Great Scott #159: Único jogo da selecção portuguesa só com dez jogadores de início?
Portugal vs Brasil 1990
Praias, casinos, sol, glamour. Os franceses convencem-se de que o Sul de França é o lugar mais civilizado do planeta. A comida e o vinho são celebrados. A cultura, a literatura, a arte, o cinema e a arquitectura são tão profundos quanto provocativos. No Sul, há intelectualidade, sensualidade e mediatismo. Como o festival de cinema em Cannes e o torneio de futebol em Toulon.
A fama de Portugal já é considerável, muito pela conquista do Mundial sub20 no ano anterior, em Riade. O nosso grupo em Toulon é o A. Na estreia, 1:0 à Inglaterra com golo de Paulo Madeira, aos 70’. No segundo jogo, 1:0 à URSS com golo de outro central (Fernando Couto) em cima dos 90’. Basta-nos um empate na terceira jornada para chegar à final. Nada feito, a França marca por Gava e rouba-nos a liderança, por troca com a Inglaterra. É um jogo quezilento, com três expulsões. As primeiras duas ao mesmo tempo para Fernando Couto e Pickeu. A última para Cintas. Os anfitriões acabam em desvantagem numérica, nove para dez.
O seleccionador português António Oliveira está virado do avesso. ‘A organização fez tudo para nos tirar da final. Agora não tenho jogadores para o jogo com o Brasil.’ No dia 27 Maio 1990, acontece o impensável e Portugal entra em campo só com dez jogadores e nenhum suplente. Na baliza, José Carlos (Paredes). Na defesa, Neves (Aves), Paulo Madeira (Benfica), Hélio (Vitória FC) e Morgado (Feirense). No meio, Amaral (Sporting), Camberra (Atlético), Filipe (Sporting) e gama (Fafe). No ataque, Rosário (Olivais e Moscavide). E agora?
O apito do inglês Lewis soa e vamos a isso. O adversário é nada mais nada menos que o Brasil, afastado da final pela Checoslováquia nas contas do grupo B. No onze brasileiro, há figuras imperdíveis. Como Cafu e Leonardo, futuros campeões do mundo em 1994. Como Assis, irmão de Ronaldinho.
Contra todas as expectativas, Portugal até marca primeiro. E um golo de belo efeito, cortesia Amaral – que já eliminara o Brasil na ½ final do tal Mundial sub20 em 1989. É um livre indirecto; Rosário toca a bola para o lado e Amaral atira com o pé direito. O guarda-redes Velloso nem se mexe. Pudera, o remate é indefensável, a bola entra rasteira e junto ao poste. O empate do Brasil chega aos 29’, por Moacir, na sequência de uma defesa incompleta de José Carlos ao livre venenoso de Assis. Aos 37’, reviravolta por Cafu, num pontapé fora da área. Começa aqui a debandada geral.
Morgado sai ferido na cabeça. Segue-o Filipe, também por lesão. Ao intervalo, Rosário nem reentra em campo, lesionado num joelho. A segunda parte começa num escanifobético 11 para sete. Ao segundo minuto, Paulo Madeira lesiona-se e game over. O jogo é interrompido por falta de jogadores. Já no hotel, Oliveira volta a falar de jogo sujo por parte da organização. ‘Não nos queriam na final, fomos vítimas de uma grande injustiça no jogo com a França. Depois, com o Brasil, a situação foi muito clara. O boletim médico dava-nos conta de alguns lesionados e só pudemos entrar com dez. Poderiam ter sido menos até, só que o esforço de alguns destes jogadores foi hérculeo. Todos deram o seu melhor, com dignidade e sacrifício.’