#14 Elvas 1947-48

Nunca visto, jamais repetido. É caso único no futebol português, o Elvas em 1947-48. Nasce em Agosto 1947 e começa a jogar na 1.ª divisão daí a três meses, sem passar pelo escrutínio das divisões inferiores.

E porquê? Porque o O Elvas Clube Alentejano dos Desportos é o resultado da vontade de dois clubes da terra com problemas económicos, o Sport Lisboa e Elvas (filial do Benfica) e o Sporting Clube Elvense (filial do Sporting). Como o SL Elvas joga na 1.ª divisão, o novo Elvas ocupa o seu lugar sem mais demoras. E, espante-se, causará sensação no decorrer dessa época.

Para início de conversa, o Elvas acomoda um avançado centro faz favor. Chama-se Patalino e é, ainda hoje, o único natural de Elvas a representar a selecção nacional, lançado por Armando Ferreira vs Gales em Maio 1949 – é também o único jogador do Elvas a jogar por Portugal. Na época 1947-48, Patalino inscreve quatro bis, um hat-trick e um póquer. Ao todo, 24 golos. É o quarto melhor da 1.ª divisão, atrás de Peyroteo (Sporting 43), Jesus Correia (Sporting 29) e Teixeira da Silva (Belenenses 25).

À baliza, o português Semedo. A meio da época, aparece a novidade mais espantosa de todo o sempre. Quer dizer, um guarda-redes do Real Madrid contratado pelo Elvas é do além. Chama-se Daniel Calleja, um basco de Tolosa (tal como Xabi Alonso). Como vive ao lado do estádio do Tolosa, onde joga a equipa da casa e decorrem anualmente os Nacionais de atletismo, Calleja agarra-se ao desporto como todos os miúdos da terra. E vai à baliza, como mais ninguém. Faz-se porteiro de categoria. Faz a tropa em Logroño e assina pelo Logroñés. Depois anda pelo Reus, da 3.ª, e Racing, da 2.ª, antes de chegar ao Real Madrid para a época 1947-48, como substituto de Bañón, retirado do futebol aos 27 anos de idade por um cancro nos pulmões.

A estreia de Calleja é vs Real Sociedad no Metropolitano. ?Como? Asi és, o Real joga na casa do Atlético Madrid até à estreia do Chamartín (agora Santiago Bernabéu). O primeiro dia é glorioso, convida-se o Belenenses. Esse mesmo. Estamos em Dezembro 1947 e o Real ganha 3:1. Calleja, titularíssimo, sofre o 1:1 de Teixeira da Silva. Antes dessa tarde, Calleja dá as suas casas como o 5:0 no dérbi vs Atlético. Ou o 7:1 em Oviedo. Ao todo, sofre 16 golos em tão-só seis jogos. É encostado. Sem lugar no onze, vai pregar para outra freguesia e encontra no Elvas um clube perto de casa e a jogar na 1.ª divisão. Pega de estaca, joga toda a segunda volta e é actor de duas vitórias fascinantes.

A primeira na casa do Benfica, a três jornadas do fim. Acaba 2:1 no Campo Grande, bis do inevitável Patalino aos 4 e 34 minutos. Daí para a frente, só dá Benfica. Os jogadores do Elvas jogam todos encolhidos, dentro da própria área. Calleja é herói com um par de defesas inverosímeis. Se o Benfica pontuasse (basta o empate), ultrapassaria o Sporting, também ele derrubado nesse domingo, 9 Maio 1948, em Setúbal (1:0). Assim, o Sporting mantém a liderança com um golo à maior, situação que se manteria nas duas jornadas seguintes.

A segunda vitória fascinante é a maior goleada dessa 1.ª divisão, um apelativo 12:1 vs Académica, já então relegada para a 2.ª divisão. É o tal jogo do póquer de Patalino. E ainda dos quatro bis a cargo de Vieira, Casimiro, Massano e Rafa. Duas semanas depois, já para a primeira eliminatória da Taça de Portugal, o resultado engorda para 13:0 vs Desportivo Faro (ao intervalo, 3:0). Imagine-se, há três hat-tricks (Massano, Patalino, Rafa), um bis (Rebelo) mais uma contribuição de Vieira e outra de Casimiro.

(a negrito, os jogos fora)

• FC Porto                0:4
• Lusitano VRSA      7:0 Patalino-3 Rebelo-2 Massano Ângelo
• Atlético                  2:5 Ângelo Massano
• Sporting                  1:2 Patalino
• Estoril                    2:8 Gomes Massano
• Vitória SC               3:0 Patalino-2 Vieira
• Boavista                  5:0 Massano-3 Patalino Vieira
• Olhanense             2:2 Vieira Ângelo
• Braga                      3:1 Massano Ângelo Patalino
• Belenenses           1:1 Patalino
• Benfica                    3:6 Vieira Massano Ângelo
• Académica            1:2 Vieira
• Vitória FC               2:1 Rebelo Massano
• FC Porto                 2:4 Patalino Ângelo
• Lusitano VRSA     1:2 Massano
• Atlético                    5:3 Patalino-2 Vieira-2 Massano
• Sporting                1:2 Patalino
• Estoril                      4:1 Vieira Gomes Rafa Patalino
• Vitória SC              1:7 Massano
• Boavista                0:2
• Olhanense              3:1 Vieira-2 Massano
• Braga                     1:4 Massano
• Belenenses             2:1 Patalino-2
• Benfica                  2:1 Patalino-2
• Académica              12:1 Patalino-4 Vieira-2 Casimiro-2 Massano-2 Rafa-2
• Vitória FC              0:2