Great Scott #680: Único jogador a marcar um livre da equipa adversária?
Mwepu
Faça uma lista dos jogadores mais talentosos a marcar livres directos: Zico, Platini, Mihajlovic. Tudo bem, desfile de estrelas. Só que como Mwepu não há igual. O lateral-direito do TP Mazembe é o ícone desse Mundial por ter marcado um livre do Brasil.
Quê? Não nos enganámos não, um livre do Brasil. O árbitro apita e Mwepu sai disparado da barreira para dar um pontapé tão forte que só pára no outro lado do campo, nas mãos do guarda-redes Leão. ‘As pessoas sempre gozaram connosco’, diz Mwepu. ‘Diziam que não sabíamos jogar futebol nem as regras, mas nunca entenderam o que estava em causa naquele livre com o Brasil.’
Ele explica-nos. ‘O apuramento foi uma festa imensa. O nosso presidente [ditador Mobuto Sese-Seko] prometeu mundos e fundos para cada jogador: um carro à nossa escolha, férias de 15 dias para duas pessoas num destino à nossa escolha e o mais importante de tudo: uma casa feita com o melhor material. Chegámos à RFA e nunca treinámos com a bola oficial do Mundial. Do presidente, só vieram os seus seguranças. Antes da estreia, vs. Escócia, um bruxo entrou no balneário, sabe-se lá como, a dizer que tinha posto não sei o quê numa das balizas. E outro bruxo apareceu sabe-se lá de onde com um poster de uma mulher nua para nos incentivar.’
A estreia é infeliz, 2:0 para a Escócia. ‘O presidente não gostou nada e cortou-nos os bónus todos, mais os prémios de estadia e de vitória. Ameaçámos greve. O assunto adiou-se e apanhámos 9-0 da Jugoslávia [6-0 ao intervalo]. Foi aí que os seguranças do presidente nos ameaçaram de tudo. Fecharam o hotel, impediram os jornalistas de entrar lá e disseram-nos que se sofrêssemos mais de três golos com o Brasil nem sequer chegaríamos a casa. Dá para imaginar o pânico de todos nós. Naquele lance, entrei em pânico. Nem pensei quando ouvi o apito do árbitro. Aquele lance é a nossa senha de indignação.”
Com 3:0, o Zaire cumpre o pedido de Mobuto.