Great Scott #994: Quem alerta o árbitro da final do Mundial-2006 para a cabeçada de Zidane no peito de Materazzi?
Medina Cantalejo
Para chegarmos ao 9 Julho 2006, dia da final do Mundial da Alemanha, é obrigatório recuarmos até às ½ finais. E não, não vamos falar daquela entre Portugal e França, resolvida com um penálti de Zidane a castigar falta de Ricardo Carvalho sobre Henry, mas sim da outra, entre Alemanha e Itália.
O jogo de cortar a respiração é em Dortmund, onde a Alemanha nunca perdera desde a estreia em Abril 1974, com um currículo de 14 vitórias e um empate (vs. Gales em 1977). À partida, é o local ideal para quebrar a tradição – leia-se, invencibilidade da Itália vs. Alemanha em Mundiais (0:0 em 1962 + 4:3 em 1970 + 0:0 em 1978 + 3:1 na final de 1982). Pela terceira vez, eles teimam no 0:0.
Vamos para prolongamento e algo de mágico acontece com a fantástica exibição italiana, culminada com dois golos nos últimos minutos, um de Grosso e outro de Del Piero. É uma lição de futebol, é a Itália a soltar o grito do tetra com cinco dias de antecedência. A França é uma adversária temível, claro, sobretudo após eliminar categoricamente Espanha, Brasil e Portugal, sempre com um Zidane fenomenal.
Cantará o galo em Berlim? Os primeiros minutos confirmam o ascendente francês, com um penálti de Zidane à Panenka, cometido por Materazzi, aos 7’. O central italiano redimir-se-ia do lance com o 1-1, de cabeça, após canto de Pirlo (19’). Empate, recomeça de novo. É a primeira final desde 1978 sem Alemanha nem Brasil, e isto promete.
Aos 35’, Luca Toni acerta na trave e o avançado ainda veria o árbitro argentino Horacio Elizondo anular-lhe (bem) um golo. Segue-se o prolongamento, em que a França aparece mais decidida a resolver o quanto antes. Daí que Buffon tenha feito a defesa da noite a um cabeceamento de Zidane. É canto. O do cisne.
A partir daí, a estrela da França apaga-se aos poucos e desaparece por completo aos 110’, quando dá uma cabeçada no peito de Materazzi sem que nada (aparentemente) o justifique. A bola está longe dos dois. Tanto assim é que Elizondo nada vê e, só depois de alertado pelo quarto árbitro (o espanhol Medina Cantalejo), puxa do cartão vermelho directo. Assim, sem contemplações.
É a 14.ª expulsão da carreira para o francês, a segunda em Mundiais (imita o camaronês Song), após aquela com a Arábia Saudita em 1998. A cena de um cabisbaixo Zidane a passar ao lado da taça do mundo, a caminho dos balneários, nunca se esquecerá. Com dez, a França encolhe-se e o jogo arrasta-se para os penáltis. Será a segunda decisão na linha dos 11 metros – na primeira, a Itália perde com o Brasil em 1994. Como se isso já não fosse traumático, o desacerto italiano é total em mais duas situações: Argentina na ½ finais em 1990 e França nos ¼ final em 1998.
Será desta? Pirlo diz sim. Wiltord empata. Materazzi, assobiado pelos adeptos franceses, mantém a cabeça fria para o 2:1. Segue-se Trezeguet, o carrasco da Itália na final do Euro-2000, e a bola vai à trave. Uiii, que ironia. De Rossi faz o 3:1, Abidal reduz, Del Piero dá forza à Itália e Sagnol faz o 4:3.
Pressão extra para Grosso. Se ele marcar, assunto arrumado. O lateral-esquerdo do Palermo olha para o céu, começa a correr, bate na bola e engana Barthez. Não é treta, a Itália é tetra.