Great Scott #208: Quem ganha a primeira edição experimental da Supertaça?
Boavista
O ciclismo português está de ressaca. O jovem Marco Chagas, de 22 anos, ganha a Volta a Portugal, em Loulé. Uma semana depois, um telefonema da federação retira-lhe o título e a camisola amarela. Essa voa para Joaquim Santos. É o doping a fazer mossa, mais uma vez.
O futebol português está de ressaca. Na sequência da pior época de sempre nas competições europeias até então (78-79), com apenas três vitórias em 12 jogos, a federação reage com energia e propõe a organização da Supertaça a título experimental. Um jogo entre o campeão nacional (Porto de Pedroto) e o vencedor da Taça de Portugal (Boavista de Hagan). Estamos em Agosto 1979 e nem todos os intervenientes da época anterior saltam para a seguinte. É o caso do treinador inglês, substituído por Mário Lino.
A dois dias do jogo, as duas equipas juntam-se no Bessa para a Taça Amizade. Fala-se na apresentação oficial de Albertino, a sensacional transferência de Verão, do Boavista para o Porto. Tal não acontece. O jogo é um fiasco só visto. Nem uma nem outra apresentam o melhor onze. Os adeptos pagam (e bem) os bilhetes e sentem-se defraudados. Veja lá quantos conhece do Porto entre Torres, Vieira, Lima Pereira, Duda, Cerqueira, Quinito, Sousa, Jaime Pacheco, Malheiro, Vital e Serginho.
Então e o Albertino? Pois é, por acordo dos dirigentes dos dois clubes, com o beneplácito da federação, há dois dérbis em três dias. O primeiro designa-se Taça Amizade, o outro Supertaça. Um é no Bessa, o outro nas Antas. Ambos oficiosos. Insistimos, então e o Albertino? Está de molho para a estreia a valer na nova casa, nas Antas. E a Taça Amizade, acaba como? Um-um, golos de Júlio e Sousa. E mais? Mais nada. As duas equipas não querem prolongar a agonia do mau espectáculo e recusam penáltis. A Taça Amizade está por entregar.
Dois dias depois, a uma sexta-feira, dia 17, lá temos o Albertino de azul e branco. Ao seu lado, dez ilustres: Fonseca, Jacinto, Simões, Rodolfo, Murça, Frasco, Romeu, Quinito, Gomes e Costa. No lado do Boavista, aparecem nomes como Matos, Barbosa, Adão, Artur, Taí, Óscar, Eliseu, Ailton, Salvador, Moinhos e Júlio. Este último seria o destaque dessa noite. Antes do primeiro minuto, o 1-0 é dele. Ataque pela direita de Taí e toma lá disto ò Fonseca.
É o mote para uma noite de glória boavisteira. Aos 62’, o mesmo Júlio repete a dose e o Porto entra em parafuso. Os seus jogadores batem em tudo o que mexe e provocam semi-batalhas campais. O árbitro Silva Pereira expulsa os boavisteiros Queiró e Barbosa nos últimos cinco minutos. Nem assim o Porto assusta Matos, autor de uma defesa ao penálti de Gomes antes de Romeu ter fixado o marcador.
Quando acaba o jogo, o Boavista festeja o triunfo como se fosse a primeira vez. Acredite, é mesmo a primeira vez. Desde 1936 até 1979, só dois empates em 22 jogos para a 1ª divisão. A noite é do Boavista. Ou então, não. Os adeptos do Porto não aceitam a derrota e impedem mesmo o capitão boavisteiro de subir ao camarote presidencial para receber a taça. Ou melhor, a supertaça. Esta só é entregue no balneário do Boavista, ligeiramente mais tarde.
Um caso a fazer parecer o do Uruguai campeão do mundo em 1950, no Maracanã. Diz o herói Ghiggia, autor do 2-1 sobre o Brasil. “Não só baralhei os brasileiros como ainda obriguei o Jules Rimet [presidente da FIFA] a fazer um caminho inesperado. Para não correr riscos, ele [com 79 anos] desceu para o relvado quando ainda havia 1-1, escoltado pela polícia. Quando chegou ao relvado, já não estava lá nenhum jogador. Por isso recebemos a taça no balneário. Foi a primeira e única vez.” Como aqui, nas Antas. É a estreia e a Supertaça já está de ressaca, tsss tsss.