Great Scott #637: Quem ganha o primeiro GP Portugal em F1?
Moss
É o primeiro ano do Mundial de Construtores e fixam-se as características da gasolina – apenas se poderia utilizar a gasolina de aviação AvGas, com grau de octana entre 100 e 130. Os esforços do ACP culminam na realização de um sonho, com a Avenida da Boavista a ser palco do primeiro Grande Prémio de Fórmula 1 em Portugal.
A 24 Agosto 1958 apresentam-se 15 pilotos, com a curiosidade de um deles ser do sexo feminino. É ela Maria Teresa de Filippis, a primeira das cinco mulheres na F1. Com o número 30, ao volante de um Maserati, Filippis parte do último lugar, em consequência dos resultados da véspera. Na corrida propriamente dita, acusa problemas mecânicos e é forçada a sair do circuito à sexta volta. Mais curioso é o abandono seguinte, do sueco Jo Bonnier – está esgotado fisicamente, à 9.ª volta.
Se acha tudo isto engraçado/surreal, então prepare-se para ficar de boca aberta. Porque o GP Portugal começa na Esplanada do Rio de Janeiro (que ainda hoje existe) e prolonga-se pela Avenida da Boavista e pela Rotunda do Castelo do Queijo, entre linhas de eléctrico, caminhos “pavé” e ruas estreitas com casas.
Um perigo? No way, diz Moss. ‘A pista é muito boa. Permite boa velocidade. É pena ser um pouco estreita nalguns sítios.’ Ao longo do circuito, confirma–se a presença de mais de cem mil pessoas, entre os quais é de registar um jovem de 20 anos chamado Juan Carlos, então herdeiro do trono de Espanha.
De volta à corrida propriamente dita, ganha-a o inglês Stirling Moss, dono da pole position com cinco centésimos de avanço sobre o compatriota (e rival ao título mundial) Mike Hawthorn. Na segunda volta, em plena Circunvalação, Hawthorn ultrapassa Moss e este recupera a liderança na quinta volta, com um segundo de avanço.
Até à 50.ª, zero ultrapassagens lá na frente. Vencedor: Moss. Em segundo: Hawthorn. A fechar o pódio, Stuart Lewis-Evans. Todos ingleses. E amigos. Ou mais que isso. Porque Hawthorn bate o recorde de velocidade na Boavista com 173,003 km/h na volta mais rápida e sai de pista a determinada altura da corrida. A organização quer puni-lo com desistência. Valea a intervenção de Moss.
Numa atitude digna de um good sportsmanship, o vencedor interfere junto da organização e evita a desclassificação do compatriota. Mantém-se assim o segundo lugar, com os consequentes seis pontos. No final da época da F1, Hawthorn é campeão mundial, com um ponto de avanço sobre Moss.