#29 Atlético Madrid 1995-96

Mais Spider Pig 04/23/2022
Tovar FC

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#29 Atlético Madrid 1995-96

Mil-nove-e-setenta-e-sete. O Atlético solta o grito de campeão e, ironia das ironias, o Real Madrid falha a qualificação europeia pela primeira vez na história com o sexto lugar na Liga espanhola. Dezanove anos depois, em 1996, a tripla proeza repete-se: o Atlético saca o título de campeão e o Real Madrid acaba em sexto, sem direito a Taça UEFA.

Ao cabo de nove ‘projectos’, 27 treinadores despedidos e mais de 70 jogadores triturados, Gil y Gil faz finalmente a festa. Presidente do Atleti há nove épocas, Jesus é o louco visionário disposto a entregar a sua fortuna pelo clube, primeiro por devoção, depois por obrigação – quando a transformação dos clubes em sociedades anónimas (1992-93) o faz dar, como aval, as quintas, os cavalos, a fortuna pessoal.

A hesitação é de tal ordem que Gil y Gil só se decide na fuga para a frente a 10 minutos do termo do prazo estipulado pelo Estado para a conversão dos clubes em S. A. D. (excepção feita a Real Madrid, Barcelona, Athletic, Osasuna) e, assim, iniciar a reforma do sistema futebolístico para evitar a ruína financeira e, também atribuir responsabilidade máxima aos dirigentes dos clubes por eventuais gestões danosas.

Ao todo, Gil y Gil gasta 26 milhões de contos desde a sua eleição em 1987, com o trunfo Paulo Futre, até ao 25 Maio, dia em que os golos de Simeone e Kiko garantem a vitória vs Albacete no Vicente Calderón por 2:0. É o suficiente para cantar, dançar, curtir até de madrugada. Verdade seja dita, o Atlético passa 39 das 42 jornadas em primeiro lugar e é um vencedor justíssimo num campeonato louco e martelado com 22 equipas por culpa de burocracias várias, uma delas a envolver o Sevilha de Toni e Peixe.

Para 1995-96, Gil y Gil chama o treinador sérvio Radomir Antic, despedido inexplicavelmente do Real Madrid 1991-92 em primeiro lugar com sete pontos de avanço no início da segunda volta. Baaaah. O sucesso é Beenhakker, eliminado da Taça UEFA na ½ final e vice-campeão, atrás do Barcelona de Cruijff. Bahhhhhh. Antic vai pregar para outra freguesia e faz duas épocas interessantes no Oviedo, sempre em crescendo (9.º mais 7.º).

Quando Antic chega ao Atlético, o pensamento generalizado é ‘olha olha, mais um para a fogueira das vaidades’. Sim, o Atlético acabara a época anterior em 14.º. Sim, o Atlético tem um plantel de 30 jogadores. Sim, Antic vai ter trabalho em varrer.

A sua missão na pré-época é tirar as gorduras. Vai daí, adiós ao guarda-redes Abel – é aliás um Verão muito especial nas saídas de históricos como Butragueño (Real Madrid), Koeman mais Stoitchkov (Barcelona). Adiante, também saem Iván Rocha (lateral), Dobrovolski (extremo), Kosecki e Valencia (avançados).

Em matéria de contratações, Antic falha os três primeiros objectivos, dois deles já apalavrados: Onopko (a FIFA dá razão ao Oviedo e o central russo continua nas Astúrias) e Prosinecki (assina pelo Barcelona). O outro é Morientes, mais inclinado para o Saragoça.

E agora? Antic olha para o mercado e saca dois craques, ambos com 29 anos. Um é famoso, o avançado búlgaro Penev (Valencia), o outro é desconhecido, o maestro Pantic (Panionios). Juntam-se-lhes Biagini, miúdo argentino campeão mundial sub20 do Newell’s Old Boys, Molina e Santi, ambos do Albacete, e Roberto, do Espanyol. Assim de repente, nada de muuuuito especial se compararmos com as entradas internacionais e mais apelativas de Barcelona, agraciados com Popescu mais Figo, ou Real Madrid, com Esnaider mais Rincón.

Só que a equipa de Antic dá nas vistas e salta para a liderança com quatro vitórias seguidas (e seis golos de Penev). À quinta jornada, o Sevilha de Toni impõe um nulo no Sánchez Pizjuán. A fiesta prossegue com mais quatro vitórias seguidas. Stop vs Mérida em casa. Mais à frente, outro stop, vs Rayo também em casa. Na jornada seguinte, Raúl decide o dérbi no Santiago Bernabéu (1:0) e o Atlético desce para o segundo lugar, com os mesmos pontos de Barcelona (1.º) e Espanyol (3.º).

A ressaca é breve, nem dura seis dias, e o Atlético dá 3:0 vs Oviedo. A partir daqui, e estamos só a 25 Novembro, o Atlético soma e segue como nenhum outro rival e é campeão de inverno com sete pontos de vantagem sobre o segundo classificado, o surpreendente Compostela, cujo capitão/craque é o brasileiro Fabiano, futuro treinador do Estoril em 2015-16.

Com tanto à vontade, o Atlético dá-se ao luxo de se perder na imensidão de jornadas num calendário apertadíssimo e é normal que se veja em palpos de aranha uma vez ou outra. Como em Março, com tão-só duas vitórias em seis jogos. O Barcelona de Cruijff espreita a oportunidade e aperta com eles. À porta do clássico, em Camp Nou, três pontos separam as duas equipas. O que faz o Atleti? Espeta 3:1.

E agora? Não há volta a dar, Atlético é sofrimento puro. No regresso a casa, o Valencia de Luis Aragoñés aquece a Liga com bis de Mijatovic num 2:3. A quatro jornadas do fim, quatro pontos separam Atlético e Valencia – o Barcelona já corre por fora. Na penúltima ronda, a da eventual consagração, o Atlético saca um ponto em Tenerife aos 88’ com autogolo de César Gómez, enquanto o Valencia ganha 1:0 vs Espanyol.

Falta uma jornada, Atlético 84 pontos, Valencia 82. A emoção é garantida. Na maior enchente da época, com 60 mil pessoas no Calderón, o Atlético remata a sua faena com 2:0 vs Albacete, resultado construído antes do intervalo para descanso de Gil y Gil e fiéis seguidores. O primeiro golo da noite é de Simeone, actual treinador do Atlético. O homem joga no meio-campo, descaído para a direita (Pantic à esquerda, Caminero mais Vizcaíno no meio), e faz um campeonato verdadeiramente sensacional com 12 golos. Desses, três significam vitória e um empate. Contas feitas, sete pontos à conta de Diego.

Os 12 golos de Simeone superam os 11 de Kiko (três expulsões, caramba) e os 10 de Pantic. Acima do argentino, só mesmo Penev com 16. E o búlgaro ainda faz mais seis na Taça do Rei, também conquistada pelo Atlético – é a primeira dobradinha da sua história, e única, já agora.

Ah pois é, o Atlético faz bingo. E um bingo à maneira. No percurso, elimina Mérida, Betis, Tenerife, Valencia e Barcelona, tudo equipas de 1.ª, três delas apuradas para a final. É obra. De Gil y Gil. De Antic. De Pantic, o do golo solitário aos 102’ na final em Saragoça – é a terceira vitória seguida da época vs Cruijff, Figo, Hagi e Cª.

Na época seguinte, o Atlético de Antic perde magia por força do Real Madrid de Capello (e, vá, Secretário) e do Barcelona de Mourinho (e, vá, Robson). Ainda assim, há fogachos de qualidade. Que o diga Pantic, melhor marcador da Liga dos Campeões 1996-97 com cinco golos.

(a negrito, os jogos fora)

Real Sociedad 4:1Penev-2 / Pantic / Simeone
Racing      4:0Penev-2 / Caminero / Simeone
Athletic                                  2:0Kiko / Penev
Sporting Gijón 2:0Vizcaíno / Penev
Sevilha                       0:0
Espanyol 2:1Kiko / Pantic
Celta Vigo                              3:0Kiko-2 / Simeone
Deportivo 1:0Simeone
Valladolid                              1:0Simeone
Mérida 1:1Ángel Luiz (pb)
Saragoça                               1:0Simeone
Rayo Vallecano 0:0
Real Madrid               0:1
Oviedo 3:0Vizcaíno / Simeone / López
Betis                                      1:2Penev
Barcelona 3:1Penev-2 / Caminero
Valencia                                 1:0Caminero
Compostela 3:0Penev / Simeone / Roberto
Salamanca                             3:1Caminero / Penev / Roberto
Tenerife 3:1Juan Carlos / López / Penev
Albacete                                1:1Simeone
Real Sociedad           0:1
Racing 2:0Penev / Kiko
Athletic 4:1Kiko / Pantic / Penev / Biagini
Sporting Gijón                     2:1Pantic / Caminero
Sevilha 0:1
Espanyol                               2:0Kiko / Penev
Celta Vigo 3:2Juan Carlos / Simeone / Caminero
Deportivo                              2:2Penev / Pantic
Valladolid 0:2
Mérida                                    1:0Kiko
Saragoça 1:1Pantic
Rayo Vallecano                     3:0Pantic-2 / Biagini
Real Madrid 1:2Pantic
Oviedo                                   1:1Caminero
Betis 1:1Pirri Mori
Barcelona                             3:1Roberto / Vizcaíno / Biagini
Valencia 2:3Pantic / Geli
Compostela                           3:1Caminero-2 / Simeone
Salamanca 2:1Kiko-2
Tenerife                                 1:1Cesar Gómez (pb)
Albacete 2:0Simeone / Kiko
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