2003, Maiorca vs Real Madrid

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Tovar FC

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2003, Maiorca vs Real Madrid

A surpresa é enorme. Vicente del Bosque, campeão espanhol em 2001, europeu e mundial em 2002, novamente espanhol em 2003, é despachado do Real Madrid. Coisas do presidente Florentino Pérez. Juntamente com o director-geral Jorge Valdano, os dois acertam o novo treinador, um português chamado Carlos Queiroz. Para adjunto, Nelo Vingada. Não, nada disso. O homem recusa. Acciona-se o plano b, José Peseiro.

A estreia de Queiroz é em Maiorca, para a primeira mão da Supertaça espanhola. No outro lado do banco, outro português. É ele Jaime Pacheco. É uma noite de Verão, na ilha. Até parece que o Madrid joga em casa. O autocarro da equipa chega ao estádio e é uma histeria pegada com aplausos, palmas, pancadas amigáveis no veículo, beijos ao sabor do vento, abraços imaginários, saltos no ar. A maior parte desta gente são teenagers conscientes a praticar actos inconscientes.

Indiferentes a toda esta acção do lado de cá, os jogadores acenam mecanicamente para as fervorosas adeptas enquanto levantam-se do assento, com muito cuidado não vá o walkman cair do colo, e encaminham-se para a porta. Cá fora, o carnaval continua. E eles saem à vez. Queiroz, Peseiro, Raúl, Casillas, Michel Salgado, Guti, Cambiasso, Figo, Roberto Carlos, Zidane, Ronaldo, Beckham.

No palco de Son Moix, os anfitriões cedem primeiro (Figo, aos 18 minutos) mas rectificam por Bruggink (45’) e adiantam-se por Eto’o (47’). Acaba 2-1 para o Maiorca mas ainda falta a segunda mão, no Santiago Bernabéu. Para muitas maiorquinas, isso não interessa para nada. Cada vez que Beckham toca na bola é um delírio. Cada acrobacia de Zidane ou Figo é uma festa. Um fair-play notável. O mesmo já não sucede com a imprensa. A de Madrid, salvo seja, porque a de Barcelona é sempre demasiado cáustica, cega, sem razão e agarrada ao antimadridismo.

O “As”, por exemplo, fala de “caos táctico na táctica de Queiroz” e vai mais longe. “Nada mudou dum ano para o outro. O Maiorca continua a ganhar ao Real Madrid. Jaime Pacheco mostrou ao mundo como se ganha aos ‘galácticos’: trabalhando muito.” E vai mais longe na apreciação: “Queiroz está confuso. Forma mal a equipa e ainda não entende como é que Cambiasso é titular e Makelele não. Para mim, falta qualquer coisa a Queiroz e não me admirava nada se Del Bosque regressasse”. A “Marca” é mais ligeira. “Queiroz variou de esquema e confundiu o Real Madrid. Makelele não se treina e joga; Raúl Bravo entra para central quando não o é; Figo a médio-direito, quando nunca desempenhou esse papel nos quatro jogos da pré-época; Zidane na esquerda quando o futebol agradecia que voltasse ao meio. Mas Queiroz não é o único culpado. O Maiorca, bem treinado por Jaime Pacheco, aproveitou bem o despiste colectivo do Madrid.”

Nas bancadas, um sorridente John Toshack fala pelos cotovelos e diz-se admirador de Jaime Pacheco. “Já o conhecia como jogador, pois treinei-o no Sporting em 1984. Pensei logo que poderia dar um bom treinador, porque sabia ler bem o jogo, e era uma pessoa que se dava bem com toda a gente.” E é Jaime Pacheco quem faz a festa. Na conferência de imprensa, o técnico responde às perguntas e despede-se dos jornalistas com um sorriso aberto e uma continência seguida de uma marcha.

Os 20 repórteres presente chamam-no logo General Pacheco e há até um canal televisivo que pede bis para filmar e colocar no ar. Pacheco não aceita o repto, em defesa da espontaneidade. A mesma que lhe garantira o título de campeão nacional pelo Boavista em 2001 e também aquela que lhe trai no Santiago Bernabéu, onde o Madrid se impõe a um aventureiro Maiorca por 3-0, com golos de Raul (45’), Ronaldo (52’) e Beckham (72’). Com o acerto táctico na escolha do meio-campo ofensivo com Beckham na direita, Zidane no meio e Figo na esquerda, chega o primeiro (e único) título de Queiroz em Madrid.

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