Jokanovic. “O Ernesto Paulo seria top se não passasse tanto tempo nos churrasquinhos”

Quem Te Viu E Quem TV 06/18/2020
Tovar FC

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Jokanovic. “O Ernesto Paulo seria top se não passasse tanto tempo nos churrasquinhos”

Jokanovic é especial. Joga nos três clubes da Madeira na 1.ª divisão (União, Marítimo e Nacional, por ordem cronológica), marca três golos de penálti num só jogo (vs Salgueiros) e, agora sim, é a cereja no topo do bolo, passa a quarentena a jogar basquetebol. ‘Nem te passa pela cabeça, fooooogo, estou numa forma invejável; amigo, emagreci oito quilos, oito vê bem’. A chamada desliga-se. No quadradinho seguinte, um vídeo curto enviado por Jokanovic. Um triplo, festejo, Um afundaço, festejo. Um drible seguido de dois pontos, festejo. Jokanovic em grande. Toca o telefone, de novo. É Jokanovic, again. ‘Viste, amigo? Estou em forma, jogava na boa nos Bulls 1998, com Jordan, Pippen, Rodman, Kukoc e tal’. O documentário do momento é o que é. “Sabes quem me filma? A minha filha Nancy.” E o teu filho? “O Luka está na Sérvia, em Belgrado, a curtir o jogo de exibição de Djokovic, Thiem, Zverev e Dimitrov. Ficou maluco, foooogo. Os gajos jogam muito, pá. O Djoko, então, é uma máquina. Olha, amigo, tenho de desligar, vou fazer a minha corrida habitual. Antes, vê o que te envio.” Um vídeo? Nãããããããã, o currículo da Jugoslávia no basquetebol. No dia seguinte, faz-se a chamada definitiva sobre o União da Madeira.

Bom dia Joka, tudo bem?

Amigo, como vais? Viste o meu whatsapp de ontem? A selecção jugoslava, viste?

Viiiii, espectáculo.

Um ouro olímpico, cinco Mundiais, oito Europeus. Que equipa, fooooogo.

E a tua equipa do União, hein?

Ahahahahah. Outra grande equipa, foooogo. Nem te digo nada, jogávamos bem mas bem. Às vezes, amigo, só com estrangeiros. Fomos pioneiros. Na altura, todos nos criticaram. Agora, olha, é o que se vê. O Benfica do Jesus jogava sem nenhum português, às vezes. Mas aí poucos falavam, era tudo bonito. Baaaaahhhhhh. Fomos pioneiros. Nós, do União.

Quem era a figura?

Fooooogo, não sabes? Jaime Ramos. O segundo homem mais importante da Madeira, depois de Alberto João.

E que tal?

Impecável, nunca nos falhou com nada.

Esta equipa do União começa com Zivanovic, número 1.

Ziva, bom guarda-redes. Craque mesmo, sabes? Um dia, era ele suplente do Simunovic no Estrela Vermelha, entrou a meio de um jogo europeu em Milão, com o Inter, e defendeu um penálti do Altobelli. Escreve aí em letras maiúsculas, craque. E morreu tão cedo.

Quando?

Em 2016. Uma morte estúpida, na Sérvia, em Belgrado. Almoçou com dois amigos e perguntou-lhes se queriam dar um mergulho. O Ziva era um nadador do caraças. Nenhum dos amigos quis, porque isto e aquilo. O Ziva foi sozinho para o lago e teve um problema de coração. Morreu afogado. Foi um choque para todos nós. Olha, o Peseiro largou tudo e foi ao funeral dele, na Sérvia. O Ziva fez toda a carreira como adjunto do Peseiro.

Nelinho, 2.

Madeirense, nosso capitão. Dizem por aqui que o pai dele também era craque do União, como ponta-de-lança. O Nelinho fez muitos jogos até chegar o Milton Mendes. Há uma imagem engraçada do Nelinho num jogo com o Sporting em que ele defende uma bola com a mão e o árbitro [Isidoro Rodrigues] assinalou canto. Foooogo, que barraca. Ele, que media um metro e meio, meteu mão na bola e o árbitro assinalou canto. Isso é verídico, está na internet.

Estou a ver aqui esse jogo, 0-0 nos Barreiros. Três expulsões.

Fui eu, pelo União, mais Peixe e alguém [Cadete] pelo Sporting.

Joilton, 3.

Jogador normal, brasileiro. Alternava com o Paulo Jorge.

Dragan, 4.

Bom, muito bom. E fazia cá uma dupla com o Marco Aurélio. A melhor dupla de centrais, excepção feita os três grandes. O Benfica devia ter Ricardo e Mozer, o Porto Jorge Costa e Couto, o Sporting Naybet e Peixe, não? Acho que era. A nossa dupla era a melhor desse campeonato. O Dragan era um central de marcação, impressionante pelo ar.

Marco Aurélio, 5.

Craque, saía bem a jogar. Foi para o Sporting, depois Itália. Tinha qualidades futebolísticas e humanas. Muito simples, muito generoso.

Atleta de Cristo, não era?

Sim, sim. Respeito, mas não ligo muito. Ele falava muito com o plantel sobre isso e chegou a puxar o Joilton, por exemplo.

Germano, 6.

Epá, outro central?! Jogámos com três centrais, boa boa. O Germano era português, bom de bola com a escola de Vitória e Estrela. Parecia o Tonel, sabes? Ninguém dá por ele, mas faz o seu trabalho direitinho. Quando o Marco Aurélio saiu para o Sporting, o Germano ficou com o Dragan e continuou a ser um descanso para o União.

Rui Sérgio, 7.

Brasileiro, com bom remate, como o do Dinda. Lembras-te do Dinda, em Leiria?

Claro, um senhor pontapé.

Isso mesmo, amigo. O Rui Sérgio era igual.

Jokanovic, 8.

Não sei quem é, ahahahahahah. É a minha primeira época em Portugal.

Vieste de onde?

Kikinda, da 1.ª divisão jugoslava.

Como é que chegaste cá?

O meu empresário era o Bukovac, ex-jogador do Sporting, Farense, Estoril e Portimonense. Ele já era empresário de Iordanov, Balakov, Marco Aurélio, entre outros. Passou a ser também o do Joka.

Estou a ver os teus números, é divertido.

Ahahahahahah. Seis golos ou sete, não é?

Deixa ver. Sete, são sete.

Pois é, amigo. Fui o melhor marcador da equipa e nem era avançado.

Sete golos, cinco de penálti.

Três num só jogo, com o Salgueiros. Nem imaginas, o Madureira ficou todo lixado. Ele nunca acertou no lado da bola, ahahahahahah.

E o teu currículo disciplinar?

Baaaaaah.

16 amarelos e 4 vermelhos?!

Algum vermelho directo?

Nem um.

Pois amigo, é para veres.

Manu, 9.

Estilo Liedson, aquele ponta-de-lança baixinho, bem rápido.

Pedro Paulo, 10.

Muito bom tecnicamente, tipo Wendel do Sporting. Fazia passes longos de 30/40 metros com uma exactidão fantástica. Agora o futebol encurtou, só se joga em 20 metros. Mas, antes, desmarcavas o extremo se o visses isolado e o Pedro Paulo era lixado nessas transições.

Lepi, 11.

Rápido, forte.

Ernesto Paulo, o treinador.

Gostei muito do Ernesto, sabes? E vou dizer isto à vontade: se ele não passasse tanto tempo nos churrasquinhos e nas cervejinhas, seria top. O homem chegou à final do Mundial sub-20 em Lisboa, lembras-te? Era ele o seleccionador do Brasil que perdeu com Portugal nos penáltis. Só que o problema do Ernesto Paulo era o desleixo. Ele não dava treino e delegava a posta nos adjuntos. Às vezes, aparecia de óculos escuros. Agora ele via as coisas antes de acontecerem. Dizia-nos muito antes ‘vai ser assim e assim’ e era mesmo assim e assim.

Mil obrigados, Joka.

De nada, amigo. Grande abraço.

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