Uma espécie de avô (do best)
Vicente del Bosque é uma figuraça. Cruzo-me com ele no Euro-2012 e é um fartote. Durante o treino, dá a táctica, ri-se com os jogadores e convida os jornalistas para entrarem no relvado numa parte (ainda) mais descontraída. Troca ideias com eles e sai de cena num passo pachorrento. Quando o assessor de imprensa o avisa dos deveres do dia, como um trabalho de vídeo com o “El Mundo” e uma mini-entrevista com a “Gazzetta dello Sport”, o homem estica o polegar. Como quem diz, fixe. É o homem mais cool do torneio. Arriscamo-nos a acrescentar do Mundo e, vá, Universo. É o maior, sempre atencioso e com disponibilidade ilimitada para atender a todos os pedidos, sejam eles jornalistas ou adeptos. A primeira vez que nos cruzamos é em Março 2007, ainda ele é comentador da rádio Cadena SER. É noite de Liga dos Campeões, 1.ª mão dos quartos entre Madrid e Bayern. O vencedor encontra o Porto em Viena. Falta uma hora para começar o jogo e esbarramos na porta de acesso à bancada de imprensa do Bernabéu. Com o ar mais simpático deste mundo, saludos para aqui, saludos para ali. Cinco minutos depois, novo encontro. Agora à frente da televisão onde passa o Madrid-Bayern de 1987. Quando o central alemão Augenthaler é expulso com vermelho directo, abandona o relvado a fazer “cornos” na direcção do banco de suplentes do Madrid. É então que o paz d’alma Del Bosque, então adjunto, salta como uma mola e insurge-se contra a má educação. Uli Höness, também adjunto, do Bayern, reage energeticamente e inicia-se um mega sururu só sanado pela intervenção policial. Estamos a ver estas cenas nada edificantes quando Del Bosque estaciona ao nosso lado, também focado na televisão. Olhamos para Del Bosque. Acto contínuo, arregalamos os olhos para ver se é meeeesmo o Del Bosque ali ao lado – e comparamos com o da televisão. É ele, sem dúvida. E confirma-nos com um piscar de olho ao mesmo tempo que solta com o ar mais cândido “aquele ali não sou eu, não acredites em tudo o que vês.”