#47 Leixões 1960-61

Mais Spider Pig 03/19/2023
Tovar FC

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#47 Leixões 1960-61

Há coincidências, sempre. Se as bruxas soubessem, ai ai. O primeiro jogo de sempre do Leixões para a Taça de Portugal é vs. FC Porto, em Maio 1940. E o segundo também. É uma eliminatória dos 16 avos e o Leixões sofre duas goleadas do outro mundo, 12:1 em Matosinhos e 10:3 na Constituição. Desses 22 golos sofridos, nove pertencem ao génio madeirense Pinga. Nada a fazer, adiante.

E o Leixões arrebita e demora pouco tempo a fazer-se grande. Bastam-lhe 20 anos. Já estamos em 1960, outra edição da Taça de Portugal, e o Leixões já é equipa de 1.ª divisão com alguns artistas da bola, como o brasileiro Osvaldo Silva, despachado do FC Porto.

O sorteio da primeira eliminatória é-lhe benéfico e o Leixões esgrime argumentos com o secundário Alhandra. A estreia é no campo da Hortinha, 2:2. No mês seguinte, 4:0 com hat-trick de Garcia em Matosinhos e siga a marinha.

Segue-se o Caldas, também da 2.ª divisão. Em casa, 2:1. No Oeste, está 1:0 para o Leixões ao intervalo quando um temporal desaba sobre o campo da Mata e lá se vão as marcações do campo. O árbitro não vê razões para continuar o prélio e cancela o jogo, retomado daí a quatro dias, com Oliveira a fixar o empate a um golo a 12 minutos do fim.

Vem aí o Vitória SC, agora sim um adversário da sua divisão e até mais bem posicionado – é quarto vs. oitavo. Em Guimarães, o Leixões entra mais destemido e o 1:0 até é magro para tantas oportunidades falhadas. Ao golo de Ventura juntam-se a bola ao poste de Garcia e o quase-golo de Medeiros numa bola afastada na linha por Virgílio.

É legítima a reacção do Vitória em Matosinhos. Só que não. No campo Santana, o Leixões é quem mais ordena e o 2:0 ao intervalo é disso prova mais que evidente. Osvaldo Silva faz os golos da primeira parte, ambos de bola parada: um de livre directo e outro de penálti, a castigar falta sobre Jaburu. O Vitória só reage ao 4:0 e o bis de Pedras só conta para a estatística.

O Leixões está lançado e, ainda por cima, sai-lhe o União. Na altura, é União do Funchal, o campeão madeirense. É, isso sim, o União da Madeira. Na ilha, o Leixões dá água pela barba e ganha fácil com mais um show de Osvaldo Silva. No continente, o mesmo Osvaldo Silva mantém o nível exibicional.

Assim de repente, o Leixões já está na ½ final. Entre FC Porto, Sporting e Belenenses, calha-lhe o menos forte. Primeiro em jogo, depois fora. Espante-se, o Leixões acumula duas vitórias e celebra a ida ao Jamor em pleno Restelo, com bis de Oliveira.

Jamor? Essa é boa. Na outra ½ final, o FC Porto goleia o Sporting por 4:1 e anula a derrota por 2:1 na primeira mão. Pela primeira vez na história, Campeonato de Portugal incluído, a final junta duas equipas da AF Porto. Como tal, o FC Porto faz força junto da federação para passar a decisão para a zona geográfica dos dois clubes. Daí para as Antas é um passo. O Leixões protesta, e quê? Nada, o FC Porto leva a sua avante e a federação lava as mãos como Pilatos.

Domingo, 9 Julho 1961. Antes de falar sobre a final da Taça de Portugal, convém falar do Leixões no seu todo. A equipa está a fazer um óptimo trabalho no futebol e os juniores chegam à final da 1.ª divisão, em Coimbra – o Sporting levanta o troféu, póquer de Serranito e 4:0. E os seniores, que tal?

Pois, a jogar no campo do adversário é o cabo dos trabalhos. Ou não? O Leixões respira saúde, já se sabe. E, atenção, ainda não sabe o que é perder na Taça de Portugal 1960-61. Dos onze eleitos pelo argentino Filpo Núñez, sete nascem em Matosinhos e fazem a formação no Leixões. É incrível, um hino à entrega e resiliência.

O FC Porto, que trocara de treinador a meio da época (o argentino Francisco Reboredo entra para o lugar do brasileiro Otto Vieira), entra confiante nas suas possibilidades. Até porque ganhara 3:0 ao Vasco da Gama a meio da semana. É verdade, o Vasco desembarca em Portugal e vai ao Porto para um tetê-a-tetê. O FC Porto chama-lhe um figo, 3:0 ao intervalo com Noé a fazer gato-sapato de todos os brasileiros.

Confiança, muita. Tanto do FC Porto como do Leixões. Às 1730, o árbitro Décio Freitas apita para o início do prélio e há muito equilíbrio. Ao intervalo, 0:0 e uma má notícia para o Leixões com a lesão de Osvaldo Silva. O brasileiro nem regressa para a segunda parte e o FC Porto goza de vantagem numérica durante uns bons 11 minutos.

Quando Osvaldo regressa, aos 56’, cola-se à esquerda a fazer figura de corpo presente. Ligeiramente mais tarde, o mesmo Osvaldo vai para o meio e aí, senhoras e senhores, abre o livro em tão-só três minutos. É seu o passe para o 1:0 de Silva e é sua a jogada para o 2:0 de Oliveira.

Num abrir e fechar de olhos, o FC Porto vê-se a perder por dois-secos. Sem capacidade para reagir, o Leixões gere a bola e o tempo à sua maneira. Quando soa o último apito de Décio Freitas, é uma festa bem bonita. O Leixões levanta a Taça de Portugal contra todas as previsões e apura-se para a Taça das Taças.

O ambiente de festa prolonga-se por vários dias e o Leixões organiza um banquete para homenagear os campeões da Taça, os vice-campeões nacionais de juniores e também o associado Egídio Vieira, vice-campeão mundial de bilhar às três tabelas.

Leixões, que tomba-gigantes, uma proeza sensacional e sem conhecer a derrota uma única vez. Anos, muitos anos depois, em 2002, o Leixões comete a proeza de chegar a outra final, agora como digno representante da 2.ª divisão B, então guiado por Carlos Carvalhal. E estreia-se, finalmente, no Jamor. Decide um golo de Jardel.

(a negrito, os jogos fora)

Alhandra    2:2     Gomes / Medeiros

Alhandra     4:0     Garcia-3 / Ribeiro

Caldas          2:1     Oliveira / Gomes

Caldas         1:1     Oliveira

Vitória SC  1:0     Ventura

Vitória SC   4:2     Osvaldo Silva-3 / Oliveira

U. Madeira 3:1     Osvaldo Silva

U. Madeira  3:0     Osvaldo Silva / Oliveira / Gomes

Belenenses  3:2     Osvaldo Silva

Belenenses 2:1     Oliveira-2

FC Porto    2:0     Silva / Oliveira

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