#46 Portugal 1992
A ideia é engraçada, e inédita. Obra de Juan Antonio Saramanch, ele próprio um praticante de hóquei em patins e, acima de tudo, um dos criadores do Mundial de hóquei em patins, ideia concretizada em 1951. Quarenta e um anos depois, como presidente do Comité Olímpico Internacional, é ele quem sugere o hóquei em patins como modalidade de demonstração nos Jogos-1992, em Barcelona.
As selecções participam de acordo com os resultados do último Mundial, em 1991, curiosamente conquistado por Portugal, no Porto. É uma competição especial. Pelo título, claro, e também pela ausência de jogos vs. Itália, Espanha ou Argentina.
Na fase de grupos, Portugal faz o pleno de cinco vitórias e 38:5 em golos. Nos ¼, dá oito-secos vs. Alemanha enquanto o Brasil surpreende a Itália (6:5) e a Espanha é ultrapassada pela Holanda (5:4). Na ½, Portugal 5 Brasil 1 e ainda Holanda 1 Argentina 1, com 3:1 nos penáltis.
A final é de sentido único, 7:0 à pobre Holanda com golos de Realista (2), Paulo Alves, Paulo Almeida, Vítor Hugo, Luís Ferreira e Tó Neves. Pois bem, Portugal entra em Barcelona como campeão mundial e candidato às medalhas.
O seleccionador António Livramento, craque do além, agora com 49 anos de idade, convoca dez artistas da bola.
1 Chambel
2 Rui Lopes
3 Luís Ferreira
4 Vítor Hugo (cap)
5 Tó Neves
6 Vítor Fortunato
7 Paulo Alves
8 Pedro Alves
9 Paulo Almeida
10 Franklin
O problema é o tratamento olímpico ao hóquei em patins. Porque Saramanch idealiza e, depois, não acompanha. Nem pode, há todo um mundo nas suas costas. No fim de contas, os Jogos-1992 representam o mundo pós-moderno sem Guerra Fria desde 1991 nem boicotes pela primeira vez desde 1972 – e ainda com o reaparecimento da África do Sul desde 1960.
Posto isto, as selecções, todas elas, jogam longe de Barcelona, longe da aldeia olímpica. A este propósito, a língua afiada de Livramento faz das suas: ‘Isto é a aldeia dos macacos’. Desprezados, afastados da doce realidade olímpica, os hoquistas desenvolvem o seu jogo como podem.
Divididas por dois grupos de seis equipas, Itália e Espanha passam sem derrotas. Já Portugal goza do melhor ataque (59) entre quatro vitórias e um deslize, vs. Itália. Na segunda fase de grupos, Portugal até arranca bem e vinga-se da Itália com 5:3. Depois, duas derrotas seguidas vs. Espanha e Argentina atiram-no para o abismo. O ouro é impossível.
Resta o bronze, no primeiro jogo da selecção portuguesa no Palau Blaugrana, a casa do Barcelona, então a equipa mais titulada das Europa com 10 Taças dos Campeões. Ao intervalo, o 2:1 é uma alegria. O problema é a segunda parte. Mariotti e Crudeli enganam Chambel e lá se vai a medalha.
Para a história, o 38:0 vs. Japão com 16 golos de Tó Neves. É ele o goleador português do torneio. De longe. O cabeludo marca 24 golos em 79 remates (30% de eficácia). Seguem-se-lhe Luís Ferreira (14 em 144, só 10%) e Vítor Hugo (10 em 87 dá 11%).
Primeira fase de grupos
Suíça 11:0
(Tó Neves-2 / Paulo Almeida-2 / Paulo Alves-2 / Pedro Alves-2 / Luís Ferreira / Vítor Fortunato / Vítor Hugo)
Japão 38:0
(Tó Neves-16 / Luís Ferreira-7 / Vítor Hugo-5 / Pedro Alves-4 / Paulo Alves-2 / Rui Lopes-2 / Paulo Almeida / Vítor Fortunato)
Argentina 1:0
(Paulo Almeida)
Itália 2:5
(Tó Neves / Paulo Almeida)
EUA 7:3
(Paulo Almeida-2 / Paulo Alves-2 / Tó Neves / Pedro Alves / Vítor Hugo)
Segunda fase de grupos
Itália 5:3
(Luís Ferreira-3 / Paulo Almeida / Paulo Alves)
Argentina 1:2
(Paulo Alves)
Espanha 1:3
(Luís Ferreira)
Holanda 7:2
(Vítor Hugo-2 / Vítor Fortunato-2 / Tó Neves / Luís Ferreira / Paulo Alves)
Brasil 8:2
(Tó Neves-3 / Pedro Alves-2 / Rui Lopes-2 / Vítor Fortunato)
3.º/4.º lugares
Itália 2:3
(Luís Ferreira / Vítor Hugo)