Great Scott #731: Único capitão de uma equipa portuguesa a falhar um penálti de propósito?
Gervásio
PREC, sigla de Processo Revolucionário Em Curso, tempos conturbados na sequência do 25 Abril. Liguilha, palavra maquiavélica e nódoa negra no futebol português. Quanto se juntam, PREC e Liguilha, é o fungagá da bicharada.
Estamos em Julho 1975, dia 6, última jornada da Liguilha entre os dois últimos da 1.ª divisão e o 3.º mais o 4.º da 2.ª. Acredite, todos os quatro podem festejar. Veja-se lá a classificação. Académica 6 pontos, Oriental 5, Beira-Mar 5, Barreirense 4. E as contas? Simples: se o Beira-Mar ganha vs Oriental em Aveiro, a subida à 1.ª é um facto; se o Barreirense vence 3:0 vs Académica no Barreiro, idem idem.
O Beira-Mar confirma a ideia, com um golo de Edson a três minutos do fim. Os 13 mil adeptos no Mário Duarte deliram e invadem o relvado. Reposta a ordem, joga-se o tempo em falta. Mal soa o último apito do leiriense António Espanhol, dá-se a segunda invasão ao relvado.
E o Barreirense? O golo de Serafim aos 38’ anima o prélio. Na segunda parte, o Barreirense carrega o sonho da 1.ª nas suas botas, mas sem muita cabeça. Ali a meio, aos 63, o coimbrão Costa foge pela esquerda e entra na área. Abrantes sai-lhe aos pés e Mira faz falta indiscutível. O árbitro portuense Guilherme Alves assina penálti de pronto, sem pestanejar.
Marca-o quem? Essa é boa. Até lá, o relógio avança 1740 segundos. Qualquer coisa como 29 minutos. Porque um adepto invade o campo e desestabiliza por completo. O capitão barreirense Patrício dá o corpo ao manifesto, assim como o guarda-redes Abrantes, e protege a autoridade, à falta da mesma – sim, a GNR anda por lá sem a energia (desmedida, diga-se) de outros tempos. De repente, há um cardume de adeptos. Todos na direcção do árbitro e de um dos fiscais-de-linha, António Resende de seu nome e a sangrar da testa.
Tudo para dentro dos balneários até serenar os ânimos. Se isso for possível. O presidente barreirense Ezequiel Patrício pede calma aos seus adeptos, que sejam dignos do passado do prestigioso emblema. A malta lá desampara a loja e, entre algum sururu, permite o recomeço da partida, com o tal penálti. Marca-o, agora sim, Gervásio. O capitão da Académica corre, atira e a bola sai ao lado. De propósito? Ninguém sabe, só o subconsciente de Gervásio – ou nem isso. A verdade é que se fosse golo, o 1:1, o público iria ferver já em lume alto. Com o falhanço, o Barreirense pôde continuar a sonhar. Só isso, nada mais. Acaba 1:0 e a Académica mantém-se na 1.ª divisão