e sai-lhe o Inter de Trapattoni com Zenga, Bergomi e Altobelli. Os dois estrangeiros impõem respeito xxl: Passarela e Scifo. Classe a rodos. A primeira mão é novamente em Itália, agora no Giuseppe Meazza, a 25 Novembro. Zero graus de temperatura ambiente. Ligeiramente mais aquando do 1:0 de Serena. Ligeiramente menos por ocasião do 1:1 do suplente Lauridsen, de cabeça.
Quinze dias depois, em Barcelona, o Espanyol surpreende com 1:0 de Orejuela, também de cabeça, na sequência de um livre de Urquiaga, aos 23 minutos. O Inter sofre o mesmo fim do Milan e capitula sem honra nem glória. E o Espanyol? A equipa de Clemente elimina Vikotice (Checoslováquia) e FC Brugge (Bélgica) até chegar à final.
Pela frente, o Bayer Leverkusen – que eliminara o Barcelona com 0:0 em Colónia e 1:0 em Camp Nou, obra do brasileiro Tita. Na primeira mão, em Barcelona, 3:0 para o Espanyol. Está feito, não? Puro engano. Em Leverkusen, o Bayern iguala a eliminatória com Tita a fazer das suas como autor do 1:0 aos 57 minutos. O brasileiro vai buscar a bola ao fundo da baliza e coloca-a no meio-campo. Götz marca o 2:0, Bum-Kum Cha o 3:0.
Nos penáltis, o Espanyol começa novamente por cima e vai ao fundo. Os três últimos penáltis são todos falhados (Urquiaga, Zuñiga, Losada) e o Bayer sagra-se campeão da Taça UEFA com 3:2 da marca dos 11 metros.