Great Scott #548: Quem marca o primeiro golo de ouro do futebol português?
Celestino
É um cambalacho xxl. Estamos no Verão 1973, o último da ditadura em Portugal. Descem à 2.ª U. Tomar e Atlético, sobem à 1.ª Olhanense e Académica. A liguilha é entre dois aflitos da 1.ª (Montijo e U. Coimbra) e dois espigadotes da 2.ª (Varzim e Oriental). Já se sabe, todos contra todos a duas voltas e os dois primeiros ganham o céu.
A liguilha é uma maratona, começa a 17 Junho e acaba a 21 Julho, com jogos todos os domingos. É o torneio mais enfadonho de sempre, com tão-só 19 jogos em 12 jogos. Para cúmulo, todas as equipas finalizam com duas vitórias, dois empates, duas derrotas e seis pontos. Entra em acção o sistema de desempate e a primeira regra é a diferença de golos. O Oriental, com 6-5, passa em primeiro. O U. Coimbra, com 3-4, está condenado ao último lugar. Pelo meio, Montijo (5-5) e Varzim (3-3).
Se valesse o confronto directo, passaria o Varzim com 0:0 no Montijo e 1:0 na Póvoa, precisamente no último dia (golo de Sousa II, a cinco minutos do fim). Como o regulamento nada diz sobre esse tema, a federação está obrigada a organizar uma finalíssima para daí a oito dias, uma segunda-feira, 29 Julho, em Leiria. E agora, Montijo ou Varzim? Ao intervalo, 0:0. No fim dos 90 minutos, 0:0. Há maneira de resolver isto?
Há, pois. O árbitro Joaquim Campos indica prolongamento e aplica-se a futurista regra do golo de ouro, com benefício para a Alemanha no Euro-96 e a França no Euro-2000. É muito simples: ganha quem marcar primeiro no tempo extra. Reinicia-se o jogo em Leiria e, aos oito minutos, penálti para o Montijo. Chamado a bater, Celestino cumpre a sua missão e engana Joaquim Sousa. A festa é rija para os lados do Montijo.
Celestino entra na história do futebol português. Logo ele que nascera para o futebol no Montijo, através das camadas jovens. Quando cumpre serviço militar em Coimbra, assina pela Académica e faz uma vistosa época como lateral-direito da equipa de Mário Wilson. É finalista da Taça de Portugal e é chamado para representar a selecção B portuguesa. Em 1968, Celestino vai para o Sporting e é campeão nacional em 1970 com um golo em 26 jogos. Perde o lugar de titular à conta de uma lesão e regressa ao Montijo, onde cumpre o sonho de chegar a capitão antes de pendurar as chuteiras em 1977, como jogador de 1.ª divisão. Ainda hoje é o recordista de jogos pelo Montijo entre os grandes (74).