#5 Real Madrid 1954-55

Mais Spider Pig 12/04/2020
Tovar FC

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#5 Real Madrid 1954-55

Antonio Bernabéu é um dos sócios fundadores do Real Madrid e mete uma cunha para o irmão mais novo jogar nos juvenis. Os treinadores querem-no a guarda-redes, a vontade de Santiago como avançado é mais forte. De 1912 a 1927, marca 69 golos em 78 jogos e nunca chega à selecção – o mais perto é uma convocatória vs Portugal, em Dezembro 1922, numa altura sem substituições e em que a palavra suplente rima com ausente.

É soldado na Guerra Civil espanhola e regressa ao clube com um sentido cívico muito assertivo. É eleito presidente em Setembro 1943. Objectivos: erguer um novo estádio (Chamartín, a dar nome ao bairro), sanear as finanças e profissionalizar a estrutura. Pormenor, o Real Madrid é tudo menos uma potência espanhola. Clubes como Barcelona, Athletic e até Valencia acumulam mais títulos de campeão nacional. Até 1954. A partir daí, o futebol espanhol muda. E o europeu também.

Então? O Real Madrid sagra-se campeão espanhol pela terceira vez na sua história. Na época seguinte, os alicerces para a conquista do inédito bicampeonato prendem-se com uma única contratação, a do argentino Rial ao Nacional Montevideo. Consumado o único desejo de Bernabéu, o Real parte para o título. Ou não. A partida é falsa, com derrota em casa vs Valencia. Até à 10.ª jornada, o primeiro lugar balança entre Real Madrid, Barcelona e Sevilha. A partir da 11.ª, o Real assume a liderança isolada e ninguém o incomoda mais.

Há um factor mais decisivo que todos os outros. Em Janeiro 1955, uma comissão de honra do clube decide mudar o nome do estádio de Chamartín para Santiago Bernabéu. A metamorfose é simplesmente genial. Com a decisiva contribuição da ala dos argentinos– além de Rial, há Di Stéfano e Olsen. Duas figuras míticas, goleadores até mais não. Se a eles juntarmos o cérebro de Molowny e a velocidade de Gento, a concorrência é nula.

Acredite, é o título de campeão mais importante da história. Porque lhe permite o apuramento para a recém-criada Taça dos Campeões. Na primeira edição, o Real conquista-a com brilhantismo numa final renhida vs Stade Reims (4:3). Na época seguinte, Kopa chega a Madrid via precisamente Stade Reims. No seu currículo, um título continental (a Taça Latina-53, conquistada em Lisboa, com dois golos da sua autoria na final vs Milan) e a presença no Mundial-54. No seu jogo de apresentação, o Sochaux apanha 14:1. Sim, catorze. Kopa demora só 260 segundos para acertar com a baliza. De nacionalidade polaca, perdeu o dedo mindinho aos seis anos, como trabalhador numa mina de carvão. Isso não o impede de qualificar o Madrid para a final da Taça dos Campeões 56/57, ganha à Fiorentina por 2:0 no Santiago Bernabéu.

A Europa é do Real. Un dos, falta o trés. Olhe que não, olhe que não. Quem tem Di Stéfano, tem tudo. Contratado por portas e travessas numa acesa discussão com o Barcelona, o avançado argentino estreia-se vs Nancy. Marca um golo. E? Os adeptos torcem-lhe o nariz, acham-no gordo. Nascem as primeiras dúvidas. E, simultaneamente, as últimas. “Nunca o vi jogar mal”, recorda Gento. Seis meses depois, Di Stéfano marca quatro golos ao Barcelona. Luis Suárez define-o de forma perfeita: “Foi o primeiro jogador total. Era avançado, mas organizava o jogo e até defendia.” Nessa época 1957/58, Di Stéfano é o melhor marcador da Taça dos Campeões, com dez golos, um deles na final ao Milan (3:2, após prolongamento). No final do ano, recebe a Bola de Ouro da France Football.

A época 1958-59 traz uma novidade extraordinária. Chamam-no Major Galopante porque o Honved é a equipa do Exército e todos os seus jogadores preenchem cargos notáveis, como o de Major para Puskas. Em 1956, a URSS invade a Hungria e apanha Puskas em digressão por Espanha. Deserta, pois claro. É acusado de tudo e mais alguma coisa pelo regime comunista e a FIFA suspende-o por dois anos. Quando o castigo acaba em Julho 1958, Puskas tem 31 anos e 18 quilos a mais. O desinteresse dos grandes clubes é total. Menos o do Real Madrid. Quando o presidente do Honved disse a Bernabéu que Puskas é superior a Di Stéfano, cai o carmo e a trindade. Contratado, Puskas impõe-se com uma categoria finíssima. E é melhor marcador da 1.ª divisão espanhola por quatro ocasiões. Di Stéfano diz de sua justiça (e bem): ‘Joga melhor com o pé esquerdo do que eu com a mão.’ Faz parte da equipa do quarto título europeu seguido, 2:0 vs Stade Reims.

Só mais um, só mais um. É o penta europeu. E é mesmo. A era de ouro do Real é fechada com um monólogo sensacional vs Eintracht Frankfurt em Glasgow, testemunhado por 135 mil espectadores – um deles é Alex Ferguson, então com 18 anos de idade. “A bola deve ter saído de campo umas cinco vezes, se tanto… Foi um jogo mágico, revolucionário, que os meus olhos nunca sonharam ver.” Em hora e meia, o Madrid desfaz o campeão alemão com quatro golos de Puskas e três de Di Stéfano. A vitória está entregue aos 56 minutos (4:1) mas as pessoas não arredam pé. Naturalmente. Aquilo é como Bobby Charlton diz: “O meu primeiro pensamento foi achar que tinha sido mentira, um filme fantástico, porque aqueles 22 jogadores fizeram coisas que não são possíveis, não são reais nem humanas.’

E tudo começa na conquista da tal Liga espanhola 1954-55, é incrível.

(a negrito, os jogos fora)

1. Sevilha 1:2Rial
2. Real Sociedad     3:1 Rial Di Stéfano (p) Mateos
3. Las Palmas 7:0Di Stéfano (3) Joseíto (2) Rial Duran
4. Hércules                         1:1Joseíto
5. Málaga 4:1Di Stéfano Joseíto Duran Gento
6. Sevilha                         0:1  x
7. Racing 3:0Gento Muñoz Rial
8. Alavés              4:2Payá (2) Di Stéfano Berasaluce (pb)
9. Athletic 3:1Rial Payá Muñoz
10. Espanyol       3:1 Di Stéfano (2) Joseíto
11. Barcelona 3:0Di Stéfano Rial Joseíto
12. Celta                               1:1 Marquitos
13. Deportivo 5:1Payá (3) Di Stéfano (2)
14. Atlético 1:0Atienza
15. Valladolid                    1:0Rial
16. Valencia        3:1Di Stéfano (2) Olsen
17. Real Sociedad 1:1Rial
18. Las Palmas                   1:1Molowny
19. Hércules 3:0Di Stéfano (2) Molowny
20. Málaga                          1:3Di Stéfano
21. Sevilha 3:1Rial (3)
22. Racing             4:0Rial Molowny Olsen Di Stéfano
23. Alavés 4:1Molowny (2, 1 p) Rial Anchía (pb)
24. Athletic                   0:2x
25. Espanyol 5:1Di Stéfano (4) Rial
26. Barcelona  2:2Gento (2)
27. Celta 5:1Rial Di Stéfano Molowny (p) Olsen Gento
28. Deportivo    3:3Gento Rial Di Stéfano
29. Atlético 4:2Di Stéfano (2) Rial Olsen
30. Valladolid 1:0Rial
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