Alex Ferguson

Here's Johnny Mais 03/09/2020
Tovar FC

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Alex Ferguson

Alex Ferguson. O nome acompanha-nos há anos e anos. Mesmo um perfeito iletrado em futebol sabe quem ele é.  É o homem de cara rosada, o senhor que masca furiosamente pastilha elástica, o veterano que festeja todos os golos como se fossem o primeiro da sua vida, o treinador do Manchester United. Sim, ele já não o é, mas who cares? Continua a sê–lo por direito próprio. É obra aguentar–se firme e hirto durante 26 anos e meio num trabalho, é obra, repetimo-nos. E a obra dele está escarrapachada numa autobiografia de 332 páginas. De leitura fácil, apaixonante.

Alex Ferguson, My Autobiography (2013)

Página 51

“Ouça os médicos. Faça análises. Preste atenção ao seu peso e àquilo que come. Sinto-me feliz por dizer que o simples acto de ler é uma maravilhoso alívio para as pressões do trabalho e da vida, mas nunca conseguirei considerar-me um especialista em vinhos. Conheço as boas colheitas e os bons vinhos. Sou capaz de provar um e distinguir as suas propriedades. Só. (…) Nunca fui um grande dorminhoco, mas garantia as minhas cinco ou seis horas de sono. Há pessoas que acordam e ficam deitadas na cama. Nunca consegui fazer isso. Desperto e salto para o chão de imediato. Estou pronto para ir a qualquer lado. Não fico estendido a desperdiçar o meu tempo.”

Os carros, as pessoas, as roupas: viva os 80’s

Página 110

“Fico aflito só de ver agulhas. No meu tempo de gerente de pubs, em Glasgow, estava a mudar um barril, certo domingo de manhã, quando uma ratazana saltou para o meu ombro. Dei um pulo para a frente e um espigão do barril entrou-me pela bochecha. Ainda é possível ver o implante de pele. Guiei os três quilómetros até ao hospital com medo de lhe mexer. A enfermeira tirou-mo e desmaiei mal me espetaram a agulha. Ela: ‘Este é que é o grande avançado do Rangers?”

Ronaldo, the best

Página 118

“Nos treinos, os jogadores eram bons com ele [Ronaldo]. A princípio, de cada vez que era carregado, soltava um grito terrível ‘aaahhhhh!’. Os colegas troçavam dele. Depressa deixou de fazer esse tipo de algazarra. A sua inteligência ajudava. A partir do momento em que percebeu que, nos treinos, não tinha uma boa audiência para os seus gritos e para o seu teatro amador, parou com isso.”

Página 137

“Roy [Keane] é um indivíduo inteligente. Apanhei-o a ler alguns livros verdadeiramente interessantes.  É um bom conversador e uma boa companhia, quando está para aí virado. Os fisioterapeutas costumavam entrar no meu gabinete e perguntavam: ‘Como está hoje a disposição do Roy?’, porque isso determina o ambiente de todo o balneário. A parte mais dura do corpo de Roy é a língua. Pode debilitar a pessoa mais confiante do mundo em segundos com a língua. Um dia, começámos a discutir, e notei que os olhos dele começaram a ficar finos, dois riscos negros. Foi assustador. E eu sou de Glasgow.”

Página 145

“O assassínio de John Kennedy, em Dallas, em 1963, deixou-me uma marca desde o momento em que ouvi as notícias. Ao longo do tempo, desenvolvi um interesse forense em relação à forma como ele morreu, às mãos de quem e porquê. Recordo-me desse dia que chocou o mundo. Era uma sexta-feira à noite, eu estava frente ao espelho, barbeando-me, no quarto de banho, preparando-me para ir ao baile com os meus amigos. Meia hora antes, as notícias rebentaram. Ele tinha sido levado para o Hospital de Parklands. Vou lembrar-me, para sempre, no baile, no Flamingo, perto de Govan, de ouvir a canção que chegou aos tops ‘Do You Like to Swing on a Star?’. O ambiente estava soturno. Em vez de dançarmos, fomos para o andar de cima falar sobre o assassínio.”

Página 157

“Estava em casa numa noite de neve em Janeiro de 2010 quando o meu telemóvel apitou com uma mensagem. ‘Não sei se se lembra de mim’, começava, ‘mas precisava de falar consigo.’ Ruud van Nistelrooy. Respondi-lhe okay e ele ligou. Primeiro, conversa de chacha, blá blá blá. Depois saiu-se com esta: ‘Quero pedir desculpa pelo meu comportamento no meu último ano no United.’ Gosto de pessoas que conseguem pedir desculpa. Sempre admirei isso. Nesta cultura moderna de auto-absorção, esquecemo-nos que existe a palavra ‘desculpa’. É bom encontrar um que seja capaz de pegar no telefone mais tarde e dizer: ‘Estava errado, peço desculpa.’”

‘Nani, pass the freakin ball’

Página 175

“Vidic gostava. Adorava o desafio de estar lá no meio [de um jogo de futebol]. Vidic é um tipo obstinado, intratável. Um sérvio orgulhoso. Em 2009, veio dizer-me que talvez pudesse vir a ser chamado. ‘Que queres dizer com isso, chamado?’, alarmei-me. ‘Kosovo. Vou para lá’, respondeu. ‘É o meu dever.’ Li a decisão nos seus olhos.”

Página 225

“Para um homem com 35 anos, a sua disponibilidade para escutar os treinadores era espantosa. Queria ouvir as leituras tácticas feitas pelo Carlos [Queiroz] e embrenhava-se em tudo o que fazíamos. Henrik Larsson era soberbo nos treinos: os seus movimentos, o seu jogo posicional. No seu último jogo, estávamos a perder em Middlesbrough quando o meti em campo. Deu o litro e um quartilho. No seu regresso às cabinas, todos os jogadores se reuniram para o aplaudir e o resto do staff juntou-se-lhes. É preciso ser um grande jogador para criar tal impressão em tão-só dois meses.”

Página 228

“Fui ver pessoalmente Nani. O que me atraiu foi o seu ritmo, força e jogo aéreo. Tinha dois belos pés. Todas as qualidades individuais estavam lá, o que levava à velha questão: que tipo de rapaz é ele? Resposta: boa índole, sossegado, sabia falar inglês razoavelmente, nunca causou qualquer problema no Sporting, gostava de treinar. Mantinha-se em forma. Era bem ginasticado. Puro material em bruto. Era imaturo, inconsistente, mas com um fantástico instinto para o futebol. Conseguia controlar a bola com qualquer dos pés, cabecear e era um poço de força física.”

Página 251

“Um dia, nos anos 90, Johan Cruijff disse-me ‘Vocês nunca hão-de ganhar a Taça dos Campeões!’. Espantei-me: ‘Porquê?’ A resposta pronta: ‘Não jogam sujo e não compram árbitros.’”

1986, mais um Mundial em que a Escócia é eliminada na fase de grupos

Página 277

“Uma vez fui ver um jogo a Itália entre o Milan e o Inter. Um dirigente do Inter disse-me isto: ‘Sabe qual a diferença entre ingleses e italianos? Em Inglaterra, não vos passa pela cabeça que um jogo possa ser comprado. Em Itália, não nos passa pela cabeça que um jogo não possa ser comprado.”

Página 288

“Conseguem imaginar-me no cargo de seleccionador inglês? Eu, um escocês? Sempre disse, na brincadeira, que, se fosse treinador da Inglaterra, faria com que baixasse para o 150.º lugar do ranking da FIFA, com a Escócia em 149.º. Não, nunca me senti tentado a deitar-me nessa cama de pregos.”

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