Totobola – 21 Janeiro 1962
É um boletim sui generis, com quatro jogos da 1.ª divisão, mais três da 2.ª zona norte, outros quatro da 2.ª zona sul e dois da Liga espanhola, clássico incluído. E é também é um boletim histórico pelo jogo 3. Exactamente, Atlético-Vitória SC. No campo, dois Carlos Gomes. Ambos do Atlético, um à baliza e outro ao ataque. O guarda-redes é uma figura icónica. Joga de preto em protesto com os doutores da bola, que negoceiam contratos à revelia dos interessados e impõem multas astronómicas por falta de garra ou esforço. Enfim, uma pornochachada do além. Carlos Gomes, irreverente até à medula, está farto dos dirigentes do futebol, normalmente ligados à política. Nesse domingo, há agentes da PIDE na Tapadinha para interrogarem Carlos Gomes no final do jogo. Em causa, uma pseudo-violação do número 1 num estúdio de fotografia por si gerido. Avisado com antecedência, Carlos Gomes participa na charada e alinha de início para evitar levantar suspeitas. Ao intervalo, foge pela porta das traseiras para dentro de um boca de sapo de um amigo e arranca para Tânger. Quando a PIDE dá conta da sua ausência (entra Pinho para o seu lugar), já é tarde. Em Marrocos, o nosso Carlos Gomes continuará de preto, em protesto.
ACADÉMICA-SALGUEIROS 1
Que tarde imperdível, no Municipal de Coimbra. A primeira parte é toda do extremo-direito Crispim, autor de quatro golos. Quatro, incrível. No segundo tempo, o interior esquerdo Gaio comete a mesma proeza. Quatro, póquer. É demais. Pobre Arsénio à baliza. E o Salgueiros? Marca unzinho, por Benje, de penálti (é então o 7:1).
LUSITANO-SPORTING 2
Concluída a primeira volta sem qualquer derrota, o líder Sporting estica a imbatibilidade em Évora. O brasileiro Geo solta o primeiro rugido, de livre directo, com culpa para o estático Vital. O empate chega por Carraça e dura até aos 75’, altura em que Geo bisa, de cabeça. O 1:3 final é de Morais, num remate colocado e sem preparação.
ATLÉTICO-GUIMARÃES X
O sensacional 3:3 é um regabofe dos sentidos. O Atlético começa melhor, muito melhor, com dois golos, um de Carlos Alberto e outro de Carlos Gomes. O Vitória acorda e chega ao empate antes do intervalo, com um bis de Amaro. Na segunda parte, o Atlético volta à vantagem (autogolo de Augusto Silva) e o Vitória responde à letra (Ferreirinha). Haja emoção
CUF-BELENENSES 1
Campo de Santa Bárbara à pinha para curtir a superioridade da CUF sobre um Belenenses sem ambição por aí além, comprovada pela falta de remate de Matateu. No outro lado, Medeiros atira duas bolas seguidas à trave, ambas de cabeça. Os golos só aparecem na segunda parte e de rajada: Uria 72’, Medeiros 73’ (de cabeça, claro).
VIANENSE-MARINHENSE 1
O Marinhense aposta na subida inédita à 1.ª divisão e contrata o argentino Mario Imbelloni, estrela do San Lorenzo nos anos 40, então com 36 anos. O Vianense é mais simples e aposta no quinteto dos pês: Piloto, Passos, Pepe, Pinho e Palhares. O golo solitário é de Pepe, de penálti, na primeira parte.
TORRIENSE-CALDAS X
Torreense e Caldas convivem um ao lado do outro. Geograficamente, queremos dizer. Na primeira volta, 1:0 para o Caldas. Na segunda, em pleno Manuel Marques, o Torreense toma as rédeas do assunto e marca bem cedo. É uma alegria infinita. Só que o Caldas reage com galhardia e chega ao empate a meio da segunda parte.
SANJOANENSE-FEIRENSE X
Aviso prévio: o Feirense vai ser o campeão da zona norte, à frente de Braga e Boavista. No arranque da segunda volta, encosta em São João da Madeira e desce ao segundo lugar. Grilo marca, sem hipótese para o guarda-redes espanhol Martín. Vale aos feirenses a desastrosa intervenção de Alvarez a garantir o 1:1 aos 52’
SEIXAL-BARREIRENSE 2
Famoso pelos nove golos no Sporting vs Apoel daí a ano e meio, Mascarenhas já resolve berbicachos na 2.ª divisão. Teodoro abre e fecha o marcador, para o Seixal. Pelo meio, Mascarenhas, Mira e Mascarenhas. Acaba 2:3. O Barreirense acumula a 13.ª vitória em 14 jornadas e caminho a passos largos para a 1.ª divisão.
LUSITANO VR-MONTIJO X
Movimentada, a tarde no campo do Socorro. O Lusitano chega à vantagem através de Marco. O número 9 Serra dá a volta ao marcador ainda antes do intervalo. Na segunda parte, o defesa ex – farense Armando fixa o empate a dois minutos do fim. Pormenor delicioso: o número 10 do Montijo chama-se João Paulo Silva Futre. Ah poizeeeee
SACAVENENSE-ORIENTAL 1
Uma só vitória na primeira volta é o frágil cartão de visita do Sacavenense. Os adeptos gostam pouco. E atiram-se ao árbitro. A peripécia dá um jogo de castigo e joga-se em Moscavide, no Alfredo Marques Augusto. Que serve de inspiração: Licas, Muralha e Rocha fazem golo nos primeiros 16 minutos. O Oriental só reduz, por Faustino e Videra.
CAMPOMAIORENSE-PORTIMONENSE 1
No apito, Pinto da Costa. Um senhor. De Portalegre. Saco de pancada aqui e ali ([7:2 no Montijo, 7:1 em Setúbal, 8:3 no Seixal), o Campomaiorense dá uma alegria aos seus adeptos no Campo Capitão César Correia com dois golos em cada parte. José Mário (de cabeça) e Ludovic na primeira, Manuel Carlos e Conceição (penálti), na segunda.
BARCELONA-REAL MADRID 1
Separados por três pontos, o clássico desperta uma tensão desmensurada. Sem Di Stéfano, o Real Madrid perde magia e bloqueia. O brasileiro Evaristo faz o primeiro da tarde e o húngaro Kocsis o segundo. Intervalo. O brasileiro Evaristo faz o 3:0. Cabe a Félix Ruiz reduzir. O Real Madrid ainda dorme na liderança – e será campeão espanhol (e vice europeu, final perdida para o Benfica).
REAL SOCIEDAD-SARAGOÇA 1
Dos 22 jogadores em campo, só dois estrangeiros e ambos do Saragoça: o peruano Seminário e o brasileiro Duca. A Real, fiel ao nacionalismo até à contratação do galês Aldridge no final dos anos 80, estreia Herrera. Emprestado pelo Real Madrid, o avançado assinala o único golo da tarde, aos 48 minutos.