Que pagode, os Borussias

Kali Ma Mais 09/19/2020
Tovar FC

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Que pagode, os Borussias

Dortmund e M’Gladbach, que dupla. Borussias é o que é. Hoje jogam para a 1.ª jornada, tempos há em que esgrimem argumentos para a última. Como em 1977-78. Esqueça o que ouviu ou leu antes sobre goleadas e esquemas. Esta é a história
mais improvável do futebol.

O início de época do campeão M’Gladbach é desastroso, com apenas duas vitórias nas primeiras sete jornadas. Mas chega à última jornada empatado em pontos com o Colónia – este em vantagem por dez golos. No dia 29 Abril 1978, o Colónia visita o St. Pauli, enquanto o M’Gladbach recebe o Dortmund, em campo neutro
(Düsseldorf), porque o seu estádio (Bökelbergstadion, agora convertido em Borussia-Park, convertido ao capitalismo) está em obras. A fé move montanhas. E
pessoas. Por isso, 38 mil adeptos do M’Gladbach mobilizam-se a Düsseldorf
para o último acto daquela época.

O árbitro é um senhor chamado Ferdinand Biwersi, que nem tem tempo para guardar o apito no bolso mal inicia a partida. Jupp Heynckes, esse mesmo, o futuro treinador do Benfica, faz o 1:0 e engana Peter Endrulat, o guarda-redes
do Dortmund, suplente de Horst Bertram, que recuperara de uma grave lesão
a meio da semana mas sem direito a titularidade, como seria de esperar, por opção do treinador Otto Rehhagel, esse mesmo, o futuro desmancha-prazeres de
todo o Portugal no Euro-2004. Curiosamente, Endrulat sabe na manhã desse
jogo que o Dortmund não lhe renova o contrato.

Bem, adiante, 1:0 aos 44 segundos. Aos 12 minutos, Heynckes faz o 2:0. Aos 13’,
Nielson eleva para 3:0. Aos 22’, Dell’Haye festeja o quarto. Aos 32’, Heynckes completa o hat trick. E a meia dúzia surge aos 38’, por Wimmer. No outro jogo, o
Colónia ganha 1-0. Há esperança. “Só” faltam cinco golos. No balneário, Rehhagel tenta apelar ao orgulho da equipa e pergunta ao guarda-redes se está em condições de continuar. Endrulat diz que sim, mas agora está arrependido. “Quando hoje penso nisso, devia ter saído. Ao menos, era o Bertram que sofria aqueles seis golos. Tenho a certeza disso. Os meus golos foram indefensáveis e ainda defendi umas quantas bolas.”

Na segunda parte, a torneira dos golos continua aberta. Heynckes (7-0, aos 59’)
e Nielsen (8-0, 61’). É aqui que Rehhagel manda aquecer Sigfried Held mas este
recusa-se a participar naquele circo. “Acha mesmo que eu posso fazer a diferença neste jogo?” No meio de tanta conversa fiada, 9:0 de Del’Haye (66’), 10:0 de Heynckes (77’), 11:0 de Lienen (87’) e 12:0 de Kulik (90’). Acaba o jogo.

Festa do M’Gladbach, 12:0 é a maior goleada de sempre. Mas de nada vale porque o Colónia ganha 5:0 em St. Pauli e sagra-se campeão por três golos de diferença. No dia seguinte, Rehhagel (que levantaria a Taça das Taças-92 pelo Werder Bremen e o Euro-2004 pela Grécia, no estádio da Luz) é despedido e substituído
por Held, o tal que se recusara a entrar a meio da segunda parte, enquanto o
guarda-redes Endrulat vai pregar para outra freguesia (Tennis Berlim, da 2.a
divisão).

Borussias, que dupla. Antes, no dia 11 Setembro 1965, já haviam entrado na história do futebol alemão como intervenientes no único jogo com cinco penáltis (3:2 para o local M’Gladbach, 2:2 em remates certeiros e 4:5 de resultado final para o visitante Dortmund). Treze anos depois, o 12:0 em campo neutro. E hoje, qual será a excentricidade?

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