Great Scott #578: Quem faz a falta do penálti no último minuto do ‘Fuga para a Vitória?’
Ardiles
Ponto de partida, Ardiles é um jogador único na história dos Mundiais. Só ele marca com camisola número 1, em 1982, vs Hungria de Meszaros. Quatro anos antes, Ardiles faz parte da equipa campeã mundial e veste o número 2. ‘Gostámos do estilo da ordem alfabética para os números da Holanda em 1974 e decidimos imitá-los em 1978, ano em que o Alonso vinha antes de mim. Em 1982, eu era o primeiro da lista e, claro, número um.’ Esclarecido, muito obrigado.
Entre os dois Mundiais, mais precisamente em 1981, o craque argentino entra no ‘Fuga para a Vitória’, de John Huston. O filme acumula qualquer coisa como 117 minutos. Os últimos 14 dizem respeito à épica segunda parte. O resultado ao intervalo é de 4:1, golos de Albrecht (14’), Strauss (25’), Bauman (31’ gp) mais Bronte (40’) para os alemães e Brady (44’) para os aliados. Só para esclarecer, Brady é Moore, Bobby Moore, eleito pela FIFA o melhor jogador do Mundial-66, à frente de Eusébio.
Pois bem, 4:1 ao intervalo. E agora? No balneário, a algazarra é imensa. Uns querem avançar com o plano de fuga pelos túneis do estádio, outros querem entrar para jogar a segunda parte. Palavra puxa palavra, o último a dar o braço a torcer é o guarda-redes Hatch (Stallone). Quem o convence é Pelé. Quando entram no relvado, a cara de alguns oficiais dos aliados é de espanto: tudo planeado ao milímetro e, de repente, a fuga é adiada por capricho. O capricho tem razão de ser, os onze aliados crescem a olhos vistos.
Rey (Ardiles) reduz aos 52’, o suplente Wolchek (Deyna) imita-o aos 76’. Só mais um, só mais um. Clure (Osman) empata aos 84’. O público delira, claro. O árbitro anula, óbvio. Balde de água fria. A dois minutos do fim, Fernandez (Pelé) saca uma bicicleta do além e faz o 4:4. Agora sim, é golo. Nada a fazer, a beleza do gesto é infinitamente superior a qualquer infracção. A bola vai ao meio, já só faltam um minuto e picos. O árbitro apita e os aliados ainda arriscam o 5:4 com um remate do norueguês Hillson (Thoresen).
Em cima do minuto 90, o número 10 Strauss liberta o 4 Bauman dentro da área e Ardiles faz um carrinho imprudente. Penálti. Evidente. O público cala-se, os aliados protestam junto do árbitro. Bauman agarra-se à bola, Hatch confronta-o olhos nos olhos. A tensão é grande. O plano da baliza dá ideia de espaço, muito espaço para meter a bola. Bauman atira, Hatch adivinha-lhe o lado e segura a bola com as duas mãos. Game over, 4:4. Os aliados saem em liberdade no meio dos entusiasmados adeptos no Estádio Colombes, em Paris (na verdade, é no Estádio do MTK, em Budapeste, ainda sem postes de electricidade em 1981 para transmitir mais realismo a um jogo durante a guerra).
Mais curiosidades fantásticas: há quatro Kuntz no onze alemão; o inglês Gordon Banks dá uns toques a Stallone como guarda-redes e há quatro jogadores do Ipswich nos 22 titulares (dois pelos aliados: Wark e Osman; dois pelos alemães: o guarda-redes Sivell e o número 10 Robin Turner) – atenção, muita atenção, o Ipswich de Bobby Robson levantara a Taça UEFA dois meses antes.
Eis os heróis do empate de 1 a 11
1. Sylvester Stallone (EUA)
Palavras para quê? É o Tango do Tango and Cash
2. Paul van Himst (Bélgica)
Levanta a Taça UEFA 1983 em pleno Estádio da Luz, como treinador do Anderlecht
3. Michael Caine (Inglaterra)
Na verdade, o homem chama-se Maurice Joseph Micklewhite
4. Co Prins (Holanda)
Passeia classe na RLD em A’dam (e, vá, é o primeiro estrangeiro na história do K’lautern)
5. Russel Osman (Inglaterra)
Das 11 internacionalizações pela Inglaterra, quatro vs Austrália
6. Bobby Moore (Inglaterra)
Capitão do Olympiacos vs Corinthians em 1972
7. John Wark (Escócia)
Autor de dois golos pelo Ipswich Town na final da Taça UEFA 1981, vs AZ
8. Ossie Ardiles (Argentina)
Emprestado pelo Tottenham ao PSG para evitar problemas durante guerra das Malvinas
9. Mike Sumerbee (Inglaterra)
Craque do Man City e melhor amigo de George Best, do Man United
10. Pelé (Brasil)
Divide o ecrã com Rogério Samora em ‘Solidão, Uma Linda História de Amor’ (1989)
11. Soren Lindsted (Dinamarca)
Único não internacional do onze dos aliados
Suplentes utilizados
Kazimariez Deyna (Polónia)
Último golo na 1.ª divisão polaca é vs Odra Ople, com Mlynarczyk à baliza
Hallvar Thoresen (Noruega)
Adivinhem-lhe o clube: é dono de um bar em Oslo chamado Highbury