Great Scott #669: Melhor marcador português de fases finais em Europeus e Mundiais?
Gil
Referência incontornável e goleador por excelência, Gil é um dos nomes mais badalados das camadas jovens de Portugal no final dos anos 80. Com 59 internacionalizações entre 1989 e 1994, falha o salto à selecção AA e desaparece por completo do mapa.
Seja como for, esse parêntesis de cinco anos é do melhor que há e ainda hoje é o melhor marcador português em fases finais de Europeus e Mundial com um total de 14 golos. O seu registo começa a dar sinais de si no Euro sub16 em 1989, na Dinamarca.
O arranque é vs. Suíça e Gil desequilibra a balança a favor de Portugal com dois golos, um em cada parte (2:0). Na baliza, um tal Terranova – tal como Gil, desaparece do mapa. Dois dias depois, a 6 Março, a Noruega apanha três-secos. Figo abre a conta de penálti, Gil amplia numa jogada desenvolvida pelo lado esquerdo e Bino fixa na sequência de uma jogada com Gil e Geani.
Passam-se mais dois dias e fecham-se as contas do grupo A, vs. Roménia. Levado da breca, Gil marca um, dois, três, quatro-golos. É o homem do jogo, claramente. E ainda atira uma bola à trave. No final, os dirigentes da UEFA entram em campo para dar os parabéns à equipa técnica liderada por Queiroz. ‘Jogam como adultos.’
A ½ final é vs. Espanha, actual campeã europeia – curiosamente numa final vs. Portugal, resolvida nos penáltis, em Madrid. Mais uma vez, Gil. E em dose dupla (2:1). O avançado marca o primeiro de cabeça, após cruzamento de Canana, e o segundo de baliza aberta, na ressaca de uma bola à trave de Figo. A Espanha só reduz, e a custo. Aos 52’ penálti. Cuellar remata, Paulo Santos defende. A recarga é de Cuellar, a defesa é de Paulo Santos. Aos 56’, outro penálti para a Espanha. Agora sim, Cuellar engana Paulo Santos e fixa o 2:1.
Só falta a final, vs RDA. No dia 14 Maio, um domingo, em Vejle, as duas equipas entram em campo e só uma sai a festejar. É Portugal, com 4:1. Gil, muito bem marcado por Mohler, só consegue um golo, precisamente o último, de penálti, a castigar falta sobre Sérgio Lourenço. Antes, Canana, Figo (outro penálti) e Miguel Simão maravilham os espectadores.
Do inédito título campeão europeu sub16 até ao Mundial sub17, é um passo. Menos de um mês depois, a 10 Junho, a selecção apresenta-se em Edimburgo para dar cartas. Na estreia, Figo e Gil marcam vs. Arábia Saudita. A vantagem de dois golos é anulada por um futebol muito mais físico e até adulto. Os enviados-especiais portugueses Rui Santos (A Bola) e João Cartaxana (Record) entrevistam figuras do Mundial e escrevem sobre a Arábia Saudita.
Na memória de todos, a declaração do treinador brasileiro Ivo Wortmann, seleccionador da Arábia Saudita. ‘Seria incapaz de dizer algo que pudesse levantar suspeitas; se o fizesse, teria de o provar e isso não consigo.’ O treinador português Carlos Queiroz até sobe às paredes. ‘Defrontámos uma equipa de seniores que não tem futuro, só presente.’
Mais à frente, o boavisteiro Miguel Simão é um dos indignados. ‘A FIFA deveria estar em cima deste escândalo. Ter mais um ano ou dois é uma coisa, mais dez é outra.’ Para acabar, o portista Canana fala do que sabe. ‘O guarda-redes da Arábia Saudita é meu conhecido de Angola. Aliás, era criado da minha família. A gente tratava-o por Virosca e ele andava comigo ao colo. Ainda agora estivemos a conversar, a recordar Angola, e ele confessou-me que o meteram nesta selecção sub17.’
Adiante. No dia 12, Portugal ganha 3:2 vs. Colômbia e Gil, como é seu apanágio, deixa a sua marca. Só voltaria a festejar no 3.º e 4.º lugar, vs. Bahrain (3:0), numa tarde em que Tulipa é o homem do jogo com um bis. Pelo meio, Gil faz o 2:0 na recarga a uma bola ao poste de Miguel Simão. Antes, Gil fabrica o 1:0 pelo lado direito e o 3:0 com dois toques de calcanhar para se libertar de dois adversários.
Aí vão 13 golos. O 14.º aparece no Mundial sub20, na Luz, vs. Argentina. É o 1:0 aos 56 minutos, numa altura em que Portugal já joga com mais um elemento, por expulsão de Paris aos 42’ (vermelho directo). Daí para cá, nunca mais ninguém se aproxima dos 14 de Gil. Só Zeferino (12), JVP (11) e Nuno Gomes (10) chegam aos dois dígitos.
Eis o currículo de Gil
1989, Euro sub16
Suíça
Suíça
Noruega
Roménia
Roménia
Roménia
Roménia
Espanha
Espanha
RDA
1989, Mundial sub17
Arábia Saudita
Colômbia
Bahrain
1991, Mundial sub20
Argentina