Great Scott #958: Único português na primeira reunião da Associação Internacional dos Profissionais de Futebol, presidida por Maradona?
Neno
Veja lá bem este plantel de luxo: Maradona, Cantona, Raí, Rummenigge, Brolin, Weah, Zola, Abedi Pelé, Vialli. À baliza, Neno. Verdade, o guarda-redes é o único representante português presente na reunião de abertura da Associação Internacional dos Profissionais de Futebol, em Paris, no Hotel Méridien.
Estamos em Setembro 1995, dia 18, uma segunda-feira. Vítor Baía, o outro convidado pelo presidente Maradona, é ausência de vulto por estar em estágio com o FC Porto para o jogo dessa noite vs. Leça, na Póvoa de Varzim. Há 150 jornalistas na sala de conferências à espera de Maradona, atrasado meia hora em relação à hora marcada. Vinte cadeias de televisão transmitem o evento ao vivo e a cores. Maradona aparece, com Cantona ao seu lado, e diz de sua justiça sobre os sete pontos da recém-criada associação. CUrioisdade, tanto Maradona como Cantona estão suspensos pela FIFA, o argentino por positivo no controlo anti-doping no Mundial-94, o francês por agredir um adepto a meio de um jogo Crystal Palace vs. Manchester United
1 – Constituição de uma Associação Internacional dos Profissionais de Futebol
2 – Defesas dos princípios fundamentais do desporto, do futebol, e salvaguarda dos direitos morais e sociais dos futebolistas
3 – Salvaguarda dos direitos e da personalidade dos jogadores
4 – Defesa dos valores do futebol no quadro do desenvolvimento completo e não apenas estritamente desportivo da personalidade do jogador
5 – Ajuda aos jogadores dos países em vias de desenvolvimento
6 – Desenvolvimento dos princípios éticos e sociais do futebol, com referência ao princípio de solidariedade entre jogadores do mundo inteiro
7 – Assumpção do princípio que o futebolista é o elemento central do futebol e que é, portanto, susceptível dos direitos e deveres que devem ser continuamente reafirmados
Neno está feliz da vida por participar no evento e fala pelos cotovelos. ‘Você já viu os jogos que podemos fazer e o interesse que esses jogos podem provocar? Podemos angarias milhares de contos em receitas televisivas e, com essas verbas, auxiliar verdadeiramente a formação de jogadores em países menos desenvolvidos. Veja que bom seria podermos angariar dinheiro suficiente para abrir um centro de estágio num país africano, por exemplo. Porque nós bem sabemos da qualidade de muitos jogadores africanos que não conseguem desenvolver-se por falta de condições de trabalho.’
Também Maradona fala aos jornalistas, sem estar atrás de uma mesa. ‘Queremos unir-nos num abraço forte, inquebrável, e a nossa ambição não é a de tirar João Havelange [presidente da FIFA] do futebol. É, isso sim, mudar as coisas, as formas de pensar e participar activamente em tudo o que se prepara para o futebol de amanhã.’ Os exemplos de erros crassos num tempo recente são passados a pente fino, como o horário dos jogos no Mundial-94, por força da exigência das cadeias televisivas.
George Weah, eleito melhor do ano pelo France Football nesse ano, daí a três meses, também diz de sua justiça. ‘Não há possível que um jogador saia de Paris no avião da uma da manhã e, no dia seguinte, esteja na Libéria para entrar em campo ao meio-dia. Alguma coisa tem de ser feita e o primeiro passo foi dado.’