Great Scott #935: Único golo de um algarvio numa final europeia?

Cavém

A história de Portugal em golos nas finais europeias é muito original, com ligações intercontinentais entre África e América do Sul. O mundo é nosso, já se sabe.

O primeiro de todos é José Águas, natural do Lobito, em Angola. É ele o capitão desse Benfica campeão europeu em 1961, vs. Barcelona, em Berna. O último é Cristiano Ronaldo, da Madeira. Pelo meio, há uma série de actores, todos principais. Ao todo, 22 golos. Contas feitas, 10 de portugueses de gema, outros 10 de africanos (sete moçambicanos, três angolanos), um do Brasil e mais um de Espanha, em forma de autogolo (Ramallets, guarda-redes do Barcelona).

Na área exclusiva de Portugal, quatro pertencem à Madeira. Sobram seis do continente. O único a bisar é Figueiredo, de Cernache do Bom Jardim. Seguem-se por desordem cronológica: Sousa (São João da Madeira), Jaime Graça (Setúbal), Morais (Cascais) e Cavém (Vila Real de Santo António).

Pois é, o Algarve está representado na lista por um dos jogadores mais polivalentes da história centenária do Benfica. Durante 13 épocas, Cavém faz quase todas as posições. No início da carreira, ainda no Lusitano da sua terra, é extremo-esquerdo. Assim continua. Covilhã, primeiro. Benfica, depois.

Só uma expulsão o faz perder esse lugar para o sub20 António Simões e recuar até ao meio-campo, e para o lado direito, a fim de preservar a dupla Ângelo e Cruz no flanco contrário. Mais à frente, já com 36 anos de idade, o homem despede-se dos relvados como lateral. Sempre a render o máximo, sem erros e muita competência dos pés à cabeça. E ainda hoje é detentor de um recorde maravilhoso na final da Taça de Portugal como o do marcador mais madrugador de sempre, com um golo aos 15 segundos vs. FC Porto.

Antes, ligeiramente antes, Cavém é titular nas duas gloriosas finais europeias do Benfica em 1961 e 1962. Na primeira, vs. Barcelona, é extremo. Na segunda, vs. Real Madrid, já é médio – lá está, por força da entrada de Simões. Em Berna, zero golos. Em Amesterdão, é seu o 2:2 ainda na primeira parte.

Com o Real Madrid em dupla vantagem, com dois golos de Puskas, é de Águas o grito do Ipiranga aos 25 minutos. Pouco depois, aos 34’, Eusébio domina a bola (os madridistas reclamam mão na bola) e amortece-a para o remate de fora da área de Cavém ao ângulo superior. Algarve, aí vamos nós.

Eis os heróis do golo (a negrito, os de Portugal)

1961     Águas                 Moçambique

1961     Ramallets          Espanha

1961     Coluna               Moçambique

1962     Águas                 Angola

1962     Cavém

1962     Coluna               Moçambique

1962     Eusébio              Moçambique

1962     Eusébio              Moçambique

1962     Mendonça         Angola

1963     Eusébio              Moçambique

1964     Mascarenhas    Angola

1964     Figueiredo

1964     Figueiredo

1964     Morais

1968     Jaime Graça

1983     Shéu                   Moçambique

1984     Sousa

2004     Deco                   Brasil

2008     Ronaldo            

2014     Ronaldo

2017     Ronaldo

2017     Ronaldo