Great Scott #584: Quem marca 5 golos no último jogo de futebol oficial no Estádio dos Yankees?
Chinaglia
Melhor marcador da 2.ª divisão italiana pela Lazio em 1972, com 21 golos, o avançado Giorgio Chinaglia é chamado à selecção italiana e marca na estreia, vs Bulgária. O homem, um armário robusto, com passada larga e futebol destemido, sempre de olho na baliza, faz-se à estrada e inicia aí o caminho do sucesso.
Três anos depois, em 1974, Chinaglia é o melhor marcador da 1.ª divisão italiana, novamente pela Lazio, agora 24 golos. Como se isso fosse pouco, a Lazio é campeã pela primeira vez na sua história (a segunda, e última, é em 1999 com Eriksson mais Fernando Couto e Sérgio Conceição).
Chamado à selecção em ano de Mundial, o génio de Chinaglia dá nas vistas. E, desta vez, sem qualquer golo. Quando o seleccionador Ferruccio Valcarregi o substitui a meio de um jogo na fase de grupos vs Haiti, o número 9 não faz a coisa por menos e manda-lhe ‘a quel paese’ a caminho do balneário, sempre em passo de corrida.
Joga na Lazio até Abril 1976, depois transfere-se para o Cosmos, onde joga com Beckenbauer e Pelé. Em nove épocas na NASL, marca 231 golos em 234 jogos (53 em 43 nos playoff). É uma máquina imparável, com cinco títulos de melhor marcador mais quatro títulos de campeão nacional. A sua sede do golo é igual à do protagonismo, daí ser frequente vê-lo a discutir com Pelé em lances de dois-para-um com o brasileiro a preferir a jogada individual em vez do passe para o homem isolado.
No último jogo de futebol oficial no Estádio dos Yankees, mais Cosmos, mais Chinaglia, mais Pelé. A história é simples, 8:2 vs Miami Toros, a 10 Agosto 1976. É mais uma noite de rotina para o Cosmos, com cinco golos e duas assistências para Chinaglia. Nas estatísticas norte-americanas, um golo vale dois pontos, uma assistência um. Posto isto, 12 pontos para Giorgio. É recorde nacional, é Chinaglia no seu melhor.
O único golo do Cosmos sem a sua participação é o melhor do jogo, uma bicicleta perfeita de Pelé ao segundo poste, assistido pelo escocês Charlie Mitchell na direita. É uma bicicleta digna do ‘Fuga para a Vitória’, a última da carreira de Pelé. ‘Acho que á sexta ou assim’, diz o brasileiro no balneário do Cosmos. Ao seu lado, Chinaglia também fala pelos cotovelos com os jornalistas sobre o penta de golos. ‘Nunca marquei cinco golos em Itália, isso só acontece muuuito de vez em quando.’
E o corte de três pontos na perna esquerda? ‘Foi o mote para esta exibição. Choquei contra o guarda-redes dos Miami e fiquei tão chateado que a única forma encontrada para expulsar a raiva foi marcar golos.’ E bem – quatro em 17 minutos, aliás os últimos quatro do jogo. Chinaglia passa de 4:2 para 8:2 num piscar de olhos e chega aos 19 golos na NASL 1976, um recorde para o Cosmos (e a época ainda está no adro).
Outro homem sorridente no balneário do Cosmos é Mitchell, o tal do cruzamento para a bicicleta de Pelé. O motivo? ‘Mal acabou o jogo, Pelé veio ter comigo e trocámos de camisola a seu pedido.’ Ainda hoje, em 2022, Mitchell tem emoldurada na sala de sua casa, em Tulsa (EUA), a camisola 10 de Pelé.
Já no balneário do Toros, a vida segue o seu ritmo. Tommy Mulroy, um miúdo de 19 anos, é o menos taciturno do plantel. ‘O treinador mandou marcar-me o Pelé e fiz tudo bem dentro do possível para o manter longe da baliza.’ Pelé marca duas vezes e assiste quatro. ‘Nem sempre o acompanhei devidamente, ele é, de facto, o melhor do mundo.’
Só a título de curiosidade, a única equipa portuguesa a jogar nesse estádio dos Yankees é o Benfica, vs Santos, em Setembro 1968. É mais um Eusébio vs Pelé. Acaba 3:3, com um golo de Eusébio e nenhum de Pelé.